Numa visita a vários soutos em Penela da Beira, eram visíveis os hectares ardidos e "sem salvação, a maior parte deles".
Dói o coração aos produtores de castanha de Penedono quando olham para os soutos de uma vida e pensam no futuro: "Já só resta esperança, tudo o resto morreu".
"Já só resta esperança. O que é que temos mais? Mais nada. Está tudo queimado, ardeu tudo. E o que não ardeu está chamuscado e não vai dar fruto. Pelo menos este ano, vamos ver se sobrevivem para dar fruto no futuro", desabafaram Manuel Pereira e Aires Macieira, à agência Lusa.
São dois produtores de Penela da Beira, em Penedono, distrito de Viseu. Manuel Pereira tem 80 anos, Aires Macieira tem 42. Para ambos, é o trabalho de uma vida e, apesar da idade diversa, reside nos dois a mesma esperança de voltarem a ver o fruto na árvore.
"Com a minha idade já vi muito fogo, mas como este nunca. Nunca pensei ver uma coisa assim. Veja bem estes soutos, tudo queimado, Olhe este, não entrou o fogo no souto, mas olhe para os ouriços todos queimados pelo calor. Estão pretos", descreveu Manuel Pereira.
Numa visita a vários soutos em Penela da Beira, eram visíveis os hectares ardidos e "sem salvação, a maior parte deles", apesar de algumas propriedades já terem sido regadas, "porque ainda há esperança" de os salvar.
"Mas perde-se a coragem de plantar árvores", disse Manuel Pereira.
Aires Macieira descrevia o cenário negro, o "cheiro nauseabundo" e "a dor no coração que se sente de olhar para a paisagem". "Uma paisagem que é minha e de outros produtores amigos. Então os que estavam perto dos pinheiros é que foram todos, os pinheiros são como pólvora", comparou.
Este produtor contou que "nos últimos sete, oito anos" tem feito investimentos em soutos "que agora arderam todos". Se conseguir se conseguir salvar 50% já não é mau.
O último investimento, em cerca de 50.000 euros, foi na primavera: "Olhe para estes soutos, são 400 em cinco hectares. São novos e estão todos queimados ou chamuscados. Não sei se sobrevivem".
Aires Macieira é também presidente da Cooperativa Agrícola de Penela da Beira há um ano e "este incêndio foi uma espécie de machadada no trabalho" realizado.
"Depois de compor a casa, lutar contra a doença da tinta e o cancro nos castanheiros, a esperança é que para o ano a campanha fosse melhorar e agora este golpe pode ser mortal se não tivermos créditos especiais e apoios, pode ser a nossa morte", indicou.
Ana Dias, engenheira agrónoma de formação e a trabalhar com os soutos nos últimos anos, realçou à agência Lusa que há vários problemas causados por este incêndio que varreu o concelho de Penedono e seguiu caminho.
"Noutros anos arde um pinhal aqui e outro ali, mas isso ainda é um rendimento complementar das pessoas. Os soutos e olivais não. São o rendimento principal das pessoas e agora serão precisos 15 a 20 anos novamente e até lá não há meios de subsistência", apontou.
Quanto à rega dos soutos ardidos, e "bem recomendado" para salvar os castanheiros, Ana Dias destacou que "não há reservas de água, há muito que não chove e não há meios nem pessoas para o fazer, é uma população muito envelhecida".
"E há outro problema grave no ambiente. Já reparou que não se vê nem ouve um animal? Não há um pássaro, um coelho. Nada. Não há animais, não há árvores, esta zona vai ser ainda mais afetada pelo calor nos próximos anos e pela ausência de chuva", alertou.
Aires Macieira falou ainda nos animais que também possui, mas que, "possivelmente", vai deixar de ter. "Não morreu nenhum, mas não sei se quero mais. Tinha naquela encosta 70 rolos de feno para eles e agora veja o que tenho. Um. Sobrou um rolo. É o rolo da esperança".
O fogo que chegou a Sernancelhe teve origem em dois incêndios -- no dia 13, em Sátão (distrito de Viseu), e no dia 09, em Trancoso (distrito da Guarda). Na sexta-feira tornou-se um só, que se alastrou a 11 municípios dos dois distritos.
Os 11 municípios são Sátão, Sernancelhe, Moimenta da Beira, Penedono e São João da Pesqueira (distrito de Viseu); Aguiar da Beira, Trancoso, Fornos de Algodres, Mêda, Celorico da Beira e Vila Nova de Foz Côa (distrito da Guarda).
Este incêndio entrou em resolução pelas 22:00 de domingo.
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