Há quem ateie fogos como estímulo sexual

Chefe do Gabinete de Psicologia da Escola da PJ, descreve os principais problemas dos incendiários.

21 de agosto de 2017 às 08:30
Chefe do Gabinete de Psicologia da Escola da PJ, descreve os principais problemas dos incendiários Foto: Raquel Wise
Chefe do Gabinete de Psicologia da Escola da PJ, descreve os principais problemas dos incendiários Foto: Raquel Wise

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A Polícia Judiciária já prendeu, este ano, 65 incendiários (até sexta-feira), 26 dos quais encontram-se em prisão preventiva. Cristina Soeiro lidera o Gabinete de Psicologia da Escola da PJ e, no âmbito do estudo dos incendiários, divide-os em três grupos. Os detidos com problemas psiquiátricos são maioritários e, segundo garante Cristina Soeiro, agem muitas vezes por impulsos sexuais.

CM – Qual a diferença entre um incendiário e um pirómano?

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Cristina Soeiro – Um incendiário pratica o ato de colocar fogo com intenção. Ao invés, a piromania é muito rara. Aliás, em Portugal nós não temos pirómanos.

CM – Quais as motivações que levam um incendiário a agir?

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– Os incendiários podem colocar fogo por diversas motivações: deficit cognitivo, receber dinheiro, vingança. O que temos são pessoas com uma história clínica. Aliás, cerca de 55% dos incendiários têm indicadores clínicos como doença alcoólica, depressão profunda e outras doenças mentais, como a esquizofrenia.

CM – O que faz um incendiário após cometer o crime?

– Há quem ateie fogos e depois vá masturbar-se. A exposição mediática dos fogos, em especial o mostrar a chama, as vítimas a chorarem, também não ajuda no trabalho de prevenção. Defendo que, nos órgãos de comunicação social, se deviam mostrar mais os efeitos que os incêndios provocam.

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CM – Além das causas mentais, existem outras motivações para atear fogos?

– Sim. Cerca de 3% dos incendiários que estudamos, agem em busca de benefício próprio, como criar caminhos florestais graças ao fogo, entre outros. Há ainda uma pequena percentagem que busca vantagens pessoais ou profissionais.

CM – A tragédia de Pedrógão Grande pode mudar a análise dos incendiários?

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–Pensamos que, acima de tudo, faz reforçar a necessidade de prevenção. A nível da floresta e da gestão e, acima de tudo, nos jovens e doentes mentais, num trabalho de prevenção de condutas.

PERFIL 

Cristina Soeiro, 52 anos, é psicóloga forense de formação e presta serviço na Polícia Judiciária há 26 anos. Neste momento, é a responsável pelo Gabinete de Psicologia da Escola da Polícia Judiciária, em Loures. Começou a sua atividade profissional como professora universitária, trabalhando depois como responsável pela formação em psicologia forense no Instituto Superior de Ciências de Saúde Egas Moniz.

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