Veiga paga corrida ao Benfica

Rangel retribui com favores na Justiça.

03 de fevereiro de 2018 às 02:20
Veiga apoiou Rangel contra Vieira na corrida ao Benfica Foto: Pedro Simões
Rangel, Benfica, buscas, julgamento, josé veiga, Vieira, luvas, corrupção, favores Foto: Vítor Mota
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Rangel, Benfica, buscas, julgamento, josé veiga, Vieira, luvas, corrupção, favores Foto: Tiago Sousa Dias
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Rangel, Benfica, buscas, julgamento, josé veiga, Vieira, luvas, corrupção, favores Foto: Mariline Alves
Rangel, Benfica, buscas, julgamento, josé veiga, Vieira, luvas, corrupção, favores Foto: Homem de Gouveia / Lusa

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A relação de José Veiga com Rui Rangel, e todo o apoio financeiro que o empresário deu ao juiz desembargador na corrida à presidência do Benfica, em 2012, quando concorreu contra Luís Filipe Vieira, tem um interesse extradesportivo, acreditam a Judiciária e o Ministério Público. Visou pagar favores ao magistrado por intervenções, diretas ou influenciando colegas, em processos a correr contra Veiga, nomeadamente fiscais. Por isso, o financiamento da campanha é considerado crime, de corrupção ou tráfico de influências – que apanha, por branqueamento, Fernando Tavares, atual vice-presidente do Benfica que foi diretor da campanha de Rangel.

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Por isso, Tavares é arguido na operação Lex – sob suspeita de ajudar a ‘lavar’ dinheiro para o juiz, tendo conhecimento do que estava em causa. De resto, a investigação acredita que a teia montada em torno de Rangel – para que o juiz movesse influências na Justiça, violando os seus deveres – continuou a estender-se ao Benfica, nomeadamente através do advogado Jorge Barroso, agora detido na operação Lex, que fez parte da lista de Rangel contra Vieira – mas que o presidente reeleito do Benfica depois acolheu: Barroso trata de negócios imobiliários do líder dos encarnados. E Vieira, recorde-se, é arguido por suspeitas de também ele meter cunhas a Rangel em troca de cargos no universo do Benfica.

Quanto a Veiga, que mais tarde foi apanhado a transferir 300 mil euros para Rangel – através de testas de ferro –, foi o próprio quem confirmou à Justiça, em 2016, que, à mesa do Hotel Ritz, pediu a Rangel que o ajudasse a resolver o processo tributário que sobre ele corria decorrente do caso João Pinto, em que fora condenado por fraude fiscal – e o juiz anuiu. Em troca, queria ter apoio financeiro para uma futura candidatura ao Benfica.

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Juíza suspeita estava a um passo do STJ  

Fátima Galante, suspeita de vários crimes, nomeadamente de ter escrito acórdãos ‘vendidos’ que o ex-marido, Rangel, assinou, poderia chegar ao topo da carreira já na terça-feira, como juíza conselheira no Supremo. Decisão ia ser tomada no Conselho Superior da Magistratura, que a suspendeu esta sexta-feira.

"Não pratiquei ilícitos. Exijo à Justiça a verdade" 

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Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica constituído arguido por tráfico de influências, disse esta sexta-feira estar "de consciência totalmente tranquila". "Não pratiquei qualquer ilícito. É com enorme estupefação que vejo o meu nome associado a este processo. Nunca confundi ou misturei a minha vida pessoal e profissional com a instituição Benfica", garantiu. "Confio na Justiça. Espero e exijo dela a pronta reposição e o esclarecimento da verdade, para o qual manifesto a minha total disponibilidade." "Quero transmitir a todos, amigos, benfiquistas e portugueses em geral, que nada temo e que estou tranquilo porque estou seguro da minha conduta em todos os domínios da minha vida", disse Vieira.

"Suspensos por violação de deveres"

Asituação de Rui Rangel e Fátima Galante estava insustentável no Tribunal da Relação de Lisboa, depois de terem sido alvo de buscas na terça-feira, sob suspeita de crimes como corrupção, tráfico de influências ou branqueamento de capitais, e esta sexta-feira, finalmente, foram suspensos de funções pelo Conselho Superior da Magistratura (CSM). Num comunicado assinado pelo vice-presidente do CSM, juiz conselheiro Mário Morgado, a suspensão justifica-se com "uma muito grave, dolosa e reiterada violação dos deveres profissionais a que se encontram adstritos os magistrados judiciais, suscetível de se repercutir na sua vida pública de forma incompatível com a credibilidade, prestígio e dignidade indispensáveis ao respetivo exercício funcional".

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"Na sequência da solicitação oportunamente efetuada pelo CSM, foi hoje [sexta-feira] recebida uma certidão emanada dos serviços do Ministério Público junto do Supremo Tribunal de Justiça, relativa a um inquérito criminal em que se encontra indiciada a prática por dois juízes desembargadores – arguidos – de crimes de corrupção/recebimento indevido de vantagens, de branqueamento, de tráfico de influência e de fraude fiscal."

Assim, o CSM justifica com um atraso do Ministério Público o facto de a decisão de suspensão não ter sido tomada antes – visto que, quinta-feira, dois dias depois de ter rebentado o escândalo de corrupção, Rui Rangel era esperado para despachar quatro processos na 9ª secção da Relação de Lisboa. Faltou, alegando motivos profissionais.

Agora que a informação chegou ao CSM, "depois de ouvidos todos os membros do conselho, mais foi determinado, por despacho do vice-presidente, suspender preventivamente os mencionados juízes desembargadores arguidos, com execução imediata, por imperativo de relevante interesse público. Este despacho será submetido ao plenário de terça-feira", que assim deverá chumbar a promoção de Fátima Galante a juíza conselheira no Supremo.

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Investigação  ao caso Centeno "foi adequada" 

Joana Marques Vidal, procuradora-geral da República, disse esta sexta-feira que, em relação ao caso Centeno, a propósito do pedido de bilhetes do ministro ao Benfica, a investigação foi feita "de forma adequada e o arquivamento seguiu a tramitação habitual".

Provas podem dar novos suspeitos  

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A investigação da PJ não está concluída e pode levar a novos arguidos e até a novas detenções nos próximos tempos, em função da prova agora recolhida nas buscas e nos interrogatórios aos cinco detidos. Só os juízes estão a salvo de detenções, pelo estatuto.

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