Tânia Laranjo
JornalistaDébora Carvalho
JornalistaRui Pinto, de 33 anos, responde por um total de 90 crimes: seis de acesso ilegítimo, um de sabotagem informática, 14 de violação de correspondência, 68 de acesso indevido e um de extorsão na forma tentada.
O alegado 'pirata informático' avançou com uma queixa contra o Estado português por violação do direito a um processo equitativo. Em causa está a reunião entre a procuradora e os inspetores da Polícia Judiciária após o início do julgamento do caso ‘Football Leaks’ para "afinar a estratégia" de inquirição com os investigadores.
A defesa de Rui Pinto pediu o afastamento da magistrada, mas o pedido foi negado. A queixa deu entrada no Tribunal Europeia dos Direitos do Homem (TEDH).
Rui Pinto constituído arguido num novo processo
Rui Pinto foi constituído arguido num novo processo, na sexta-feira. Segundo o advogado Teixeira da Mota, o processo em causa foi aberto há três anos e os factos remontam ao período compreendido entre 2015 e 2018.
"Esta é uma estratégia perversa", disse o advogado, sublinhando que impede que a o seu constituinte retome a vida normal.
Rui Pinto, que permanece em tribunal de máscara por não estar "vacinado contra a Covid-19", confirma que foi para a Hungria em 2013 para frequentar o programa Erasmus.
O alegado "pirata informático" esteve quase um ano preso na Hungria, depois de ter recusado a extradição para Portugal, e admitiu que foi sua a ideia do "Football Leaks" e que esta ideia surgiu em Praga, para denunciar ilegalidades no futebol.
Foi no verão de 2015 que surgiu a Rui Pinto a ideia de aceder a conteúdos privados.
Em tribunal, Rui Pinto explica como criou o site de denúncias e avança que vai assumir factos que não assumiu anteriormente.
"Naquela altura já tínhamos tido acesso à informação através de acessos ilegítimos", conta.
"Alguns documentos mostravam que havia práticas duvidosas dos fundos. Esses acessos indevidos nem foram feitos por mim, mas foram partilhados comigo", revela Rui Pinto.
"É praticamente impossível arranjar este tipo de informação em fontes abertas", sublinha.
Rui Pinto explica em, tribunal como criou o site ‘Football Leaks’
Em tribunal, Rui Pinto explica como criou o site do ‘Football Leaks’ e os programas utilizados para esse fim. Responde agora neste inquérito onde são imputados mais de 90 crimes. Havia discos externos que foram apreendidos e aos quais a PJ apenas conseguiu aceder com ajuda de Rui Pinto.
Rui Pinto diz que um dos discos usados foi comprado e configurado na Bósnia (só soube disso agora quando analisou a situação na PJ).
Sobre a criação do ‘Football Leaks’, reafirma que foi criado por ele e com os amigos acederam a informações que não estavam disponíveis em fontes abertas.
Rui Pinto considera que existiam processos que deviam ser conhecidos para poderem ser devidamente investigados.
Rui Pinto diz em tribunal que tem ajudado serviços secretos da Ucrânia
Rui Pinto disse em tribunal que tem ajudado os serviços secretos da Ucrânia.
"Eu e uns amigos temos entregue informação aos Serviços de informações ucranianos", afirma, detalhando tratarem-se de interceções de comunicações de rádio, imagens de satélite, dando conta de algumas localizações de tropas russas, mas tudo através de fontes abertas.
"Tenho feito as coisas dentro da legalidade", sublinha.
Sporting foi a primeira entidade a que Rui Pinto acedeu
Rui Pinto recusa dizer quantos colaboradores tinham no Football Leaks, apesar da insistência da juíza.
"Não houve nenhuma das entidades que não tivesse indícios de cometimento de crimes", diz Rui Pinto, sobre as entidades às quais acedeu. A primeira foi o Sporting, porque da análise dos emails podia haver um padrão do tipo de passwords utilizadas.
"O ataque inicial nem foi perpetrado por mim. Terá sido só na segunda semana de Agosto. Eu não estava em Budapeste. Quando cheguei, coloquei mãos às obra".
Rui Pinto não esclarece se havia outros portugueses envolvidos para que o Sporting tivesse sido o primeiro alvo.
Rui Pinto: “O crime mesmo com boas intenções não compensa”
"O crime mesmo como boas intenções não compensa", disse Rui Pinto, após sublinhar que os Malta Files e os Luanda Leaks trouxeram benefícios para a sociedade.
"Não voltaria a fazer o que fiz. A minha vida está de pernas para o ar", diz.
