A história, as verdades e as mentiras sobre a morte de Valentina
Do desaparecimento até à descoberta do corpo e à prisão preventiva do pai e da madrasta suspeitos do homicídio da menina de Peniche.
Valentina Fonseca, de 9 anos, foi morta em casa e o corpo apareceu numa serra, a seis quilómetros da habitação, quatro dias depois. Os principais suspeitos do crime são o pai e a madrasta.
Na quinta-feira, dia 7, o pai dava o alerta à GNR do desaparecimento da menina em Atouguia da Baleia, Peniche. Foram quatro dias de buscas. Polícias, bombeiros, escuteiros, militares e populares juntaram-se para encontrar Valentina.
A calma do pai, o tapete na varanda, as roupas lavadas e as incongruências nos testemunhos levaram a PJ a uma conclusão: Valentina Fonseca terá sido espancada e morta pelo pai com a ajuda da madrasta. A autópsia revela que esteve 13 horas em agonia. O corpo foi largado numa serra e tapado por giestas.
Uma semana depois da sua morte, o pai e a madrasta são condenados a prisão preventiva.
7 de maio
Sandro Bernardo, pai de Valentina, alertou a GNR às 8h30 para o desaparecimento da filha de 9 anos.
Bombeiros, GNR e cães pisteiros correram ruas e campos na freguesia. A menina não podia estar longe.
O cenário de crime estava afastado. A Polícia Judiciária já estava em cima do caso com a indicação que em 2018, a menina já tinha desaparecido de uma outra casa onde a família residia no concelho, tendo sido encontrada depois pela polícia.
8 de maio
Com o passar do tempo e sem notícias da menina começam a surgir as dúvidas. A primeira questão é a hora em que Valentina desapareceu. O pai diz que viu a filha pela última vez por volta da uma da madrugada. Diz que a foi aconchegar à cama.
Valentina estava há uma semana na casa do pai. Daria mostras de estar triste; a alteração das rotinas - a ausência da escola e a impossibilidade de estar com os amigos - poderá ter perturbado a menina.
Não havia sinais de intervenção de terceiros e nenhum indício de qualquer ato de violência na casa. Também o facto de a criança ter saído de pijama, chinelos e com apenas um casaco poderá levar a que pensasse que não andaria muito. Poderia pretender regressar. Não tinha acesso ao telemóvel nem à Internet.
Outra hipótese, avançada pela família, é que a criança tivesse tido uma crise de sonambulismo. A possibilidade era porém pouco provável, sendo certo que a menina tinha muito medo do escuro.
Já tinha passado um dia e não há rasto de Valentina.
Meu amor, volta para junto de nós, estamos desesperados"
Mãe de Valentina no Facebook
O pai da menina estaria a pensar emigrar com a madrasta e os dois meios-irmãos, ambos bebés. A criança estava perturbada também por mudar as suas rotinas.
Mudou de casa - vivia com a mãe no Bombarral - e foi alojar-se com o pai, a madrasta e os meios-irmãos em Atouguia da Baleia, em Peniche, local onde melhor podia seguir a escola através de aulas online. Estava longe dos amigos, convivia de perto com dois meios-irmãos.
Os familiares e pessoas próximas da família continuam a ser interrogados pela PJ.
9 de maio
Terceiro dia de buscas por Valentina. Os rostos dão sinais de cansaço. A tristeza é visível no rosto dos familiares, populares, amigos, bombeiros e militares que se desdobram em buscas.
As falsas pistas estão a atrasar a investigação da Polícia Judiciária. Avistamentos, videntes e até roupas. Um homem a cavalo encontrou um casaco e uma t-shirt numa zona de ninguém. Ao início da noite encontraram mais um casaco cuja importância estava por validar.
As pistas apontam cada vez mais à volta do desaparecimento voluntário: Valentina pode ter saído de casa pelo próprio pé durante a madrugada.
"Volta para os nossos braços por amor de Deus"
Mãe de Valentina no Facebook
10 de maio
As buscas por Valentina são travadas pela trágica notícia: o corpo da menina de 9 anos foi encontrado camuflado na Serra d'El Rei, a seis quilómetros da casa do pai.
A madrasta e o pai de Valentina são detidos e começam a conhecer-se os contornos do crime. A menina terá sido morta em casa na noite de quarta-feira. Na mesma habitação estavam outras três crianças, de 12 anos, 4 e uma de poucos meses.
O pai da menina começa por dizer à PJ que a menina tinha sofrido um ataque, que tinha sido um espasmo, e que entraram em pânico.
Sandro Bernardo terá mantido a mentira durante três dias até que, o filho da madrasta de Valentina, de 12 anos, desvendou o mistério.
O meio-irmão da menina explicou que viu a menina a entrar com os adultos na casa de banho, na quarta-feira, e que já não a viu sair. Depois mandaram-no ir dormir.
Depois de confrontado com esta afirmação do menino, Sandro confessou. Disse que estava a exigir à filha que lhe contasse a verdade sobre boatos de ela ser vítima de abusos sexuais. Conta que Valentina tomava banho e foi nessa altura que a pressionou e tentou forçar uma confissão. Mas, ainda na versão dele, ela teve um ataque e convulsões. E morreu. Márcia, a madrasta, disse que nem estava no WC. Nem assume que ajudou a esconder o corpo. Sandro confirma, mas iliba a mulher da morte. Levaram o cadáver da menina no banco de trás da sua Renault Scenic verde e esconderam-no com as giestas.
Também o 'avô de coração' de Valentina, atual companheiro da avó materna da menina, revelou que a polícia precisou de entregar aos cães pisteiros as roupas da menina mas que Márcia se recusou a dar porque tinha "lavado a roupa" na quarta-feira.
Casa do pai e da madrasta de Valentina e local onde foi encontrado o corpo da menina
12 de maio
Emoção, lágrimas e muita revolta. Foi assim o funeral de Valentina, que teve lugar no Bombarral, local onde morava com a mãe, Sónia Fonseca. O povo fez questão de se despedir da menina de 9 anos.
Fizeram-se ouvir palmas e balões brancos e cor-de-rosa foram lançados na direção do carro onde seguia a urna. Lá dentro, as lágrimas e o desespero cobriam a cara de Sónia Fonseca, que estava acompanhada pelo namorado e pelo tio da criança.
A GNR montou um perímetro de segurança e apenas permitiu o acesso às cerimónias a familiares e amigos mais próximos, fazendo cumprir as recomendações da Direção-Geral da Saúde devido à pandemia.
Já no acesso ao cemitério outro momento comovente com a mãe de Valentina, agarrada ao caixão, em completo desespero. Um padre proferiu breves palavras antes de o cortejo seguir para a última morada da menina. Sónia Fonseca não conteve toda a a emoção depois de enterrar a filha e acabou por desmaiar. De imediato foi chamada uma ambulância que a transportou para o hospital.
13 de maio
O Tribunal de Leiria decretou prisão preventiva para o pai e madrasta de Valentina, a menina de 9 anos encontrada morta em Peniche.
O pai da criança terá sido o autor do crime, de acordo com o juiz de instrução do Tribunal de Leiria.
Sandro Bernardo está acusado do homicídio qualificado e violência doméstica. Márcia está igualmente acusada de homicídio qualificado e sob dolo eventual". Ambos os arguidos estão ainda acusados do crime de profanação de cadáver.
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