Pilotos de aeronave defendem-se em investigação por homicídio
Instrutor e aluno não prestaram declarações durante interrogatório com procuradora do Ministério Público.
Passaram o dia inteiro no Tribunal de Almada, mas saíram em liberdade, com termo de identidade e residência, depois de serem ouvidos por uma magistrada do Ministério Público.
Mas tanto o instrutor Carlos Conde de Almeida – homem conceituado entre a comunidade aeronáutica que trabalhou na TAP vários anos – como o aluno Rui Relvas foram constituídos arguidos por homicídio negligente.
Nem à entrada nem à saída do tribunal quiseram falar sobre o caso e mesmo perante a procuradora Teresa Sanchez, sabe o CM, ficaram em silêncio.
De acordo com Pedro Calhamar, um piloto com 35 anos de experiência, Conde de Almeida "é um instrutor experiente, com conhecimentos de mecânica e de aeronáutica" e não critica a decisão tomada pelo piloto. "Estou certo que não quis fazer mal a ninguém. Aterrou com vento a ‘dar de trás’ e isso deu-lhe velocidade. Foi mais à frente do local onde esperava aterrar".
Pedro Calhamar acrescenta que "amarar vem nos manuais, mas uma coisa é estar no papel e outra é a realidade. Pessoalmente teria ido para o mar, mas estou a falar aqui e agora. Lá não sei qual a decisão que tomava."
"Quanto mais baixo se está mais difícil é e menos tempo se tem para tomar uma decisão. Eu próprio já tive de fazer três aterragens de emergência. E uma delas com falha de motor. Felizmente não aconteceu em zonas com população. Amarar em aviões como aquele tem um problema e pessoas experientes sabem isso. Têm rodas fixas e todo o peso está à frente. Quando se amara um avião como aquele, ele capota na água. Quem vai lá dentro tem dificuldade em sair e pode facilmente morrer afogado", explica.
Asas arrancadas para levar aeronave acidentada
O Cessna 152 com a matrícula CS-AVA foi removido da praia para um hangar na zona da Cova do Vapor, na Trafaria, onde ficou durante a noite. Já ontem foi levado deste local pelas autoridades para ser submetido a mais perícias. Para efetuar o transporte, com recurso a um camião, as assas foram removidas.
Peritos em acidentes aéreos colaboram com Judiciária
A investigação vai ficar a cargo da Polícia Judiciária, em colaboração com o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários (GPIAAAF). O CM sabe que os investigadores já solicitaram à MEO as imagens das câmaras instaladas na praia de São João e estão a verificar se há outras câmaras na zona do estuário do Tejo que possam ter captado os últimos momentos do voo que terminou na praia de São João.
Pormenores
Seguros e revisões em dia
O Aeroclube de Torres Vedras, dono da aeronave, garantiu que a mesma se encontrava "em plenas condições mecânicas, com todas as revisões e certificações exigidas, bem como coberta pelo necessário seguro".
Homicídio negligente
Os dois tripulantes arriscam uma pena que pode chegar aos três anos de cadeia. Em caso de negligência grosseira a pena pode atingir os cinco anos.
Testemunhas na praia
Logo a seguir ao acidente, a Polícia Marítima ouviu e identificou dezenas de testemunhas. Muitas outras pessoas que viram o sucedido deslocaram-se às instalações desta polícia, na Caparica, disponibilizando-se para prestar esclarecimentos.
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