Jorge Sampaio, o homem na linha da frente na luta contra a tuberculose
Ex-presidente da República foi enviado especial da ONU no combate à doença. Recebeu homenagem anos mais tarde por ter cumprido missão com sucesso.
Jorge Sampaio tornou-se, em 2006, o primeiro enviado especial do plano da Organização das Nações Unidas (ONU) para a luta contra a tuberculose.
O propósito da nomeação, inicialmente prevista para apenas dois anos - mas que durou cerca de seis - era "acabar" com a doença. O plano da ONU previa "tratar 50 milhões de doentes" em todo o mundo e "salvar cerca de 14 milhões de vidas".
"Embora prossiga objetivos concretos, estes não são quantificáveis. Eu não tenho por missão curar doentes – não sou médico. Por isso, não posso somar consultas, doentes tratados, pacientes curados…", dizia Sampaio numa entrevista à ‘Voz das Misericórdias’, em 2008.
A missão do ex-chefe de Estado, por sua vez, era mobilizar as comunidades e colocar o combate à tuberculose na agenda dos principais responsáveis políticos, nomeadamente das potências mundiais. Esclarecer e informar os cidadãos sobre a doença foi outro dos pilares desta função que exerceu. Para tal, participou e promoveu inúmeras conferências em todo o mundo, sendo que a relação entre esta doença e a HIV/Sida sempre foi um dos tópicos em destaque.
Neste processo de captar atenções e dar visibilidade à tuberculose, Sampaio liderou ainda uma campanha mundial de prevenção contra a doença com a colaboração do antigo futebolista Luís Figo.
Durante a missão que lhe foi atribuída, o ex-Presidente da República procurou estabelecer relações com os países mais afetados pela doença, nomeadamente os países em desenvolvimento, sobretudo nos continentes africano e asiático.
Por altura da nomeação, a tuberculose era a segunda maior causa de morte do mundo, provocando cerca de cinco mil mortes diárias. Ainda assim, Sampaio alertava por diversas vezes que esta doença poderia ser prevenida e tratada, apelando, sobretudo, à responsabilidade dos atores políticos para canalizar meios e esforços nessa direção.
O cargo na ONU foi renovado em 2008. Nessa altura, o ex-Presidente da República alertava que um terço da população mundial tinha tuberculose.
Em março desse ano, Jorge Sampaio sublinhava que "as pandemias não se combatem senão (…) com planos globais, embora a implementação dos programas e das medidas seja necessariamente local".
Numa reflexão que pode relacionar-se, até, com a Covid-19 - a pandemia mais recente - Sampaio referia que, "enquanto problema de saúde pública", eliminar a tuberculose era "uma batalha sem tréguas, com várias frentes, sobretudo nestes países em que os índices de desenvolvimento são extremamente baixos".
O antigo chefe de Estado criticava ainda a cooperação internacional que apresentava progressos, mas "lentos e arrancados a ferro e fogo".
Conhecido por ser um político próximo das pessoas, assumia que ser enviado especial da ONU era "lutar por uma causa que tem a ver com os direitos humanos" e sublinhava que as questões de saúde pública sempre foram um assunto do seu interesse.
Em 2013, Jorge Sampaio foi homenageado pela Organização Mundial da Saúde pelo empenho e dedicação durante os anos em que liderou a luta contra a tuberculose. A OMS congratulou-o pela missão realizada com sucesso e por ter captado a atenção das principais potências mundiais para um assunto que necessitava de um olhar mais profundo naquele tempo.
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