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CDS reage à morte de Otelo Saraiva de Carvalho como dia "agridoce" entre memória de Abril e "atrocidades" das FP25

Foi o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.

25 de julho de 2021 às 21:23

O vice-presidente do CDS-PP Miguel Barbosa reagiu este domingo à morte de Otelo Saraiva de Carvalho, considerando tratar-se de um dia "agridoce", ao lembrar a sua ação na conquista da liberdade e, em simultâneo, "as atrocidades" das FP-25.

No dia em que "o CDS regista com tristeza" a morte de Otelo Saraiva de Carvalho, o vice-presidente Miguel Barbosa assegurou à agência Lusa que o partido "não se deixa embriagar pela história", naquele que considera ser "um dia agridoce para os portugueses".

Por um lado, Miguel Barbosa lembra Otelo como "um dos principais obreiros do golpe de estado que ficou conhecido como a Revolução dos Cravos, o 25 de Abril de 1974", reconhecendo-lhe "um primeiro ato importantíssimo para devolver Portugal à liberdade e à estabilidade de uma democracia liberal, que apenas se veio a confirmar com o 25 de novembro".

Mas, por outro, sublinha "aquilo que o CDS não esquece", apontando o capitão de Abril como "um homem que, entre estas duas datas, teve atitudes e comportamentos em que contradiz tudo aquilo que parecia defender".

Entretanto, em comunicado enviado às redações, o presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, reiterou que o partido tem memória "e não aceita que se branqueie a história de Portugal".

"Não esquecemos o papel de Otelo no 25 de Abril, mas também não esquecemos o terror que tentou instituir em Portugal, desde os mandatos de captura em branco no PREC, aos atentados e mortes das FP25. É, por isso, devida uma palavra às vítimas de Otelo e às suas famílias - o Estado falhou com elas por cobardia e pela tradicional inimputabilidade dos poderosos", criticou.

No dia da morte de Otelo Saraiva de Carvalho, o presidente do CDS-PP apresenta as condolências à sua família e garante que o partido "não esquece e nunca esquecerá as vítimas do terrorismo de Otelo".

Na lista do que o CDS não esquece, segundo Miguel Barbosa, inclui-se "o Comando Operacional do Continente (COPCON), os mandados de captura em branco e as vítimas mortais do terrorismo das FP25", para sublinhar: "Não esquecemos que Otelo Saraiva de Carvalho era o rosto de toda essa atrocidade".

O partido que em 1976 "votou contra a Constituição e, nos anos 90", contra "a amnistia e o indulto que o Presidente da República entendeu dar a Otelo e a outros operacionais das FP25", assegura não esquecer "toda uma história de atrocidades contra a liberdade, contra a democracia", com que "procuraram no fundo impedir que Portugal trilhasse o caminho até à liberdade em democracia liberal".

Reafirmando as memórias das "vítimas que morreram pelos ataques das FP25, crianças inclusive", o vice-presidente do CDS disse esperar que "não se reabram feridas antigas" e que "os familiares dos que perderam os seus pais, filhos, irmãos, para as mãos do terrorismo de Abril, possam hoje também encontrar alguma paz".

Otelo Saraiva de Carvalho, militar e estratego do 25 de Abril de 1974, morreu hoje de madrugada, aos 84 anos, no hospital militar.

Nascido em 31 de agosto de 1936, em Lourenço Marques, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.

No Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.

Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.

Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por vários atentados e mortes, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado anos depois.

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