Raquel Simões
JornalistaRita Luz
JornalistaRui Pinto, de 33 anos, responde por um total de 90 crimes: seis de acesso ilegítimo, um de sabotagem informática, 14 de violação de correspondência, 68 de acesso indevido e um de extorsão na forma tentada. A defesa de Rui Pinto pediu o afastamento da magistrada, mas o pedido foi negado. A queixa deu entrada no Tribunal Europeia dos Direitos do Homem (TEDH).
O 'pirata informático' é suspeito de ter espiado quase 500 alvos. É arguido num novo processo, aberto em 2019, que nasceu de uma certidão extraída do caso ‘Football Leaks’.
Em causa estão suspeitas que ficaram de fora do processo principal: o ataque ao Benfica e ao FC Porto, mas também o acesso a emails de magistrados, juízes, advogados e responsáveis da Autoridade Tributária. O pirata informático foi chamado ao DCIAP, na passada sexta-feira, para ser constituído arguido. Terá sido confrontado com indícios que resultam da análise dos discos rígidos, mas, sabe o CM, não prestou declarações.
O alegado 'pirata informático' avançou com uma queixa contra o Estado português por violação do direito a um processo equitativo. Em causa está a reunião entre a procuradora e os inspetores da Polícia Judiciária após o início do julgamento do caso ‘Football Leaks’ para "afinar a estratégia" de inquirição com os investigadores.
A defesa de Rui Pinto pediu o afastamento da magistrada, mas o pedido foi negado. A queixa deu entrada no Tribunal Europeia dos Direitos do Homem (TEDH).
"Gostava que na Europa os contratos dos treinadores fossem públicos", diz Rui Pinto
O 'pirata' diz que a divulgação do contrato de Jorge Jesus a 30 de setembro de 2015 "teve interesse para o football leaks" e acrescenta que "gostava que na Europa os contratos dos treinadores fossem públicos".
Questionado pela juíza se a divulgação foi feita para "beneficiar o Benfica, ou para chatear o clube", Rui Pinto responde: "Não era para nada disso".
No dia seguinte à divulgação do contrato de Jorge Jesus, o Benfica anunciou que ia avançar com um processo contra o então treinador. A queixa ficou sustentada com documentos divulgados no blog de Rui Pinto, nomeadamente com a rescisão do contrato de Marco Silva - treinador na altura do Sporting.
“Luís Filipe Vieira não gostava do modelo de negócio da Doyen Sport", revela Rui Pinto
Rui Pinto começou a investigar a Doyen Sport - fundo de investimento que negoceia jogadores -, em 2015, na Hungria, onde vivia na altura. Primeiro começou por investigar a Doyen capital "para ir à origem".
Segundo revela, as primeiras tentativas de acesso aos computadores da Doyen capital não foram bem sucedidas. A partir deste momento foi um amigo de Rui, que vivia em Londres, que tentou aceder aos ficheiros. A partilha de informações com o 'pirata informático' só acontecia caso as informações desvendadas fossem interessantes.
Rui Pinto revelou que o seu objetivo era apenas garantir uma caixa de correio para onde eram enviadas as informações.
Quando questionado pela juíza se tinha interesse na doyen sport, porque o acesso a doyen capital, o 'pirata' respondeu: "Para saber de onde vinha o dinheiro e o investimento". ""Estamos a falar de offshores complexas que funcionam para enganar", acrescenta.
O 'pirata' revela ainda que "Luís Filipe Vieira não gostava do modelo de negócio da doyen Sport e de Nélio Lucas" porque "as cláusulas da doyen Sport mostravam bem que o clube ficava sempre a perder".
No processo Football Leaks, Rui Pinto é acusado de tentar extorquir entre 500 mil a um milhão de euros ao fundo Doyen.
"Todos estes contratos [da Doyen] tiveram enorme interesse público e serviram de base a muitos estudiosos de direito", diz Rui Pinto. "O principal objetivo era mostrar que estes contratos era ruinosos para os clientes", explica.
A Doyen sports e Nélio Lucas apanhavam os clubes em grandes crises financeiras para fazer negócio.
