Que fique claro que a culpa é nossa. Do cidadão comum, do adepto comum e do jornalista comum. E também dos jogadores comuns como Bas Dost, que pôs o dedo na ferida com uma frase humilde, um raro momento confessional só ao alcance de um desportista de eleição. Proferiu o holandês uma grande verdade no que lhe diz respeito e no que, inegavelmente, diz respeito a 9 milhões de portugueses do continente e das ilhas e a mais uns quantos milhões espalhados pelo Mundo: "Entendo 20 a 30% do que Jorge Jesus diz." Nós também, Bas Dost!
E, ao contrário de ti, que és um estrangeiro calmeirão e simpático mal acabado de chegar desses países baixos, nós, que somos portugueses de gema desde que nascemos, também só entendemos 40 a 50% do que diz o teu treinador, que é tão português como o resto do pessoal nativo mas que, por capricho, teima em expressar-se de modo a obrigar constantemente o diretor de comunicação do seu patronato a vir traduzir por miúdos a verdadeira essência do seu fulgor retórico.
É incrível como, num país que retira ‘Os Lusíadas’ dos currículos escolares porque a nossa juventude estudantil já não consegue atinar com o português do século XVI, sermos agora confrontados com a triste notícia da inépcia geral da nossa população perante o português do século XXI tão críptico, ao que parece, como o do poeta maior da Pátria, morto e enterrado há bué. Leitores, perceberam o ‘bué’? Ótimo, nem tudo está perdido…
Tudo isto a propósito, como já terão suspeitado, da péssima interpretação que foi dada – por ignorância ou por pura malícia – às palavras de Jorge Jesus mal acabou o FC Porto-Sporting . Cabe na cabeça de alguém minimamente fluente na nossa língua concluir que o treinador do Sporting quis, de algum modo, atribuir as culpas da derrota a um tal João Palhinha ou que quis, também de algum modo, estabelecer comparações cruéis entre os desempenhos de Casillas e de Patrício na noite do Dragão ou que quis, do mesmo modo, desembaraçar-se de qualquer tipo de responsabilidade em mais um insucesso evocando as fatais – e tão camonianas – maravilhas da ‘formação’ esforçadamente levada a cabo em Alcochete?
Não, Bas Dost, não és só tu que tens dificuldade em compreender a 40% as palavras do míster. Nós também só atingimos pouco mais de metade e isto nos dias bons. Bem fez o assessor de comunicação do Sporting em retirar o treinador da flash-interview quando este se aprestava a mais uma estrofe sobre os seus valorosos e esforçados jogadores perante a perplexidade do pobre entrevistador. "Saia já daqui que isto é dar pérolas a porcos!" E foi isso mesmo que o míster fez, em nome do bom senso e da literacia nacional.
Até veio a galinha preta a que Peseiro não teve direito.
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