Partidos divergem quanto a reprivatizaçãoda TAP mas defendem importância da companhia
Empresa estatal Parpública já confirmou que recebeu "três declarações de manifestação de interesse" pela privatização da TAP.
Os partidos com assento parlamentar voltaram esta quinta-feira a divergir quanto à proposta de reprivatização da TAP do Governo de Luís Montenegro, mas todos destacaram a importância da companhia para o país, independentemente de ser pública ou privada.
Na sessão plenária desta quinta-feira foram debatidos os projetos de resolução da Iniciativa Liberal, PCP, Chega, PAN e PS sobre o processo de privatização da TAP e a compra de ações por parte dos trabalhadores.
O deputado Rodrigo Saraiva da Iniciativa Liberal lembrou que foram injetados na companhia 3.200 milhões de euros "de dinheiro dos contribuintes, que ainda não voltou" e pediu coragem política para avançar com a privatização.
"Não se privatiza por partes [...], mas por inteiro para poupar dinheiro aos contribuintes", referiu.
Por sua vez, Paula Santos do PCP pediu que se evite o "crime económico" de privatização da TAP, assinalando que todos estes processos terminaram com a necessidade de resgatar a transportadora.
Paula Santos disse ainda que os "animadores da privatização da TAP" tendem a desvalorizá-la e questionou: "alguém acha que se a TAP não tivesse um enorme valor haveria interesse na sua privatização?"
Já o deputado do Chega Francisco Gomes defendeu que a TAP representa "a inequívoca soberania" do país e os seus "inegáveis interesses".
Para o grupo parlamentar, a empresa é uma ponte entre Portugal e o mundo, que deve garantir a coesão, mantendo "as asas verdes e vermelhas".
Do lado do PS, Carlos Pereira explicou que o diploma apresentado pelo partido quer repor a justiça para com os trabalhadores da TAP, que fizeram um "enorme esforço" para fazer da companhia aérea um caso de sucesso.
Carlos Pereira acusou ainda a AD de cometer um "erro muito grave" ao não permitir que os trabalhadores da TAP tenham acesso a um lote de ações com desconto.
Isabel Pinto do Livre vincou que a TAP é uma "ferramenta crítica" para ligar o continente às regiões autónomas, à diáspora e à economia, acrescentando que a privatização apaga o contributo da empresa para o Produto Interno Bruto (PIB), demonstrando "pouca ambição para o país".
A deputada notou que o parlamento não pode ser arredado desta discussão e que o Livre acompanha o projeto do PCP para travar a privatização.
Filipe Sousa do Juntos pelo Povo (JPP) disse que servir o interesse nacional tem de ser o "único foco" da companhia, mas ressalvou que esta hoje "não serve, honra, prestigia ou respeita" os cidadãos.
"Ponham a TAP a servir o país e todos os portugueses em primeiro, segundo ou terceiro lugar", referiu.
Paulo Núncio (CDS) afirmou que o Governo demonstrou claramente o que queria no processo de reprivatização da TAP -- recuperar parte do dinheiro dos contribuintes e capitalizar a empresa.
"Este processo é um primeiro passo e começou bem porque, pelo menos, algumas companhias aéreas de renome vieram ao processo", apontou.
Em seguida, Paulo Moniz (PSD) sublinhou que é importante salvaguardar a companhia para que esta tenha escala e esteja integrada num grupo "com dimensão", que opere em vários mercados, "com robustez e músculo financeiro".
O PSD insistiu que reprivatizar a TAP é essencial para a sua sobrevivência.
No encerramento do debate, Rodrigo Saraiva (IL) reiterou ser necessária coragem política para reprivatizar a TAP e lamentou que o Governo diga acreditar na iniciativa privada, mas continue agarrado ao poder.
Por outro lado, contestou os argumentos apresentados pelos partidos que se afirmam contra a reprivatização. "Defendem que é essencial para ter um 'hub' em Lisboa, mas Frankfurt, Paris e Amesterdão são grandes 'hubs' e têm companhias privadas", exemplificou.
O secretário de Estado das Infraestruturas enalteceu na quarta-feira o facto de, pela primeira vez, este século, uma privatização da TAP ter despertado o interesse dos três grupos aéreos líderes da Europa.
"Nunca nas três privatizações deste século da TAP apareceram as três companhias aéreas de líderes da Europa interessadas - e ativamente interessadas - na TAP. E, portanto, isso deixa-me confortável que os próximos oito meses de dor ali para o Luís [Rodrigues, CEO da TAP] vão resultar em algo bom aqui para todos nós", disse Hugo Espírito Santo, em Macau.
Em 22 de novembro, a empresa estatal Parpública confirmou que recebeu "três declarações de manifestação de interesse" pela privatização da TAP, cuja entrega de candidaturas encerrou às 16:59 desse dia.
A empresa estatal responsável pela gestão das participações do Estado não indicou, no comunicado quais as empresas interessadas, mas já estava confirmado formalmente o interesse da Air France-KLM, Lufthansa e International Airlines Group (IAG) - dono da British Airways e da Iberia.
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