Livro de Sócrates era feito por amigo do antigo primeiro-ministro
Blogue Câmara Corporativa era alimentado por pessoa próxima do ex-primeiro-ministro.
Fernanda Câncio, ex-namorada de José Sócrates, sabia que o livro ‘A Confiança no Mundo’ estava a ser escrito a várias mãos.
Além do antigo primeiro-ministro, a obra foi redigida por António Peixoto, que assinava sob o pseudónimo de Miguel Abrantes no blogue Câmara Corporativa, e por Domingos Farinho, professor universitário.
As escutas telefónicas, transcritas no processo Marquês, são esclarecedoras. "Mas tu já escreveste alguma coisa?", pergunta Câncio.
O antigo primeiro-ministro é categórico: "não, não escrevi, foram eles que escreveram! E eu não tenho nenhuma ideia do que fazer."
Numa conversa, em 28 de setembro de 2013, Sócrates revela à jornalista do ‘DN’ que tem menos de 24 horas para rever o livro. Fernanda Câncio sugere-lhe que peça ajuda. "Então, não pediste... não pediste ao... coiso... ao Domingos para te ajudar?" José Sócrates explica-lhe que o docente estaria a preparar o seu doutoramento e Câncio tranquiliza-o: "mas, então, se eles escreveram, manda-me".
O processo revela que o antigo primeiro-ministro deu três dias à editora para pôr no top dos livros mais vendidos a sua tese de mestrado sobre a tortura em democracia. O Ministério Público defende que uma parte do dinheiro que Sócrates terá recebido em luvas do Grupo Lena serviu para comprar exemplares do ‘A Confiança no Mundo’.
Os investigadores garantem que a versão final do livro foi redigida por Domingos Farinho.
Logo no primeiro interrogatório, em novembro de 2014, Sócrates negou-o. Garantiu que foi ele o autor da tese de mestrado e assegurou até que escreveu o original em francês. Negou também ter liderado uma campanha de venda de livros.
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