Terror de Alpiarça tem apenas 13 anos
É caso para dizer que os habitantes de Alpiarça já podem dormir mais descansados. Um rapaz de 13 anos que nos últimos meses abalou a pacatez da vila, com sucessivos assaltos, ameaças e injúrias, acaba de ser internado, por ordem de Tribunal, numa instituição reeducativa. “Nós vivíamos aqui aterrorizados”, desabafou ontem uma das vítimas, para quem a medida judicial era a mais desejada.
As malfeitorias de Manuel (nome fictício) têm anos, mas pioraram nos últimos tempos até se tornarem na principal dor de cabeça da GNR. Desde Maio, há 15 queixas contra ele, incluindo o furto de 45 euros na biblioteca de Alpiarça, instalada no mesmo edifício do posto da GNR – o quartel é no rés-do-chão e os livros no primeiro andar. “A situação era insustentável”, afirmou um militar, que não tem dúvidas em apontá-lo como o ladrão mais activo no concelho.
Filho de um bombeiro, o adolescente actuava em toda a vila e “varreu de alto a baixo” a rua onde mora com os pais, atacando no interior de automóveis e em residências. “Até a casa do avô ele assaltou”, queixa-se um morador. Dinheiro, telemóveis e ouro faziam a sua preferência, para desespero dos vizinhos. “Às vezes levava umas brincadeiras, como um skate, porque é um miúdo. Houve uma casa onde ele entrou quatro vezes e a senhora viu-o sempre, mas ele fugia”, adiantou um habitante.
Na rua onde cresceu, a relação de Manuel com os outros complicou-se, perante tantas suspeitas, sendo acusado de “provocador e mal-educado”, com ameaças e injúrias.
Impossibilitada de agir, dado que se trata de um menor e não pode ser responsabilizado criminalmente, a GNR decidiu promover uma recolha de assinaturas na vila para ‘pressionar’ o Ministério Público a abrir um processo contra o adolescente com vista ao internamento num colégio.
Reunidas as queixas, foi elaborada uma participação. O Ministério Público ouviu o suspeito e investigou. E há uma semana, ao abrigo da Lei Tutelar Educativa, o Tribunal de Almeirim mandou Manuel para uma instituição de reeducação. Agora, os habitantes de Alpiarça acreditam que as noites de sossego vão voltar.
"DEIXA-SE INFLUENCIAR POR OUTROS"
O exemplo do pai, bombeiro voluntário, não parece ter impressionado Manuel, que desde a infância tem adoptado comportamentos inadequados à idade e, por vezes, à margem da própria lei. A mãe do adolescente reconhece o problema e admite que o filho é autor de alguns furtos em Alpiarça, mas culpa “as más companhias” pelo currículo pouco recomendável entretanto acumulado pelo adolescente. “O que ele faz é provocado por influência de outras pessoas”, afirmou ontem a mãe. Para ela, há algum exagero no que se diz na vila: “Muitas das coisas que lhe são atribuídas são mentira”, disse. Há semanas, Manuel foi surpreendido a meio de um furto pela proprietária de uma residência. Estava com um amigo da mesma idade. Tinham entrado pelo telhado e foram encontrados na cozinha. Na mesma casa, há ano e meio, Manuel furtou 60 euros e um molho de chaves. Desta vez voltou a tentar a fuga, pelo quintal, mas seria apanhado por alguns moradores, que chamaram a GNR. Uma queixa que reforçou o processo entregue no Ministério Público. A mãe queixa-se que Manuel “não aceita os conselhos” que os pais lhe dão, preferindo seguir, segundo a progenitora, o que certos amigos lhe dizem. “Ele tem bom coração, é inteligente, mas deixa-se influenciar com facilidade”.
INTERNADO PELA TERCEIRA VEZ
REINCIDENTE
Esta é a terceira vez que Manuel é enviado para uma instituição destinada a jovens que violam a lei e que por serem menores de 16 anos não podem responder criminalmente.
ESCOLA
O desempenho escolar do adolescente de Alpiarça não é o melhor, tendo sido transferido para uma escola em Santarém a fim de lhe ser dado um enquadramento alternativo.
MÁ FAMA
A GNR atribui inúmeros assaltos a Manuel, mas suspeita que alguns furtos em Alpiarça foram realizados por outros indivíduos, aproveitando a sombra da fama do adolescente.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt