'Campeã do Ozempic' burla Estado em três milhões durante 11 anos

Graça Vargas prescreveu medicamentos a falsos diabéticos que queriam emagrecer. Médica foi detida pela PJ. Já cometia crimes na clínica desde 2014.

20 de novembro de 2025 às 01:30
Graça Vargas
Medicamento era prescrito para emagrecimento e não a clientes com diabetes Foto: Direitos reservados

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Graça Vargas, médica endocrinologista, era já apelidada de ‘campeã do Ozempic’, um medicamento destinado a doentes com diabetes tipo 2, mas que prescrevia para o emagrecimento. Durante 11 anos, a médica - com clínica no Porto - levou a que milhares de medicamentos fossem comparticipados indevidamente, lesando o Estado em mais de três milhões de euros. Foi na quarta-feira detida pela Polícia Judiciária do Porto, na operação ‘Obélix’. Uma outra médica, um advogado e uma empresa foram constituídos arguidos no processo.

A investigação, que corre no DIAP Regional do Porto, apurou já que, na clínica ‘Esensia’, onde era diretora, a médica começou por prescrever, em 2014, outros medicamentos como o Victoza e o Trulicity, também para diabéticos e que inibem o apetite. Depois passou para o Ozempic. Os medicamentos chegam a ser comparticipados a 95%. Cerca de dois mil falsos diabéticos terão beneficiado do esquema ao longo dos anos, mas a PJ do Porto admite que o número poderá aumentar. “Importa agora para a investigação apurar exatamente quem teve acesso a estas receitas e se as pessoas tinham ou não esta doença”, explicou Rui Zilhão, coordenador da investigação.

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O esquema criminoso terá levado a que Graça Vargas tivesse um grande número de utentes na clínica, na avenida do Bessa, e lucrasse milhares de euros. Não tinha, no entanto, sinais exteriores de riqueza. Está agora indiciada pelos crimes de burla qualificada e falsidade informática. Será hoje presente a tribunal.

Esquema funciona por passa-palavra

Ao longo dos anos, Graça Vargas ganhou fama e conseguiu angariar cada vez mais pessoas para a clínica através do passa-palavra. Os medicamentos como o Ozempic davam bons resultados, o que levava a que muitos utentes tentassem recorrer à médica.

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Na quarta-feira, a arguida foi detida em sua casa, em Matosinhos, e acompanhou durante horas as buscas que a PJ fez na sua clínica. O objetivo foi apreender documentação e também equipamentos informáticos.

A Ordem dos Médicos acompanhou as buscas e já instaurou um processo disciplinar.

Buscas a Norte e no Funchal

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A PJ fez ainda buscas em Albufeira e no Funchal, em empresas que seriam de fachada, e em gabinetes de contabilidade em Lousada e Santa Maria da Feira. Neste último concelho corre também no DIAP um outro processo de fraude fiscal, que tem conexão com estas empresas. A Autoridade Tributária esteve assim também nas buscas.

Uma gota de água no oceano
Rui Zilhão

Coordenador de investigação criminal da Diretoria do Norte da PJ

O coordenador de investigação criminal Rui Zilhão, da Diretoria do Norte da PJ, indicou na quarta-feira que “esta investigação representa uma gota de água num oceano” de fraudes ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Este caso foi investigado durante quatro anos. A operação de quarta-feira envolveu 40 inspetores. A Polícia Judiciária revela grande preocupação com fraudes contra o SNS e criou uma equipa especializada para a investigação destes casos.

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Investigação apura dolo por parte dos clientes

A investigação da PJ procura perceber se há dolo por parte dos clientes da clínica, ou seja, se sabiam que estavam a lesar o Estado ao serem beneficiários das prescrições. “Terá de ser analisado pelo Ministério Público”, indica Rui Zilhão. 

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