Manuel Vicente julgado à parte noutro processo
Angola recusa notificar ex-vice-presidente da acusação. Tribunal assume que é uma posição “legítima”.
O coletivo de juízes, presidido por Alfredo Costa, decidiu ontem, na primeira sessão do julgamento da Operação Fizz, separar os processos. Manuel Vicente, o ex-vice-presidente de Angola, acusado de corromper um magistrado português, vai ser julgado à parte.
A decisão foi tomada na sequência da resposta das autoridades angolanas - que chegou ontem à Procuradoria-Geral da República - à carta rogatória do Ministério Público para a notificação de Manuel Vicente.
Angola defendeu que Portugal não pode presumir que o ex-governante angolano terá imunidade, pelo menos até que aprecie o processo. Reforçou ainda o pedido de envio dos autos para Luanda, mas disse que nunca notificaria Manuel Vicente da acusação do Ministério Público (MP) português.
Num beco sem saída, o juiz foi obrigado a recuar na posição anteriormente tomada, dizendo mesmo que a postura de Angola é legítima face à cooperação internacional.
Também a posição do MP, que sempre foi contra o envio do processo e a separação do mesmo, se alterou. A procuradora Leonor Machado justificou a separação com o facto de o ex-procurador Orlando Figueira estar há mais de dois anos com medida privativa da liberdade (pulseira eletrónica).
A dúvida agora é saber se o processo relativo ao ex-braço-direito de Eduardo dos Santos será julgado no Tribunal Criminal de Lisboa ou se será enviado para as mãos da Procuradoria-Geral de Angola. Aguarda-se a resposta ao recurso da defesa de Manuel Vicente que está desde 15 de janeiro no Tribunal da Relação de Lisboa.
O julgamento prossegue com três arguidos no banco dos réus. Mas deixou de haver ‘corruptor ativo’.
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"Há recursos pendentes no Tribunal da Relação", referiu, acrescentando que "nada impede que este tribunal tome as decisões que soberanamente entender".
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PORMENORES
Imunidade não é opção
Rui Patrício garantiu ontem que a imunidade não é uma opção. "É um problema de Estado. O meu cliente [Manuel Vicente] não pode prescindir dela", garantiu.
Cooperação judiciária
O Ministério Público em Angola volta a invocar a cooperação judiciária e volta a pedir a Portugal para mandar o processo para o país.
Contumaz em causa
A possibilidade de Manuel Vicente vir a ser declarado contumaz é afastada por Rui Patrício. "Não me parece possível", garante o advogado que recusa a possibilidade de serem emitidos mandados.
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