Marisa Matias acusa Nuno Melo de não ter "a sensibilidade de perceber as suas funções"
Dirigente do BE defende que as declarações deo ministro da Defesa "não desautorizam apenas um país, mas desautorizam também o próprio Governo".
A dirigente do BE Marisa Matias acusou esta segunda-feira o ministro da Defesa e presidente do CDS-PP de não ter a "sensibilidade de perceber as suas funções" e de ter colocado em causa os esforços da diplomacia portuguesa.
"Ter um ministro da defesa numa posição tão sensível, que parece nem sequer representar as posições do governo, eu pergunto-me se tem condições para ser ministro da Defesa? E parece-me que não. Nós não podemos ter numa pasta tão sensível alguém que não tem sequer a sensibilidade de perceber as suas funções e o que é esperado das suas funções", defendeu Marisa Matias, à margem de uma ação de campanha para as autárquicas de dia 12, em Vila Nova de Gaia, distrito do Porto.
Esta segunda-feira, em Ponte de Lima, o presidente do CDS-PP afirmou que não vai "dar mais para o peditório" do que apelidou de "número" dos ativistas portugueses da flotilha humanitária e aconselhou-os a concentrarem-se nas eleições autárquicas.
Marisa Matias, que falava ao lado do líder do Livre, Rui Tavares, defendeu que as declarações de Nuno Melo, inclusive enquanto os ativistas ainda estavam detidos em Israel, "não desautorizam apenas um país, mas desautorizam também o próprio Governo".
A bloquista confessou que espera "muito mais do Governo", nomeadamente sanções a Israel e ajuda humanitária, entre outras medidas, mas realçou estar em causa algo além disso, acusando Melo de colocar em causa os esforços da diplomacia portuguesa para trazer de volta os quatro cidadãos.
"Desde que houve a detenção dos quatro tripulantes portugueses, o Governo e outro ministério e a diplomacia portuguesa empenharam-se para trazê-los para Portugal o mais depressa possível. E ao mesmo tempo que isto estava a acontecer da parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da diplomacia portuguesa, temos um ministro da Defesa que estava a dizer a Israel e as autoridades israelitas que podiam fazer com os tripulantes portugueses o que entendessem, que podiam abusar deles, se fosse esse o caso, porque eles não mereciam proteção", criticou.
Marisa Matias defendeu que "o que se espera de um ministro da Defesa é que cumpra o seu papel".
"E o seu papel é ser ministro da Defesa, é defender aquelas pessoas, garantir que elas chegam em segurança e que são protegidas", sublinhou.
A bloquista insurgiu-se ainda contra comentários e líderes partidários que tentam educar a sociedade "para o adormecimento dos corações, para nos tornarem indiferentes ao sofrimento humano, para tornarem esta questão como se fosse uma questão de campeonato de quem ganha e quem não ganha, de quem está e de quem não está".
Marisa Matias congratulou-se com a mobilização popular em Portugal e no mundo sobre o tema e, apesar de lamentar que a ajuda humanitária da flotilha não tenha chegado, considerou que a missão "chamou a atenção e tornou ainda mais visível a hipocrisia do que está a acontecer no mundo".
A antiga candidata à Presidência da República disse ter visto "com alívio e emoção" o regresso a Portugal da coordenadora nacional do BE, Mariana Mortágua, e dos restantes três ativistas, "mas com a noção de que temos uma missão pela frente ainda muito longa".
Os portugueses que fizeram parte da flotilha humanitária Global Sumud aterraram esta domingo, por volta das 22:30, no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, onde eram aguardados por familiares e apoiantes pró-Palestina.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, a atriz Sofia Aparício e os ativistas Miguel Duarte e Diogo Chaves estavam detidos, em Israel, desde a noite de quarta para quinta-feira passada, quando as forças israelitas intercetaram as cerca de 50 embarcações da Flotilha Global Sumud, que pretendia entregar ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
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