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ESCRIVÁ SOBE AOS ALTARES

Amanhã, pelas 10h00 (9h00 de Lisboa), na Praça de São Pedro, na presença de 500 bispos de todo o mundo, o Papa João Paulo II preside às cerimónias de canonização de Josemaría Escrivá de Balaguer, fundador do "Opus Dei".

04 de outubro de 2002 às 21:16

Mais de 250 mil membros e cooperadores do "Opus Dei" provenientes de 87 países, entre os quais cerca de 2200 portugueses, são esperados na capital italiana para participar nas cerimónias.

Para além de muitos homens e mulheres, anónimos cidadãos do nosso mundo laboral, a comitiva portuguesa é formada por amplo leque de nomes conhecidos da vida religiosa, política, financeira, empresarial, universitária e intelectual. Entre outros, destacam-se os bispos de Lamego, Funchal, Braga, e ainda Mota Amaral, Ramalho Eanes, Paulo Portas, Narana Coissoró, Maria Barroso, Manuel Braga da Cruz, Jardim Gonçalves. Todos viajam a Roma a título meramente pessoal.

MILAGRE

O milagre que possibilita a canonização do Beato Escrivá de Balaguer ocorreu em 1993 com Manuel Nevado Rey, médico ortopedista espanhol. Afectado por uma grave doença profissional tida por incurável, a radiodermite, que lhe foi causada por longos anos de exposição aos Raios X, o dr. Nevado viu-se forçado a interromper em 1984 a actividade médico-cirúrgica.

Segundo confessou, acabou por ver-se completamente curado depois de dirigir as suas preces a Escrivá de Balaguer. Até hoje, na literatura médica, não há notícia de qualquer caso de cura espontânea da radiodermite. Em Janeiro de 1993, o dr. Nevado voltou a operar. “As lesões desapareceram totalmente”, declarou.

ACÇÃO EVANGÉLICA

O fundador do “Opus Dei” (Obra ou Labor de Deus) bateu-se em vida pelo reconhecimento e aceitação do “valor santificante do trabalho quotidiano”, na sequência do Concílio Vaticano II. Esta reunião magna da Igreja considera que “todos os baptizados são chamados a seguir Jesus Cristo, viver e dar a conhecer o Evangelho.” Balaguer imprimiu esta linha de força ao “Opus Dei”, criando-o como contributo vivo e actuante da missão evangelizadora da Igreja, “promovendo entre fiéis cristãos de todas as condições uma vida plenamente coerente com a fé nas circunstâncias vulgares da existência humana.”

Aliás, toda a intensa acção evangélica de Balaguer poderia resumir-se a uma máxima “tridimensional” que energicamente defendeu e celebrizou: “Santificar o trabalho, santificar-se no trabalho, santificar com o trabalho.” Daqui fez derivar uma acção que, sem restringir ou limitar em nada a liberdade de consciência de cada membro do “Opus Dei”, ensina: “Os fiéis realizam pessoalmente a sua tarefa evangelizadora nos variados ambientes da sociedade em que vivem.” Este trabalho não se limita à ajuda aos doentes e incapacitados, mas “implica cooperar para uma solução cristã dos problemas da sociedade, dando testemunho constante da sua fé.”

Para alcançar esta finalidade, os membros do “Opus Dei” recebem formação espiritual e atendimento pastoral, preparando-se para as mais diversas tarefas apostólicas, numa convivência cristã partilhada na “oração e sacrifício, caridade e apostolado, unidade de vida”. Isto impõe a cada membro “cumprir com a maior perfeição possível os encargos e deveres da sua própria condição pessoal, da sua missão na Igreja e na sociedade civil.”

O “Opus Dei” constitui uma Prelatura pessoal da Santa Sé e é constituído por um prelado, por um presbitério ou clero próprio, e por leigos, mulheres e homens. Estes podem ser membros e simpatizantes (cooperantes), os quais se sentem membros de uma mesma porção do Povo de Deus”.

Relicário transferido

O relicário contendo os restos mortais de Josemaría Escrivá foi temporariamente transferido para a basílica de Santo Eugénio, onde ficará exposto à veneração dos fiéis. O relicário retornará à Igreja de Santa Maria da Paz no dia 10 de Outubro.

Josemaria Escrivá de Balaguer nasce em 1902, em Barbastro, povoação do nordeste de Espanha, sendo o segundo de seis irmãos numa família católica praticante. Ainda pequeno, é abalado pela: morte das três irmãs e, para cúmulo, a ruína económica atinge o seu lar, obrigando a família a deslocar-se para Logronho. Em 1918, nesta cidade, inicia os estudos eclesiásticos, seguindo para o Seminário de Saragoça, cidade em que também tira o curso de Direito.

Ordenado em 1925, dois anos depois ruma a Madrid, acompanhado da família, da qual é agora o chefe, pois o pai morrera em 1924. Na capital espanhola, obtém o doutoramento em Direito, dedica-se ao mais absorvente serviço pastoral junto dos pobres, doentes e crianças e, para sustentar a família, dá aulas de Direito. O seu carisma contagia estudantes, intelectuais, artistas e operários para a prática da solidariedade, a sentirem-se responsáveis pelo progresso da sociedade dentro do sentido cristão.

Em 1928, funda em Madrid o “Opus Dei” (Obra de Deus) reunindo sacerdotes e, como cooperantes, estudantes e operários, alguns nem sequer católicos ou cristãos. “A minha pregação tem sido a de que a santidade não é coisa de privilegiados”, escreve, propondo aos membros do “Opus Dei” que a busquem nas circunstâncias mais simples da vida quotidiana, “cumprindo as suas obrigações familiares, sociais e profissionais”, de modo especial pela “santificação do trabalho”. Defendia também que, “para atingir este fim sobrenatural, os homens necessitam ser e sentir-se livres.”

Em 1943, com a Obra de Deus já espalhada a várias cidades de Espanha, Escrivá funda em Madrid a Academia DYA, onde se dão aulas de Direito e Arquitectura, há uma residência para estudantes e se continua a tarefa de formar pessoas para o atendimento de pobres e doentes. Em 1944, funda a Sociedade Sacerdotal de Santa Cruz, a qual dá notável incremento à Obra ao permitir a ordenação de sacerdotes do “Opus Dei”. Em 1946, Mons. Escrivá fixa-se em Roma e nos anos seguintes viaja infatigavelmente por toda a Europa e América Latina, conquistando milhares de fiéis para a sua causa.

Em 1950, o Papa Pio XII concede a aprovação definitiva do “Opus Dei”, passo importante a que veio juntar-se, em 1952, a criação, em Pamplona, do Estudo Geral de Navarra (hoje Universidade de Navarra) e, em 1953, a fundação, em Roma, do Colégio Romano de Santa Maria, onde mulheres de todo o mundo recebem preparação espiritual, teológica e apostólica.

Josemaría Escrivá de Balaguer faleceu em Roma, a 26 de Junho de 1975, deixando a Obra de Deus consolidada por todo o Mundo, com mais de 60 mil seguidores.

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