Cabo com núcleo de plástico na origem da tragédia da Glória

Troca feita há seis anos não terá sido acompanhada por testes no ponto de amarração. Material é fornecido pela própria Carris.

13 de setembro de 2025 às 01:30
Descarrilamento do Elevador da Glória em Lisboa Foto: Armando Franca/AP
Pormenor do cabo que sustentava as duas cabinas

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Desde 1915 que o Elevador da Glória funcionava com um cabo totalmente em aço a segurar as duas cabinas. Mas em 2019 esse cabo, fornecido pela CARRIS, foi trocado por outro formado por seis cordões em aço com a "alma em fibra", de acordo com a linguagem técnica. Na prática, um núcleo de plástico coberto por seis cordões com 32 arames de aço cada um. Esta alteração estará na origem da tragédia de dia 3 de setembro, que matou 16 pessoas e feriu outras 22. Não porque o cabo se tenha 'partido', mas porque o material usado se "deformou" e acabou por "ceder" no ponto de amarração ao trambolho, a peça na  parte de baixo de cada cabina onde esse cabo estava preso.

De acordo com peritos citados pelo Expresso, a falha terá acontecido na sequência das manutenções realizadas ao longo do tempo. Suspeita-se que de cada vez que os técnicos verificavam um alargamento procediam a um "aperto" do cabo no trambolho. Esse apertos sucessivos, habituais em cabos totalmente em aço, terão levado a que o núcleo em plástico se deformasse e perdesse volume, acabando por separar-se dos cordões em aço em volta.  “Quando se aperta num primeiro momento, fica tudo apertado, mas depois é preciso olhar para o fator tempo. Há dilatações, vibrações e a compatibilidade entre ambos os materiais é diferente do que se fosse aço com aço”, explicou ao semanário o engenheiro de materiais e professor Pedro Amaral.

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Segundo os especialistas, este cabo tem uma resistência ao peso e à tração do ascensor "muito maior do que a necessidade do sistema", mas a alteração obrigava a um novo sistema de amarração que nunca terá sido feito. 

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