Parlamento assinala a Revolução
Sessão solene na Assembleia abre com cante alentejano.
O cante alentejano marcou este sábado o início da cerimónia solene de comemoração do 25 de Abril na Assembleia da República, com o tema "Grândola, vila morena" a ser entoado das galerias por um grupo coral de Serpa.
A flor que simboliza o 25 de Abril está a ser usada na lapela por vários membros do Governo, a começar pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que, na bancada reservada ao executivo, está sentado em frente ao líder do maior partido da oposição, o secretário-geral do PS António Costa, também de cravo vermelho ao peito.
"Celebração da política como liberdade"
A presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, sublinhou este sábado que o 25 de Abril é a "celebração da política como liberdade", e classificou a crise dos últimos anos "como a ponta do 'iceberg' de um mundo em mudança".
"Abril é por isso mesmo a celebração da política como liberdade que se exerce, como esperança, como força emancipadora. Que nos diz que somos senhores do nosso destino e autores do mundo", afirmou Assunção Esteves, na sua intervenção na sessão solene comemorativa do 25 de Abril na Assembleia da República.
Para a presidente da Assembleia da República (PAR), essa responsabilidade é agora maior à luz dos acontecimentos contemporâneos, que tornam necessários "a instituição de uma sociedade universal".
"Entendimentos nas áreas fundamentais"
O ex-presidente da República Ramalho Eanes defendeu este sábado a necessidade de entendimentos em áreas fundamentais e considerou que sem liberdade e igualdade de oportunidades a democracia torna-se "uma designação de fachada".
Questionado se concordava com as referências ao consenso, feitas pelo Presidente da República, Cavaco Silva, no seu discurso na sessão solene no 25 de Abril, o general Ramalho Eanes disse não querer falar especificamente em entendimentos entre PS e PSD mas considerou natural que haja compromissos nas áreas essenciais.
"Não devemos ter problemas em nos entendermos no fundamental, é evidente que o consenso absoluto é negativo, a democracia é a contradição, o conflito, a dialética, mas sobre o que é fundamental devemos entender-nos para que seja melhor o presente e sobretudo o futuro", defendeu, em declarações aos jornalistas, após marcar presença na sessão solene comemorativa dos 41 anos do 25 de Abril, na Assembleia da República.
PSD defende "novos consensos"
O deputado social-democrata Fernando Negrão defendeu que o país precisa de "novos consensos" de médio e longo prazo e apontou que o bem-comum exige a refundação da "subordinação do poder económico ao poder político" consagrada na Constituição.
"O bem comum exige que, claramente, refundemos e reafirmemos a subordinação do poder económico ao poder político consagrada na nossa Lei Fundamental", afirmou Fernando Negrão, que interveio em nome do PSD na sessão solene do 25 de Abril.
Na sessão de comemoração dos 41 anos do 25 de Abril, no parlamento, Negrão defendeu a necessidade de se procurar "a transparência onde ainda imperam zonas de sombra que diminuem o alcance da lei e da justiça", e considerou que o fim do programa de assistência marca um antes e um depois.
CDS-PP critica quem levou país à bancarrota
O deputado do CDS-PP Michael Seufert defendeu que é legítimo perguntar àqueles que nos últimos quatro anos se insurgiram contra alegadas traições à revolução dos cravos, não onde estavam no dia 25 de Abril, mas onde estavam "quando Portugal foi conduzido à bancarrota".
"Se nos últimos quatro anos ouvimos de forma quase-habitual vozes que vinham reclamar a 'pureza de Abril', os 'valores de Abril' ou chegaram até a apontar um dedo aos que, diziam eles, 'traíam' Abril, então é legítimo perguntar-lhes não 'aonde é que tu estavas no 25 de Abril?' mas 'onde é que tu estavas quando Portugal foi conduzido à bancarrota?'", defendeu.
Numa intervenção de cerca de 12 minutos, o deputado do CDS-PP disse pertencer a uma geração a quem a dívida limitou a liberdade.
PS defende "primado da política"
O deputado socialista Miranda Calha fez este sábado uma veemente defesa do "primado da política" perante "extremismos populistas" e a "economia especulativa" e sustentou que a substância democrática da Constituição será "confirmada" nas próximas eleições legislativas e presidenciais.
"Porque o primado da política, num tempo em que extremismos populistas ameaçam a Europa e em que a crise económica leva a desilusões sem retorno, é cada vez mais necessário. O primado da política enquanto primado da escolha e da decisão, mas de uma escolha clarividente e informada, da escolha de uma estratégia e de ideias sólidas para o futuro e não uma escolha por entre taticismos breves e sem conteúdo", declarou o antigo secretário de Estado de governos liderados por Mário Soares e António Guterres.
Miranda Calha, vice-presidente da Assembleia da República e deputado da Assembleia Constituinte eleita em 1975, falava no parlamento na sessão solene comemorativa dos 41 anos da revolução de 25 de Abril de 1974.
PCP, BE e PEV contra políticas de direita
O PCP, BE e Verdes acusaram este sábado os sucessivos Governos de desvirtuarem as conquistas do 25 de Abril e os "executantes da política de direita" de quererem manter a austeridade, uma crítica estendida pelo BE ao Presidente da República.
Na sua intervenção na sessão solene do 25 de Abril, na Assembleia da República, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, criticou os que apresentam a austeridade "como o alfa e o ómega, o princípio e o fim de todas as escolhas".
"E é pela voz do próprio Presidente da República que chega mais insistentemente esta ladaínha. Quando tenta impor o consenso na austeridade inscrito à partida nos programas eleitorais, quer uma democracia tutelada. Na chantagem para uma maioria absoluta, qualquer que seja o veredicto popular, quer uma democracia condiciona", criticou.
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