Luciano Amaral

Professor universitário

Optimismo Salvador

22 de maio de 2017 às 00:30
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Parece que agora é obrigatório ser-se optimista. Eu, que acho o optimismo uma forma de estupidez – como o pessimismo, aliás (não é possível que corra sempre tudo bem nem tudo mal), tenho de divergir da onda.

Dos famosos três F ressuscitados há pouco, podemos começar pelo futebol. Como sou do Sporting, ver aquelas pessoas de vermelho, quando tinham uma camisola listada de verde e branco muito mais bonita ali ao lado, deixou-me triste (por elas, claro). Quanto a Fátima, como sou agnóstico, interessa-me sobretudo enquanto objecto de observação, pelo que fiquei essencialmente indiferente. E indo ao fado, eu que sou melómano e até, modestamente, músico amador, fiquei pouco entusiasmado por Portugal vencer um certame musical hediondo. A canção é engraçada, e foi por isso que se destacou no desfile de horrores. Mas que glória há em vencer aquilo? Pobre Salvador: vai ficar agarrado a ‘Amar pelos Dois’ quando tem material muito mais válido – veja-se o disco ‘Excuse Me’.

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Onde chegamos ao célebre crescimento económico de 2,8%. Sendo a maior parte do meu tempo profissional dedicada ao estudo da história económica de Portugal, também não me pareceu grande feito. A estimativa rápida do INE só deu o número do crescimento. Quanto ao mais, fez notas qualitativas: as exportações cresceram, o investimento também, mas o consumo abrandou. Ora, os últimos números disponíveis, de 2016, mostram o consumo e as exportações de bens com crescimento modesto. O grande crescimento esteve nas exportações de serviços, que se resumem numa palavra: turismo.

Portugal não está mais competitivo, está a beneficiar de uma moda. E se o investimento cresce, é sobretudo pelo imobiliário, onde há nova bolha, à sombra do alojamento (para turistas, precisamente).

Os optimistas que se entretenham entre si. Mas deixem os outros em paz, sff.

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