Uma vitória que não deixa margem para dúvidas. José Sócrates foi ontem eleito secretário-geral do PS com 18.432 votos (78,6%).
De acordo com os resultados oficiais às 22h36, e quando estavam apuradas praticamente todas as mesas de voto (80% escrutinados), Manuel Alegre não foi além dos 3903 votos (16,6%) e João Soares sofreu uma derrota particularmente pesada ao conseguir apenas 927 (3,9%) dos cerca de 23.437 dos votos certificados, o que corresponde a cerca de 50 por cento de afluências às urnas.
Uma mobilização que deixou satisfeito o novo líder. Quando se deslocou à Covilhã para exercer o seu direito de voto, Sócrates considerou que “o importante nestas eleições era que os militantes falassem claro, sem ambiguidades” para que se possa “fazer do PS um partido para substituir o actual Governo”. E os militantes socialistas não podiam ter sido mais claros.
Ultrapassada esta primeira etapa, segue-se o Congresso do próximo fim-de-semana, durante o qual serão eleitos os órgãos do partido. O resultado obtido nestas eleições dá a Sócrates margem de manobra suficiente para as escolhas difíceis que se avizinham e ninguém o poderá acusar de dividir o partido, já que este está claramente unido em torno do seu nome. Resta saber se o novo líder socialista vai assumir uma postura de ruptura com o passado ou ter em conta o peso histórico de algumas personalidades que estiveram ao lado dos seus adversários nesta corrida.
Durante a campanha, José Sócrates já deixou antever alguns nomes que conta ter a seu lado. Entre outros, Francisco Assis, Alberto Souto, Pedro Silva Pereira, António Costa e Capoulas Santos. Isto sem esquecer os chamados apoiantes da primeira hora, onde o nome do ex-ministro do Desporto, José Lello é incontornável. Quando ainda poucos acreditavam na hipótese de Sócrates ganhar, nos bastidores do PS ironizava-se dizendo que Lello era o seu único apoiante.
'BICHINHO' DA POLÍTICA ATACOU NO LICEU
Engenheiro Civil de formação, José Sócrates exerceu a profissão durante muitos anos, nomeadamente na Câmara da Covilhã. Mas o ‘bichinho’ da política atacou cedo, ainda no liceu. O pai, arquitecto, fazia parte de um grupo que apoiava a ala liberal que se estava a formar na Assembleia da República. Por isso, gosta de dizer que em sua casa se respirava um ambiente de ‘Seara Nova’.
Em 1974 chegou a filiar-se na JSD. “Foi o primeiro partido que vi que falava em social-democracia”, recorda, “mas cedo percebi que estava errado, pois eles estavam muito ligados à direita”. A adesão ao PS deu-se depois da Faculdade, em Coimbra, e aos 47 anos tem um currículo político bastante extenso.
Foi eleito pela primeira vez como deputado à Assembleia da República em 1987 e em 1991 entrou para o Secretariado Nacional do PS. Foi porta-voz do partido para as questões do Ambiente entre 1991 e 1995, ano em que foi designado para o cargo de secretário de Estado Adjunto da ministra do Ambiente, Elisa Ferreira.
Sempre ao lado de Guterres, foi também seu ministro Adjunto e ainda ministro do Ambiente. Actualmente é deputado e pertence ao Secretariado do partido, dividindo-se entre a política e a vida académica, tendo terminado recentemente um mestrado em Gestão de Empresas.
CASO EM MATOSINHOS
Um incidente ensombrou a votação na secção de Matosinhos, quando cerca das 17h30 o vereador e vice-presidente Guilherme Pinto se preparava para votar. Provocado e insultado por “um militante que ali estava a mais”, como afirmou ao CM, o autarca identificou o indivíduo como um dos “seguranças da Lota de Matosinhos, ligado a António Parada”, o coordenador daquela secção, adepto de Seabra, que o PS pretende expulsar na sequência das conclusões do recente inquérito.
ADEUS VICENTE
O deputado Vicente Jorge Silva demitiu-se do PS depois de votar nas eleições para secretário-geral do partido, considerando “um equívoco” a sua experiência partidária. Vai permanecer como deputado independente até ao fim do mandato.
SEGURO À DISPOSIÇÃO
O presidente do grupo parlamentar do PS já afirmou que colocará o lugar à disposição do novo líder após o congresso do partido e reiterou estar equidistante face aos três candidatos que disputaram o cargo de secretário-geral. “Após estes dois meses, que terminam agora com a eleição do novo líder, tenho a consciência do dever cumprido”, afirmou sexta-feira, depois de votar.
Manuel Alegre terá obtido perto de vinte por cento dos votos nas eleições internas socialistas. Em Coimbra, onde ontem exerceu o direito de militante, o deputado-poeta deixou um recado interno perante os dados já conhecidos.
“É bom que da próxima vez se tirem lições do que se passou agora, e que as votações se façam todas no mesmo dia, para que os resultados sejam anunciados no fim”, sublinhou. Alegre afirmou que a metodologia seguida “desmobiliza uns, e desmotiva outros”.
Embora discordando da votação em dois dias, realçou que “nunca houve uma tão grande participação no Partido Socialista”, e que “não é isso que altera no essencial os resultados”. No discurso de reconhecimento da derrota, Alegre considerou que, em todo caso, à sua candidatura promoveu o debate, “enriqueceu e enobreceu a política, e projectou o Partido Socialista para fora de si mesmo”.
“A partir de agora nenhum congresso poderá ser como era antigamente e os outros partidos se calhar terão de começar a fazer congressos de outra maneira”, observou.
Questionado sobre as possibilidades de entendimento com João Soares, outro dos candidatos à liderança, para a apresentação de listas conjuntas aos órgãos do partido no congresso, Manuel Alegre praticamente excluiu essa possibilidade. “Em princípio vamos apresentar a nossa lista de acordo com os delegados que tivermos. As candidaturas foram autónomas, tiveram uma lógica própria”, argumentou.
João Soares dizia que poderia ganhar numa segunda volta eleitoral. Só não sabia quem seria o seu adversário. O discurso foi alinhado e repetido várias vezes nos últimos dois dias. Mas nenhum dos cenários, que previa, se cumpriu.
Não haverá segunda volta, o ex-autarca foi derrotado e ficou-se pelos ‘residuais’ cinco por cento, a avaliar pelos resultados apurados até ao fecho desta edição.
Alguns dos seus apoiantes reconheceram, antes do acto eleitoral, que ele poderia ser “humilhado” na votação. Soares ficou aquém, até, das sondagens mais desfavoráveis.
O candidato reconheceu ontem a vitória “retumbante” de José Sócrates nas eleições e fez questão de o considerar “secretário-geral de todos os socialistas”. Foi o primeiro dos três candidatos a reagir, ainda antes dos telejornais e insistiu sempre na unidade do partido.
Faltava ainda apurar quantos delegados levará a congresso. Logo pela manhã, só tinha alcançado 11. Um número muito aquém dos 50 necessários para discutir a sua moção. No entanto, basta que outros delegados (que não os da sua candidatura) proponham o texto e a discussão não será posta em causa. Soares desdramatizou este facto.
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