Saiba quem são os suspeitos no processo sobre projetos de lítio e hidrogénio que envolve António Costa
Em causa estarão crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência.
O primeiro-ministro, António Costa, está a ser alvo de uma investigação autónoma do Ministério Público num inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio, revelou esta terça-feira a Procuradoria-Geral da República (PGR). A PGR confirmou que a investigação surge após "o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do Primeiro-Ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos".
Em causa estarão crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência. Estão a ser investigadas as concessões de exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso (Boticas); um projeto de central de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, apresentado por consórcio que se candidatou ao estatuto de Projetos Importantes de Interesse Comum Europeu (IPCEI); o projeto de construção de "data center" desenvolvido na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade "Start Campus".
A integrar a lista de suspeitos encontra-se João Galamba. É arguido. Tem 47 anos e mais polémicas. Ministro das Infraestruturas desde janeiro (substituiu Pedro Nuno Santos), demitiu-se por causa da polémica com o assessor Frederico Pinheiro, mas Costa segurou-o contra a vontade de Marcelo. E, a jeito de provocação, foi porta-voz do Governo no debate do Orçamento. Trauliteiro, usou as redes sociais para chamar "estrume" e "coisa asquerosa" à reportagem da RTP que lançou a investigação ao caso lítio, quando ele era secretário de Estado da Energia. É-lhe atribuído, em 2014, o alerta a Sócrates: vinha lá "qualquer coisa contra ele muito rapidamente", a ‘Operação Marquês’.
Vítor Escária foi detido. Chefe de gabinete do primeiro-ministro, era um ministro sem pasta. Aliás, o homem por quem todos os ministros tinham primeiro de passar antes de chegarem a António Costa. O especialista em fundos europeus, de 52 anos, fora consultor económico do PM no seu primeiro mandato (já o tinha sido com José Sócrates e o seu nome aparece 83 vezes no processo ‘Marquês’), tendo-se demitido em 2017 por ser arguido no ‘Galpgate’ - viagens pagas pela Galp, a ele e à mulher, ao Euro 2016. Pagou em 2020 uma injunção de 1200 € e voltou um mês depois para São Bento.
Diogo Lacerda Machado foi também detido. "Melhor amigo" de António Costa - desde a faculdade - e seu padrinho de casamento. "Sou um homem com certidão de presunção de malandro", disse ao ‘Expresso’, na ribalta ao mediar em favor do Estado, uma ajuda "pro bono" - depois lá fez um contrato de 2 mil €/mês -, casos como TAP, BPI e lesados do BES. Quando Costa foi MAI, esteve no júri dos Kamov, um dos grandes buracos onde o Estado se meteu. Foi secretário de Estado de Costa no Ministério da Justiça e é diretor da Mystic Invest, do empresário Mário Ferreira. Nesta investigação, era consultor/advogado da Start Campus.
Duarte Cordeiro é suspeito. O antigo secretário-geral da Juventude Socialista, diretor de campanha de Manuel Alegre e atual ministro do Ambiente desde março de 2022 é outro dos nomes no processo por ter alegadamente caído na teia que levou à aprovação dos projetos mais recentes, nomeadamente os de Sines. Tem 44 anos, foi deputado de 2009 a 2013 e secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (2019 a 2022), sucedendo a Pedro Nuno Santos, e tendo sido sucedido por Ana Catarina Mendes, dois putativos futuros líderes do PS. É presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS.
João matos Fernandes também é suspeito. Terá sido alvo de buscas ontem e está em escutas com António Costa. Foi ministro do Ambiente de 2015 a 2022 (sucedeu-lhe Duarte Cordeiro), período no qual se deram negócios suspeitos. Teve João Galamba - que assinou o contrato do lítio com a Lusorecursos, fundada três dias antes, ao que o ministro reage que "só por estultice ou por má-fé se pode usar o argumento da juventude da empresa" - como seu secretário de Estado à frente do caso. Trocou mimos com Rui Rio (PSD): "cheira a esturro", "desligue o forno, "empadão de mentiras", "sobras do jantar" e "banhos de ética".
Nuno Lacasta é arguido. Como presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) é responsável pelos licenciamentos. Afirma trabalhar na área "há mais de 20 anos, na Europa e nos EUA".
Nuno Mascarenhas foi detido. É presidente da Câmara de Sines há 10 anos (vai a meio do terceiro e último mandato) e tem cargos regionais. Foi chefe na Administração do Porto de Sines (2005 a 2013).
Afonso Salema também foi detido. É há dois anos presidente executivo da Start Campus que entra na investigação pelo projeto do ‘data center’ em Sines. É engenheiro formado pelo Técnico e foi analista do BES.
Rui Oliveira Nunes também detido, é o diretor jurídico e de sustentabilidade. É sócio do gabinete de advocacia de Morais Leitão e assessorou empresas nacionais e estrangeiras e o Estado no setor energético.
João Tiago Silveira é o segundo sócio da sociedade de advogados Morais Leitão a ser constituído arguido na investigação, avançou esta quinta-feira o jornal
João Tiago Silveira é o segundo sócio da sociedade de advogados Morais Leitão a ser constituído arguido na investigação, avançou esta quinta-feira o jornal Eco. O ex-secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros integra a lista de nove arguidos, de acordo com o despacho de indiciação entregue às defesas dos detidos. Ex-porta voz do Partido Socialista, desempenhou o cargo de secretário de Estado da Justiça no governo de José Sócrates e integrou o Conselho Superior do Ministério Público.
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