Especialistas explicam como o fogo do Pedrógão cresceu tão depressa. Vítimas terão desfalecido antes de chegarem as chamas.
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Tudo o que podia correr mal, correu mal. Termómetros acima dos 40 graus, instabilidade atmosférica, uma tempestade seca com vários raios a cair em árvores, ventos instáveis a soprar forte.
A tragédia de Pedrógão Grande resulta de uma combinação de fatores que dificilmente poderiam ser contrariados pela ação humana.
Paulo Fernandes, engenheiro florestal e especialista em comportamento do fogo diz ao CM que as condições que se verificaram este sábado na zona do Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos reuniram todas as condições para um incêndio repentino. Com muitas agravantes. Pelo menos 47 das mais de 60 vítimas ficaram encurraldas na estrada nacional 236, que liga Figueiró dos Vinhos a Castanheira de Pera. Caíram numa armadilha mortal.
"A comprovar-se que o fogo foi causado por raios, esta situação é muito mais difícil de combater do que um fogo posto por ação humana. Porque no primeiro caso, o mais frequente é haver múltiplos pontos de ignição, com os raiso a cair nos pontos mais altos das serras, que são os mais inacessíveis. No caso dos incêndios com causas humanas, é frequente que começem perto de casas ou estradas, onde os acessos são melhores".
Um outro investigador de incêndios florestais, com currículo na investigação criminal, explica a vertigem das chamas: "A projeção de material incandescente é brutal. Uma folha de eucalipto, por exemplo, pode voar mais de dois quilómetros enquanto está a arder", explica o especialista. Ou seja o calor intenso e o vento que se faziam sentir fez com que o fogo se propagasse rapidamente a uma vasta área, criando uma perigosa bacia de fogo e fumo.
Fumo letal
A estrada EN 236 está rodeada de floresta. Nesta altura do ano as plantas estão em pleno processo de crescimento. O que agrava a perigosidade do fogo. "Há mais humidade nas plantas, o que faz com que a combustão produza mais fumo. A composição química das folhas é diferente da que se verifica no verão, com maior toxicidade", diz Paulo Fernandes, docente da UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Os condutores que seguiam na estrada ter-se-ão deparado com esta parede de nevoeiro provocado pelo fumo esbranquiçado. A estrada até poderia já estar cortada, mas entre os dois pontos em que as autoridades vedam o acesso há sempre quem fique no meio. Os que já circulavam antes da estrada ser fechada e os que ali estavam apeados e tentaram fugir para a estrada principal com os seus carros ao sentir o fogo a aproximar.
"Perante o nevoeiro, as pessoas não sabem se o fogo está próximo e a tendência é avançar. Mas depois as pessoas perdem totalmente a visibilidade, desorientam-se e ficam encurraladas. O fumo é extremamente tóxico, as pessoas desfalecem, têm dificuldades respiratórias, perdem o discernimento", explica o investigador contatado pelo CM. Sem noção do sítio por onde entraram na estrada, a fuga torna-se quase impossível.
O fumo terá matado antes das chamas. Conta quem já investigou centenas de casos de incêndios. "Acredito que as vítimas ficaram inconscientes. Mesmo as que foram encontradas carbonizadas, só foram queimadas muito depois de perderem os sentidos e estariam já mortas por causa da inalação de fumos". Sinal disto é a disposição dos cadáveres. "Quando alguém é atingido pelas chamas, ó corpo é encontrado com os braços em posição defensiva, como se fosse um 'boxeur' a tentar apagar o fogo com as mãos. Se os corpos são encontrados com os braços caídos ao longo do corpo, isto quer dizer que estariam inconscientes quando as chamas chegaram".
Paulo Fernandes considera que um fogo com estas características "excede a capacidade de extinção dos meios no terreno". "Quando muito, pode tentar-se controlar a cauda e as frentes do incêndio". Mas o professor universitário acha que a Proteção Civil poderia ter feito mais, antes de as chamas chegarem. "Eram conhecidas as condições esperadas para esta região. A vigilância deveria ter sido reforçada e os meios acionados mais cedo. Conheço a estrada [a EN 236-1] onde aconteceu o incêndio. É uma estrada estreita, com muitas curvas e ladeada de florestas de eucalipto, que são mais perigosas porque propagam o fogo as grandes distâncias. Não conheço as circunstâncias, mas talvez a estrada devesse ter sido encerrada mais cedo".
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