Na imprensa ou na autopropaganda em programas da RTP1, vai grande a festa sobre a "nova" programação do canal. Estes anúncios costumam ser como promessas de políticos, mas, como o administrador que interfere nos conteúdos é um protegido de sempre em certos media, não admira que esses media depois se esqueçam de escrutinar as promessas dos programadores.
Na verdade, a RTP1 começou 2017 com mais episódios de telenovelas do que a TVI. Tem cinco por dia, um em estreia (‘O Sábio’), os outros em repetição ou reposições. A TVI está com quatro episódios por dia e a SIC com sete.
Pelo menos seis programas da RTP1 são adaptações de produtoras ou canais privados estrangeiros: ‘A Minha Mãe Cozinha Melhor que a Tua’, ‘Sim, Chef!’, ‘O Preço Certo’, ‘The Big Picture’, ‘Ministério do Tempo’ e as impagáveis Televendas, sem contar com ‘The Voice’. Claro que, ao passarem para a RTP1, todos estes programas de privadas se transformam, qual milagre das rosas, em "serviço público".
O grosso dos programas diários é semelhante e pretende concorrer com os privados: os programas de conversa ‘A Praça’ e ‘Agora Nós’ coincidem em grande medida com os idênticos da SIC e da TVI.
Na informação apresenta mais programas, mas a sua duração temporal é pouco superior à da concorrência, além de que inclui programas que, parecendo jornalísticos, são magazines informativos favoráveis às entidades e empresas em foco.
Com tão extraordinário empenho em "serviço público", decerto a empresa fará este ano um esforço para aumentar o orçamento para conteúdos, ou não? Não. O Plano de Actividade para 2017, a que tive acesso, prevê uma diminuição de 90 para 83 milhões de euros para programas, menos 7 milhões, quase menos 8%. Já as despesas com pessoal aumentam um milhão de euros em 2017 e o parque automóvel receberá dois novos veículos, pois o importante é manter a RTP a mexer.
O Plano, com promessas bestiais, fala da "adopção de estratégias de maximização de receitas mercantis", o que fica sempre bem a um operador de "serviço público", mas os números não acertam com a promessa: a RTP prevê perder este ano 15% das receitas publicitárias, o que não a preocupa, pois receberá mais 3% dos nossos bolsos, aumentando as receitas com a taxa para 173 milhões.
As receitas não alteram esta realidade: a RTP mantém-se, do ponto de vista contabilístico, tecnicamente falida, com o passivo superior ao activo. Se fosse privada, já tinha fechado. Mas tudo bem: só perdeu 53,5 mil espectadores em média de 2014 para 2016. Haja alegria, porque é uma perda idêntica à da SIC e inferior à da TVI. Que ao menos alegrem a RTP as desgraças alheias.
Da glorificação à mentira
O Estado impõe, mas o povo é que escolhe
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