“Fui objeto de calúnia, difamação e ameaça”. Leia a declaração de Rui Pinto em tribunal

Hacker português está a ser julgado no Tribunal Central Criminal de Lisboa.

04 de setembro de 2020 às 12:28
Rui Pinto Foto: David Cabral Santos
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Rui Pinto, criador da plataforma eletrónica Football Leaks, através da qual divulgou milhares de documentos confidenciais do mundo do futebol e alegados esquemas de evasão fiscal cometidos em diversos países, está a ser julgado esta sexta-feira por 90 crimes.

O arguido, de 31 anos, está acusado de 68 crimes de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo e ainda pelos crimes de sabotagem informática à SAD do Sporting e tentativa de extorsão ao fundo de investimento Doyen, pelos quais começa a responder no Tribunal Central Criminal de Lisboa.

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Leia na íntegra o que disse Rui Pinto em tribunal:

1. Procurei na Contestação, apresentada pelos meus advogados, transmitir a este Tribunal tudo o que me parecia relevante para a descoberta da verdade em resposta à acusação de que sou objeto.

2. Estou aqui neste tribunal numa estranha situação: por um lado, como arguido e, por outro, como testemunha protegida integrada num programa do Estado português.

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3. Como sempre disse, não me considero um hacker. Sou um denunciante ou whistleblower porque tornei pública, em total boa-fé, muita informação de manifesto interesse público nacional e internacional que, de outra forma, nunca seria conhecida.

4. Fiquei surpreendido e indignado com aquilo que descobri e que entendi que devia revelar. Inicialmente através do site Football Leaks, mas também através da colaboração com órgãos de comunicação social a nível mundial.

5. O meu próprio trabalho de análise documental e auxílio direto aos jornalistas é, na minha opinião, um trabalho que contribuiu para reforçar a liberdade de expressão.

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6. Colaborei também com várias autoridades estrangeiras, e encontro-me a colaborar ativamente com as autoridades portuguesas, que me encorajaram nesta colaboração, e espero continuar a fazê-lo no futuro.

7. As revelações de graves irregularidades e crimes são para mim motivo de orgulho e não de vergonha. Vejo hoje que há importantes inquéritos criminais que foram iniciados graças a essas revelações e confio que serão muitos mais.

8. Constato que, nos últimos anos, os direitos nacionais, o direito europeu e o direito internacional reconhecem, cada vez mais, a importância da contribuição dos whistleblowers na descoberta de graves atividades ilícitas profundamente prejudiciais para os cidadãos e para os próprios Estados. E, por essa razão, os whistleblowers são cada vez mais protegidos em todo o mundo.

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9. Fui objeto de uma campanha de calúnia, difamação e ameaça com o intuito de afastar a atenção da opinião pública e do sistema judiciário das atividades criminais que revelei e que persistem. Mas não me queixo.

10. Estive quase um ano e meio preso, com 7 meses de isolamento total, o que foi um período difícil, mas, também, um período de grande reflexão. O meu trabalho como whistleblower está terminado.

11. Neste momento, pretendo tão somente reafirmar que nada do que fiz foi por dinheiro e que nunca recebi qualquer verba pelas informações que revelei.

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12. A conselho dos meus advogados, limito-me, para já, a fazer esta declaração, reservando-me o direito de prestar declarações posteriormente.

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