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A "prudência" de Marques Mendes contra o "arrojo" de Cotrim de Figueiredo em mais um debate presidencial

Social democrata e liberal estiveram frente-a-frente.

07 de dezembro de 2025 às 21:12

O debate deste domingo serviu sobretudo para traçar diferenças no espaço eleitoral à direita. O frente-a-frente de João Cotrim de Figueiredo e Luís Marques Mendes foi um confronto de ideias mas também de gerações, com o liberal a defender uma visão mais “arrojada” da política moderna e a criticar a “prudência” face às transformações da geopolítica mundial. Já o social-democrata, que as sondagens têm apresentado como um dos principais candidatos a suceder a Marcelo Rebelo de Sousa no Palácio de Belém, deixou críticas à “ligeireza” do adversário e a várias das políticas defendidas por si e pela Iniciativa Liberal.

Marques Mendes foi o primeiro a usar da palavra para acusar o adversário de liderar "um ataque pessoal muito feio e lamentável", ao acusar elementos ligados ao social-democrata de o pressionar para desistir da corrida a Belém.

Cotrim de Figueiredo criticou o adversário por ter escolhido este tema para abrir o debate e lembrou que outros candidatos, como Gouveia e Melo, também relataram ter sofrido pressões. Marques Mendes insistiu.  "Não se fazem acusações desta gravidade da forma ligeira como a fez", disse, afirmando que Cotrim, "não apresenta nenhum nome, não tem provas nem tem fundamento". E ainda comparou Cotrim a um outro candidato presidencial,  ao afirmar que este "comportou-se como um André Ventura envergonhado.”

Questionados sobre de que forma as respetivas candidaturas marcam pela diferença, o liberal apresentou-se como alguém com uma "visão muitíssimo mais moderna e arrojada" da política, e criticou a falta de propostas concretas de Marques Mendes, afirmando que "era incapaz de recomendar que se fizessem pactos sem saber para quê". O social-democrata, por seu turno defendeu a ideia de que o PR "tem de ser moderado, mas não mole". 

O frente-a-frente passou depois por uma das propostas do candidato apoiado pelo PSD: a de ter um jovem, por si nomeado, no Conselho de Estado por forma a refletir as opiniões das gerações mais novas. Cotrim desvalorizou a ideia como "simbólica", afirmando que "os jovens têm uma maneira diferente de entender" a política; Marques Mendes retorquiu que nos contactos que tem tido com jovens, "todos valorizam muito" a proposta.

A lei laboral esteve depois em cima da mesa. Marques Mendes negou ter afirmado que está “predisposto” a promulgar a alteração à lei, mas defendeu que o Governo “tem toda a legitimidade” para proceder à alteração e que questões como a transição digital e a inteligência artificial justificam que tal seja feito. Apelou ainda "ao equilíbrio e ao diálogo" entre Governo e sindicatos, em particular a UGT.

“Deve ser a sexta ou sétima vez que fazem esta pergunta a Marques Mendes e ninguém percebe se promulga”, ironizou Cotrim de Figueiredo. Vincando que "os candidatos devem dizer o que pensam", o candidato apoiado pela IL afirmou que promulagaria o novo pacote, justificando que “quando se fala em flexibilidade, não é despedir ou contratar mais facilmente. É tornar as empresas mais capazes de se adaptar a uma diferença súbita” no mercado.

Quando o tema passou para a questão da precariedade e dos índices de pobreza, os debatentes voltaram a divergir. Cotrim defendeu o “crescimento económico” como motor para melhorar as condições de vida, e lembrou que, sem apoios sociais, os atuais dois milhões de pessoas que vivem em situação de pobreza efetiva “seria sensivelmente o dobro”, classificando a situação como “um falhanço das políticas económicas” das últimas décadas.

Marques Mendes, por seu turno, defendeu o papel social do Estado, considerando que o país não pode “estar à espera que o mercado vá resolver os problemas”. E puxou por exemplos de propostas defendidas pela Iniciativa Liberal ao longo dos anos, como a taxa única de IRS ou a privatização da Caixa Geral de Depósitos, como exemplos de medidas que, a prazo, iriam “comprometer seriamente” setores sociais como a educação e a saúde.

A fechar, o frente-a-frente debruçou-se sobre as relações transatlânticas e a nova estratégia de segurança nacional delineada pela administração Trump, afastada do bloco europeu e a favor de boas relações com a Rússia. O social-democrata manifestou “grande preocupação”, e defendeu a necessidade de a Europa “começar a pensar em si própria” em matéria de segurança – sem, contudo, agravar tensões com Washington.

Cotrim, por seu turno, afirmou que o continente europeu “tem de se dar ao respeito” e cortar com a dependência dos EUA. E deixou, nos minutos finais, uma crítica aos conselhos de “prudência” do adversário, considerando que “em tempos de mudança (...) a prudência pode ser sinal de medo da mudança”.

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