Na manhã em que o cadáver de Maria Valentina foi encontrado numa poça de sangue a Polícia Judiciária estava longe de imaginar que o crime da Póvoa de Santo Adrião, arredores de Lisboa, era obra de um serial killer – assassino em série com incontrolável obsessão pela morte de prostitutas. Mas passam hoje 15 anos desde o dia em que o estripador fez a primeira de três vítimas. Sem deixar rasto. E prescreve assim o primeiro dos homicídios.
O serviço de prevenção da Secção de Homicídios recebeu aquela chamada “entre tantas outras”, em 31 de Julho de 1992. E a experiência só não os preparara para “um cenário daqueles” à porta de um barracão, recorda ao CM o inspector-coordenador João de Sousa, em que o corpo da rapariga de 22 anos fora esventrado a golpes de raiva entre o tórax e a barriga – o assassino levara com ele o coração e partes do fígado e intestinos.
O cadáver seguiu para os exames periciais e também José Sombreireiro nunca tinha visto tal coisa, entre 40 mil autópsias nos 30 anos que o médico-legista já levava de experiência. Prostituta e toxicodependente, toda a vida e ligações de ‘Tina’, como era conhecida, foram passadas a pente fino pela equipa da PJ. Mas sem sucesso. “Houve telefonemas, muitas cartas anónimas”, tudo foi investigado mas “faltava a prova” e o móbil do crime – até que, em 2 de Janeiro do ano seguinte, o estripador voltou a atacar.
A segunda vítima do assassino foi Fernanda, 24 anos, prostituta conhecida na zona de Entrecampos, onde foi assassinada. Os trabalhadores das obras da ponte ferroviária encontraram o cadáver de manhã cedo, depositado num banho de sangue nas traseiras de um barracão do estaleiro.
Toda uma brigada foi então mobilizada para o caso, ninguém teve dúvidas de que se tratava do autor do primeiro crime: o corpo retalhado e os mesmos órgãos retirados, mas desta vez também os seios da vítima decepados. Seis homens a trabalhar 24 horas no mesmo caso e “às vezes até com apoio”, recorda um inspector do combate ao tráfico de droga, com o departamento a ceder homens da sua brigada de vigilância durante a noite.
“Seguiram-se pistas entre Lisboa e Cascais, foram ouvidas várias pessoas ligadas ao passado delas mas tudo informalmente, sem indícios suficientes para prender ou sequer interrogar alguém”, lamenta o coordenador João de Sousa. A PJ sabia que os serial killers voltam sempre a matar e corriam contra o tempo – mas a falta de pistas não permitiu evitar a morte violenta de Maria João, 27 anos, a 15 de Março de 1993. A terceira vítima, prostituta, foi mutilada da mesma forma que Fernanda e nem a cem metros do sítio onde foi encontrado o corpo de Valentina, na Póvoa de Santo Adrião.
O médico-legista esclareceu que as prostitutas estavam vivas quando foram esventradas, apenas inconscientes devido a fortes pancadas na cabeça. E o homem que lhes arrancou o coração, fígado e pulmões demorou-se junto delas, mas nem assim deixou vestígios. Mantinha os rostos das vítimas intactos e nunca limpou o sangue. Os três crimes foram cometidos de noite e o perfil encaixa num solitário, sem relações com as vítimas e acima de qualquer suspeita. Sem erros, o estripador nunca foi apanhado.
MARIA VALENTINA
A prostituta de 22 anos era toxicodependente e, tal como as outras duas vítimas, frequentava a zona das Avenidas Novas, em Lisboa – Técnico, Avenidas Defensores de Chaves e 5 de Outubro. Acabou num barracão na Póvoa de Santo Adrião, em 31 de Julho de 1992, deitada num banho de sangue.
MARIA FERNANDA
Aos 24 anos era prostituta habitual em Entrecampos, onde foi encontrada por trabalhadores das obras, a 2 de Janeiro de 1993. Morreu esventrada e com os seios decepados.
MARIA JOÃO
Vivia sozinha com dois gatos em Santo António dos Cavaleiros e era companheira de ‘Tina’, a primeira vítima. Morreu a 15 de Março de 1993, aos 27 anos, a 100 metros do local da amiga.
INVESTIGAÇÃO
Um homicídio é desvendado em seis meses, o tempo ideal entre a avaliação do local do crime, os exames de laboratório aos vestígios, busca de suspeitos e interrogatórios para o resultado da investigação. A partir daí o tempo corre a favor do assassino.
EQUIPA CRIADA
A direcção da Polícia Judiciária chegou a criar um grupo de trabalho especial, que teve vários coordenadores na investigação: João de Sousa, Pedro Amaral e Ferreira Leite. Mas os anos passaram e o ‘Estripador de Lisboa’ nunca mais deu sinais de vida.
FBI EM LISBOA
Dois agentes do FBI estiveram em Lisboa em Março de 1993, depois do terceiro homicídio. Traziam fotos e relatórios sobre crimes idênticos em New Bedford, onde vive uma grande comunidade portuguesa. Houve um suspeito, rapidamente ilibado.
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