Polícias corruptos espalham terror na noite
Dois agentes da PSP eram vigilantes em discotecas, ao lado de sete seguranças, e também agrediam clientes.
As mais de 20 queixas por agressões que se acumularam na PSP local, fora a quantidade de crimes não participados por medo, na sequência de ameaças, deram à Justiça uma dimensão do clima de terror que se vivia em bares e discotecas de Torres Vedras – onde jovens clientes eram coagidos e espancados. Na origem de toda a violência estava um grupo organizado, com sete seguranças de duas empresas e dois agentes da PSP e um militar da GNR, que eram cúmplices dos primeiros e também lhes davam proteção.
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Foram os dez presos pela Unidade Nacional de Contraterrorismo da Polícia Judiciária, por uma série de crimes que tinham por objetivo a imposição e manutenção de serviços de segurança nos espaços noturnos. O garante deste negócio passava por criarem um clima de medo e insegurança à porta dos locais de diversão – agredindo até jovens clientes de forma gratuita.
Respondem por crimes de sequestro, segurança ilegal, coação, ofensas à integridade física, posse e tráfico de armas ilegais – brancas, sobretudo bastões – e ainda corrupção, no caso dos três polícias. O agente José Braz e outro colega da PSP, que também esteve colocado na zona de Torres Vedras, dedicavam-se à segurança ilegal, participaram em agressões e terão sido subornados para controlarem, na Polícia, eventuais queixas que corressem contra os cúmplices.
Quanto ao guarda João Pina, da GNR, que trabalhava no destacamento de Trânsito de Torres Vedras, foi detido por corrupção. Terá perdoado, a troco de subornos, multas de trânsito.
Uma das formas encontradas pelos polícias para tentarem controlar os processos que estivessem a correr contra os cúmplices era através de pesquisas informáticas no sistema interno da PSP – que, por questões de segurança, deixa sempre rasto. Fica registado quem consultou, o quê, e quando, na base de dados. Também esses registos fazem agora parte da prova recolhida pela investigação da PJ.
Um dos agentes da PSP envolvidos, sabe o CM, é considerado extremamente violento e tinha uma forte ligação aos seguranças que participaram nos crimes. As empresas a que pertencem os seguranças detidos são a Mama Sume e a LB - Segurança, que também foram alvo de buscas da PJ na operação que foi levada a cabo na terça-feira.
Amizade entre PSP e GNR envolvidos José Braz, agente da PSP de Torres Vedras, e João Pina, do Destacamento de Trânsito da GNR, eram muito amigos. Eram vistos juntos na noite da cidade com grande frequência.
Polícia apanhado à saída de turno
O agente José Braz foi preso pela PJ perto das 07h00 de terça-feira, na PSP de Torres Vedras, onde presta serviço, após acabar mais um turno.
Futuro nas mãos do juiz Ivo Rosa Ivo Rosa, juiz no Tribunal Central de Instrução Criminal, é o titular do processo e estava ontem à noite a interrogar os dez detidos, entre os quais os polícias, para aplicação de medidas de coação.
PORMENORES
Preso em dia de folga
João Pina, do Destacamento de Trânsito da GNR de Torres Vedras, foi detido na terça-feira, em dia de folga. O guarda é casado e tem um filho menor.
Dois polícias amigos
José Braz, da PSP de Torres Vedras, e o segundo agente da PSP preso pela PJ, eram amigos próximos. Os dois trabalharam juntos vários anos.
Três flagrantes
Três dos seguranças detidos foram, segundo o Ministério Público, apanhados em flagrante a fazer segurança ilegal.
PJ ataca empresas de segurança A Unidade Nacional de Contraterrorismo da Polícia Judiciária (UNCT/PJ) realizou, no âmbito desta investigação, buscas nas empresas de segurança Mama Sume, em Belas, Sintra, e na firma LB - Segurança, em Alcabideche, Cascais.
As detenções dos sete seguranças – seis homens e uma mulher – ocorreram em simultâneo com estas diligências, que permitiram apreender diversa documentação que ligará os detidos à atividade de segurança ilegal. A investigação da UNCT/PJ, de resto, começou por denúncia e levou às cerca de duas dezenas de queixas feitas às forças de segurança, devido a situações de extrema violência praticadas por seguranças na noite de Torres Vedras.
Os suspeitos agora apanhados terão começado a prática criminosa, que começa pela prática de segurança ilegal a coberto de duas empresas com alvará, em 2015. E passaram depois à violência como forma de assegurarem o negócio nos espaços.
Há mesmo registo de ofensas à integridade física graves a clientes de estabelecimentos de diversão noturna, bem como sequestros. A PJ passou meses a investigar o caso e, além da violência, chegou também a um esquema de corrupção a elementos da PSP e da GNR.
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