“Sinto-me envergonhado com estes emails": Rui Pinto sobre tentativa de extorsão a Nélio Lucas
Rui Pinto revelou que queria conhecer Nélio Lucas, o antigo administrador e sócio da Doyen. Em tribunal, e perante um coletivo de juízes, o 'pirata' disse que se sentiu "envergonhado com estes emails".
"Foi uma provocação. Hoje envergonho-me disto", diz.
"Sim, falei na quantia de 500 mil a 1 milhão de euros. Sim, isto foi escrito por mim", declara. Em causa estará a tentativa de extorsão do antigo administrador da Doyen. Rui Pinto refere ainda que decidiu envolver os advogados "para dar alguma credibilidade à situação".
Rui Pinto pediu ainda desculpa ao advogado Aníbal Pinto, também presente em tribunal: "Isto foi tudo uma infantilidade, nunca pensei que Nélio Lucas respondesse a este email".
"Eu queria encontrar-me cara a cara com Nélio Lucas para o confrontar com a situação no futebol clube do Porto, do desvio de fundos, eu como adepto do clube fiquei ferido com esta situação", refere, acrescentando que os restantes colegas do Football Leaks não tinham conhecimento da troca de emais entre Rui Pinto e Néio Lucas.
Rui Pinto revela que se queria encontrar com Nélio para "mostrar algum poder"
Sobre os emails enviados a Nélio Lucas para tentar extorquir dinheiro da Doyen, Rui Pinto revela que quis manter a sua identidade secreta durante uma primeira fase, mas que mais tarde "poderia ser alterado".
Segundo conta Rui Pinto, o seu advogado recebeu uma proposta para a Doyen contratar o 'pirata' "porque precisava que acedesse a documentos na federação portuguesa de futebol", revela.
Rui Pinto acrescenta ainda que mais tarde "queria que o encontro com o Nélio Lucas acontecesse porque queria mostrar algum poder".
'Pirata' revela que nunca achou que PJ conseguisse chegar até si
Rui Pinto, durante o julgamento, referiu que devido às queixas feitas por Nélia Lucas na Polícia Judiciária o site Footvall Leaks esteve algum tempo sem conseguir publicar novas informações. "Mas isto foi por pouco tempo", acrescenta.
Quanto aos emails trocados pelos dois advogados, Rui revela que não teve conhecimento de nenhum deles. "O objetivo era que Aníbal Pinto, Pedro Henriques e Nélio Lucas se reunissem e que depois me fosse transmitido o mais importante", diz.
Em relação à tentativa de extorção, o 'pirata informático' revela que "não tinha a consciência de que aquilo poderia terminar num crime de extorsão na forma tentada. Agora tenho consciência disso".
"Sabia que a PJ estava a investigar o Football Leaks mas nunca achei que de forma técnica poderiam chegar a mim", acrescenta Rui Pinto
Rui Pinto ia receber 25 mil euros por ano em cinco anos para trabalhar para Nélio Lucas
Contrato que Nélio propôs a Rui Pinto para que 'investigasse' documentos da Federação Portuguesa de Futebol, por exemplo, iria render ao 'pirata' 25 mil euros em cinco anos.
O advogado Aníbal Pinto recebiria em honorários 300 mil euros e Rui apenas 125 mil. "Meritíssima também eu queria compreender como me meti numa coisa destas é que não faz sentido nenhum", refere o 'pirata'.
"Estava disposto a aceitar este acordo porque havia muita desorganização no Football Leaks", diz Rui Pinto.
Depois de pensar novamento no acordo com Nélio, Rui Pinto revela que cortou "radicalmente com tudo aquilo, nem disse a niguem".
"Para mim o assunto morria ali mas mais tarde o de Pedro Henriques começou a ameaçar o Dr Aníbal Pinto", diz.
Rui Pinto revela que fez várias denúncias no DCIAP
"Fiz várias denúncias anónimas no DCIAP [Departamento Central de Investigação e Ação Penal], isso fiz", revela Rui Pinto.
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