Carta para jovem que morreu por falta de médicos

David Duarte, de 29 anos, sofreu uma hemorragia cerebral resultante da rutura de um aneurisma. Deu entrada no hospital de Santarém na sexta-feira, dia 11, com dores de cabeça, sem conseguir falar e paralisado do lado direito. Não foi operado no Hospital de São José por ser fim de semana e não haver médicos disponíveis. Morreu na segunda-feira. Agora, a namorada escreveu uma carta ao semanário Expresso a contar tudo o que aconteceu.

Uma das partes mais emocionantes da carta é o momento em que Elodie Almeida, namorada da vítima, recorda o dia em que o jovem foi transferido para o hospital onde viria a perder a vida. "Apenas tive tempo de lhe dar um beijo. Ele abriu os olhos e eu disse-lhe: ‘Eles vão cuidar de ti.’ Foi de imediato transferido pelo INEM, penso que seriam cerca de 18h", escreveu.

"Ali anunciaram-nos, descontraidamente, que se tratava da rutura de um aneurisma, que o sangue se espalhou pelo cérebro e que, geralmente, estes casos de urgência teriam de ser tratados de imediato, ou seja, o doente teria de ser logo operado. Mas como os médicos referiram, infelizmente calhou ser numa sexta-feira, logo não iria haver equipa de neurocirurgiões durante o fim de semana. O David teria de aguardar até segunda para ser operado. Deram-me a entender que o sangue espalhado pelo cérebro poderia, muito provavelmente, causar sequelas e posteriormente múltiplos AVC", recordou.

Elodie Almeida afirma que tanto ela como a família de David Duarte só tiveram conhecimento da morte porque ligavam várias vezes para o hospital para terem novidades sobre a evolução do estado de saúde da vítima.

"Chegámos ao Hospital de São José e aí anunciaram-nos que o David tinha tido morte cerebral e que seria irreversível. Não me deram mais detalhes. Completaram esta grave notícia, anunciando que no mesmo dia ou no dia seguinte ele seria operado para a doação de alguns dos seus órgãos", acrescentou a namorada de David Duarte.