Ex-diretora financeira do BES nega ter acompanhado sociedade usada para delapidar banco

Confrontada com 'e-mails' a si dirigidos, Isabel Almeida assegurou não conseguir "decifrar, explicar, enquadrar" o conteúdo das mensagens trocadas.

20 de outubro de 2025 às 16:15
Tribunal Foto: Getty Images/iStockphoto
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Uma ex-diretora financeira do BES, acusada no processo do colapso do banco, garantiu esta  que "não acompanhava" a atividade de uma sociedade alegadamente usada para delapidar a instituição, apesar de ter recebido 'e-mails' sobre o assunto.

No julgamento, em Lisboa, a ex-diretora do Departamento Financeiro, de Mercados e de Estudos (DFME) do Banco Espírito Santo (BES), Isabel Almeida sublinhou que as questões da Eurofin eram tratadas por outros elementos do DFME, diretamente com o então administrador financeiro Amílcar Morais Pires, também arguidos, sem que a dirigente interviesse nos processos.

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"Os temas relacionados com a Eurofin eram temas tratados diretamente pelo doutor Morais Pires com os responsáveis das áreas. No meu tempo, foram o doutor Pedro Costa e o doutor António Soares", afirmou a ex-diretora financeira.

Confrontada pelo Ministério Público com 'e-mails' a si dirigidos por estes subordinados, de 2005 a 2012, com questões da esfera daquela sociedade suíça, Isabel Almeida assegurou não conseguir "decifrar, explicar, enquadrar" o conteúdo das mensagens trocadas. 

"Tenho razoável memória sobre diversos assuntos, diversos temas, sobretudo aqueles em que eu estava envolvida à data. Agora, muito pouco daquilo faz sentido", insistiu, sustentando que "não era pontualmente chamada, era pontualmente referenciada".

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Perante a perplexidade expressa pela presidente do coletivo de juízes, Helena Susano, por a arguida não saber o que cada pessoa fazia "dentro do seu departamento", a antiga diretora do DFME do BES reiterou que "a Eurofin não era o tema principal da atividade" dos seus subordinados e "estava devidamente enquadrada com o doutor Morais Pires".

Isabel Almeida admitiu, ainda assim, que sabia que a Eurofin se financiava "com uma linha de crédito que tinha junto" do Grupo Espírito Santo (GES), apelidada 'our friends' ('nossos amigos', em inglês), e que o assunto passava por si quando a sociedade comunicava algum desequilíbrio.

O processo principal da falência do BES/GES, ocorrida em 2014, conta atualmente com 18 arguidos, incluindo o ex-presidente do banco, Ricardo Salgado, de 81 anos e doente de Alzheimer.

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O Ministério Público estima que os atos alegadamente praticados entre 2009 e 2014 pelos ex-quadros do BES e de outras entidades do GES tenham causado prejuízos de 11,8 mil milhões de euros ao banco e ao grupo.

Em causa estão crimes de associação criminosa, corrupção no setor privada e burla qualificada, entre outros.

O julgamento decorre desde 15 de outubro de 2024 no Tribunal Central Criminal de Lisboa. 

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