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Cláudia Simões tira peruca em tribunal para provar que não forçou agressões de PSP

Defesa de polícia acusa mulher de se aproveitar do mediatismo do caso para receber indemnização de 200 mil euros.

19 de junho de 2024 às 20:00
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Novo vídeo mostra detenção de Cláudia Simões

A defesa do agente da PSP acusado de agredir Cláudia Simões numa paragem de autocarro na Amadora alegou que a mulher mentiu e que se está a aproveitar do protagonismo alcançado com a situação para receber uma indemnização cível de 200 mil euros. A cozinheira chegou a tirar a peruca para mostrar que não recuperou na totalidade dos ferimentos.

Enquanto os advogados de Cláudia Simões sustentam que houve uso de força excessiva e abuso de poder, os do agente Carlos Canha asseguram que a situação foi exagerada pela mulher para obter um benefício.

Na segunda parte das alegações finais, esta quarta-feira no Tribunal de Sintra, os advogados de Carlos Canha fizeram críticas severas tanto à defesa de Cláudia Simões, como a todos os ativistas, políticos e associações que já se pronunciaram sobre o caso. Descrevem como "ridículo" justificar que o polícia tenha atuado com motivações racistas. Garantem que o PSP agiu no cumprimento do dever e que a detenção só foi atribulada devido ao comportamento pouco colaborante da mulher.

O caso remonta a 19 de janeiro de 2020, quando Cláudia Simões entrou com a filha, à data com oito anos, num autocarro da Vimeca. A menina esqueceu-se do passe e, por isso, a mãe foi alertada pelo motorista de que deveria pagar o bilhete ou abandonar o autocarro. Segundo o depoimento do condutor, Cláudia Simões disse: "Este motorista tem de levar uma surra".

Este terá sido o comentário que despoletou a altercação. Por se sentir ameaçado, o motorista parou o autocarro e pediu auxílio à PSP, que na altura passava junto a uma paragem, para identificar Cláudia. Face à recusa da mulher em lhe mostrar a identificação, o agente Carlos Canha tentou detê-la e algemá-la, enfrentando a resistência e a postura pouco colaborante da mulher.

O caso ganhou destaque mediático depois de vídeos da detenção de Cláudia Simões terem sido divulgados nas redes sociais. Nas imagens é possível ver a mulher no chão a ser imobilizada pelo agente. É possível também ouvir o agente da PSP dizer "Levas um balázio", mas segundo o próprio esta mensagem não era dirigida a Cláudia e sim a um transeunte que estava a questionar o comportamento dele. Várias personalidades que se assumem antirracistas revoltaram-se com o sucedido.

Outros dois agentes, João Gouveia e Fernando Rodrigues, também arguidos no processo, enfrentam acusações de abuso de poder. Foram estes os polícias que ajudaram Carlos Canha a transportar Cláudia Simões para a esquadra após a detenção.

Cláudia Simões e Carlos Canha são simultaneamente vítimas e arguidos no processo. O agente da PSP é acusado de três crimes de ofensa à integridade física qualificada, três de sequestro agravado, um de abuso de poder e outro de injúria agravada contra Cláudia Simões. A mulher é acusada de ofensa à integridade física qualificada por ter mordido a mão do polícia durante a detenção.

Durante a sessão desta quarta-feira, os advogados do agente Canha apontaram para supostas inconsistências apresentadas por Cláudia Simões nas sessões do julgamento, bem como nas versões apresentadas pelos seus familiares. Segundo a defesa, as próprias imagens do momento da detenção provam as incoerências.

A defesa de Cláudia Simões encarou com perplexidade as alegações dos advogados dos agentes da PSP, considerando que estes deturparam os factos e que ignoraram as provas apresentadas. A advogada chegou ainda a questionar a conduta da defesa dos agentes da PSP após esta ter deixado críticas à comunicação social, a antropólogos e a políticos que deixaram um posicionamento sobre o assunto.

O Ministério Público considerou que a arguida exagerou na forma como descreveu os acontecimentos em tribunal. "Se não lhe tivesse mordido a mão morria", disse Cláudia.

O advogado de Canha colocou a hipótese de Cláudia Simões ter autoinfligido ferimentos para prejudicar o agente da autoridade. "O objetivo são os 200 mil euros", disse, sustentando que quem apoiou a sua defesa lhe fez criar "expectativas desmesuradas" sobre o benefício que iria obter com o processo.

Quando tomou a palavra, Cláudia fez questão de tirar a peruca que trazia para mostrar uma zona do couro cabeludo. "Já passaram quatro anos e este cabelo não cresce. Eu sonhei que fui agredida? Que me puxaram o cabelo? Eu fui agredida e custa-me sempre vir até aqui", confessou.

A Leitura da sentença ficou marcada para 1 de julho.

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