Representam o país nas bancadas da Assembleia da República. Uns sentam-se à direita, outros à esquerda, há os que defendem uma política mais centrista e até quem seja independente. São 230 os deputados que durante uma legislatura de quatro anos tomam decisões em representação dos portugueses e que ditam o rumo do País. Mas nem todos são figuras próximas e conhecidas do eleitorado. Quem são? De onde vêm? Quais as suas crenças e ambições? Qual a área das suas formações?
Foi pela falta de respostas a estas perguntas que surgiu o projeto "Os 230". O objetivo? Entrevistar os 230 deputados da Assembleia da República e desmistificar a ideia "distante e despersonalizada gerada à volta das figuras políticas da nossa sociedade". Quem o diz é Francisco Cordeiro Araújo, o jovem mentor do projeto.
Estudante de mestrado em Direito Internacional na Universidade de Lisboa, Francisco já vinha a ‘matutar’ na ideia faz tempo. Sabia que queria dedicar-se a um projeto relacionado com a cidadania e com a democracia. Foi então que se fez luz. "Sinto que vivemos numa sociedade muito entrincheirada. As pessoas têm a sua opinião mas nem sempre é informada e gostam de se enfrentar numa espécie de ‘campo de batalha’. Há um grande preconceito em relação aos políticos. As pessoas colocam-se de um lado oposto a esta figura. Acredito que essa ideia possa ser combatida de uma forma séria", revela.
Da ideia à ação foi um instante. Para o ajudar a pôr em prática a iniciativa, Francisco conta com uma série de outros jovens, estudantes ou recém-licenciados nas mais diferentes áreas educativas. Não se conheciam antes do projeto e juntaram-se porque acreditavam na ideia. Em comum, têm apenas o amor ao projeto, que se define como "apartidário, independente e sem fins lucrativos" e que pretende aproximar os políticos dos eleitores. Todos investem o seu tempo livre nas deslocações a São Bento, em Lisboa, onde a "magia" acontece.
As entrevistas são gravadas nos espaços imponentes da Assembleia da República e têm a duração aproximada de 45 minutos. A conversa centra-se sobretudo no percurso profissional dos deputados que aceitam o desafio, e pretende aproximar os eleitores dos seus representantes no Parlamento.
"É um processo bastante longo. A preparação de cada entrevista dura cerca de um dia. É o resultado de muita investigação. Costumo fazê-lo com bastante rigor para ser algo isento e credível", explica ao CM o fundador e a cara de "Os 230". "Queremos que as pessoas que nos acompanhem possam ter a oportunidade de conhecer a pessoa que elegem, para além do partido e do programa eleitoral".
O projeto tem sido bem recebido pelo público. Com apenas dez entrevistas publicadas, "Os 230" já reúnem quase 4000 seguidores no Instagram e mais de 900 subscritores no YouTube. O vídeo do primeiro convidado, João Cotrim de Figueiredo, presidente e deputado único da Iniciativa Liberal, conta com mais de 6000 visualizações em quase dois meses.
Deputados aplaudem iniciativa
No seio dos grupos parlamentares, a iniciativa tem vindo a ser aplaudida e os protagonistas do projeto têm aderido em massa. "Até agora não tivemos nenhuma resposta negativa por parte dos deputados. Alguns ainda não contactámos, outros demoram mais a responder, mas estou confiante que ninguém vai dizer que não. Assim que percebem o que é o projeto congratulam-nos pela iniciativa e mostram um grande à vontade para fazer a entrevista", assume Francisco Cordeiro Araújo.
Quem o prova é José Luís Ferreira, deputado e líder do partido Os Verdes, um dos que já deu o "corpo às balas" por este projeto, que considera que deve ser valorizado.
"O projeto é tão interessante que permite criar proximidade entre os eleitos e os eleitores. Tem a vantagem acrescida de tornar mais consciente o voto. As pessoas têm uma ideia muito negativa daquilo que são os deputados e por isso este tipo de projetos podem ajudar a esbater essas conceções", assume.
Já João Cotrim de Figueiredo, orgulhoso por ter sido a escolha para primeiro entrevistado da extensa lista dos 230, acredita que este tipo de iniciativas possam contribuir para que as figuras que ocupam cargos públicos passem a ser vistas como pessoas que têm "motivações, desejos e angústias", tais como qualquer cidadão.
"Hoje em dia vulgarizam-se expressões que metem a classe política toda no mesmo bolo e corre-se o risco de pensar que não são pessoas que estão por detrás destes mandatos", atira o presidente da Iniciativa Liberal, parabenizando o facto de as entrevistas desenhadas para os episódios de "Os 230" misturarem "matérias de interesse político e matérias pessoais, sem nunca personalizar demasiado".
Grupo já planeia novos projetos
Apesar de reconhecer que o projeto é bastante "ambicioso" - ao propor-se a entrevistar os 230 deputados da Assembleia da República -, Francisco Cordeiro Araújo não se mostra pronto a desistir e garante que está nos planos da equipa ter o projeto concluído dentro de um ano.
Ainda assim, este não é a única carta na manga destes jovens. "Democracia 101" e "Sociedade 230" são os projetos que ainda estão no "forno".
Os episódios do projeto "Os 230" são publicados todas as semanas em várias plataformas digitais, tais como o Youtube, o Facebook, o Instagram e o Spotify.
Texto | Catarina Figueiredo
Fotografia e vídeo | Catarina Cruz