"Se soubesse o que sei hoje, não voltaria a fazer.Fui o único que fiquei privado da liberdade. Mais de um ano. Em isolamento. Só com um contacto semanal com os meus familiares, uma hora e meia".
Quanto aos Luanda Leaks, diz que Isabel dos Santos continua a "viver tranquilamente no Dubai" e que "a coisa vai rolando, que sabe até à prescrição".
"O segredo entre cliente e advogado não deveria ser utilizado para proteger a prática de crimes", destaca. "Já os apelidei de os arquitetos dos maiores esquemas de branqueamento e fraude fiscal. Há muita impunidade. Apesar de tudo, não desisti de lutar pela transparência e verdade".
Quanto ao Football Leaks, diz que fez a publicação inicial e que as outras pessoas tinham as credenciais e podiam publicar.
"Como disse que a ideia foi sua… pensei que as publicações eram discutidas e decididas por si…", diz a juíza. "Publicava-se livremente?"
"Eu soube atempadamente. Nenhuma [publicação] foi feita à revelia", diz Rui Pinto.
Sobre a internacionalização do Football Leaks, Rui Pinto diz que não queria ficar pelo mercado nacional e começaram a divulgar informação de clubes internacionais.
A juíza questiona o sobre o pedido doações em criptomoedas que estava no texto de abertura da página e Rui Pinto diz que isso é "absolutamente normal", mas que nunca receberam "uma única bitcoin".
Rui Pinto diz que não acedeu às caixas de email de Jorge Jesus e Bruno de Carvalho mas admite que Football Leaks teve acesso
Rui Pinto diz que não acedeu às caixas de email de Jorge Jesus e Bruno de Carvalho mas admite que o grupo do Football Leaks teve acesso, uma vez outros colegas também acederam a caixas de email do Sporting.
"Fiz acessos à caixa de correio do Otávio Machado, mas não tinha nada de interessante", relata Rui Pinto, sublinhando que muitos dos acessos não deram em nada porque não havia material relevante.
O alegado ‘pirata informático’ fala também sobre Álvaro Sobrinho, que já estava a ser investigado em Portugal desde 2010/2011. Esse interesse por Sobrinho surgiu por causa da aquisição da participação no Sporting.
"Mais tarde, em finais de 2016, comecei a interessar-me mais pelo tema de Angola e Isabel dos Santos.
"Descobrimos os padrões de passwords no Sporting", diz."Fomos aos principais administrados do Sporting".
"No início, tínhamos de arranjar temas quentes para chamar a atenção do público. Muito destes temas já eram discutidos sem rigor. Foi uma forma de esclarecer adeptos", refere quando questionado sobre o porquê de revelar informações sobre o contrato de Jorge Jesus.
"Sempre fui adepto da transparência", salienta.
"Forneceu alguma da informação que recolheu a comentadores e programas de TV", questiona a juíza.
"Numa fase inicial, todos os conteúdos foram divulgados no Football Leaks. Depois, cheguei a uma fase em que eu dei a cara. Houve uma altura, início de 2016, em que estávamos a receber muitos contactos de jornalistas de todo o mundo. Discutidos internamente e decidi que havia uma pessoa bastante íntegra, um jornalista do Der Spiegel."
Quando questionado se teria contactado com jornalistas portugueses, Rui Pinto disse que "numa fase inicial" sim: "Selecionei um conjunto de jornalistas a quem enviei o link do Football Leaks".
Rui Pinto: “O FC Porto é o meu clube e é o que tem mais contratos divulgados”
"O FC Porto é o meu clube e é o que tem mais contratos divulgados", respondeu Rui Pinto quando questionado pela juíza se o Football Leaks sempre foi imparcial e se a preferência clubística de Rui Pinto alguma vez interferiu.
"A sua investigação foi transversal a todos os clubes?", questionou a juíza. "Sim, procurámos alargar sempre a nossa rede", respondeu Rui Pinto.
Quando questionada o porquê da Doyen, Rui Pinto responde que "o que estava e está por detrás é obscuro. É dinheiro sujo do Cazaquistão. A maior parte dos fundos eram danosos para os clubes de futebol e até para os jogadores".
Rui Pinto diz que na página do Football Leaks está referência outros fundos, mas que a Doyen era o que exercia "maior lobby".
Sobre o crime de sabotagem informática do Sporting, cujo site esteve em baixo, nega o crime: "O problema que aconteceu no Sporting foi interno, não foi externo".Mas voltando a ser questionado pela juíza, diz que não teve qualquer intervenção, mas admite que a sabotagem foi feita por pessoas ligadas ao Football Leaks.
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