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Sobrevivente acusa: “Arrastaram-nos para a morte”

Homem aponta o dedo à GNR por ter desviado carros para a EN236, onde morreram 47 pessoas.

20 de junho de 2017 às 01:30

"Não me consigo esquecer daquela mãe a arder com os dois filhos ao colo. Eu salvei a minha neta, mas quem perdeu os seus?", questiona Armindo Graça, revoltado.

Pobrais faz jus ao nome. Pobre, triste, desolada. Com cheiro a morte. O ar é pesado, a névoa de fumo corta a respiração. Pobrais perdeu 11 dos 30 moradores.

O "senhor Vítor", como todos o tratavam, só foi encontrado ontem à tarde, numa amálgama de cinzas, restos de ossos que confirmam o corpo após a passagem de mais um vizinho na casa que hoje são escombros.

Sabia-se que estaria morto, mas pensaram que, na fuga, tivesse sido levado por alguém para a EN236, ali ao lado, a estrada da morte onde ficaram 47 pessoas carbonizadas. Ao todo, pelo balanço oficial provisório das autoridades, estavam segunda-feira à noite contabilizados 64 mortos e 135 feridos.

No caso da EN236, garante ao CM Armindo Graça, "arrastaram-nos para a morte. Deixaram-nos ir". Refere-se à GNR, tal como duas outras testemunhas ouvidas no domingo pelo CM, que dizem terem sido os militares a encaminhar condutores para a estrada onde acabaram por morrer. "Aquilo era um inferno. Seria muito difícil sobreviver naquela estrada", diz Armindo.

O CM questionou o Comando-Geral da GNR sobre esta opção tomada para escoar o trânsito face ao avançar das chamas do incêndio de Pedrógão Grande, mas não obteve resposta até à hora de fecho desta edição.

Em Pobrais, uma das duas aldeias mais massacradas, chora-se na tragédia. "Este cão anda por aqui. Era dos meus vizinhos, quatro pessoas que ficaram encurraladas nas chamas", conta Manuel Cunha. "Eu fecho os olhos e só vejo aquela mãe com os filhos nos braços. Estavam a arder", diz Armindo.

"Não precisamos de governantes agora. Precisávamos antes que estivessem perto de nós, que a GNR tivesse cortado as estradas, que a população tivesse sido ajudada a tempo", diz.

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