Homem de 77 anos conta momento de desespero que viveu.
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Ou era a sua vida ou eram os tratores, pensou Fernando, de 77 anos, quando já via o lume a comer-lhe a roupa. A tentar salvar um barracão numa aldeia de Mação, apenas teve tempo de fugir, descalço e de cuecas, para casa.
No domingo, poucas horas depois de a Proteção Civil ter traçado um cenário relativamente calmo, mas com reservas, do incêndio que afetava Vila de Rei e Mação desde sábado, Fernando Cardoso viu o lume levantar-se e dirigir-se para a terra onde nasceu e de onde nunca saiu.
Em Roda, localidade com pouco mais de 25 habitantes do concelho de Mação, no distrito de Santarém, Fernando avistou primeiro as chamas vindas de sul e logo dirigiu-se ao barracão onde guardava alfaias agrícolas, protegidas por três cães: a Rambóia, a Violeta e o Tarzan.
Conseguiu conter as chamas que subiam, mas, a norte, surgia outro incêndio, a andar rápido "que nem um foguete", contou à agência Lusa o habitante.
As fagulhas chegaram ao barracão de Fernando, que estava todo limpo à volta, e o habitante da Roda já não conseguiu conter a segunda investida das chamas.
Soltou os cães para que se pudessem salvar e dirigiu-se para um trator com atrelado.
O motor ainda pegou, mas, ao tentar tirar a viatura, deixou de funcionar. "Tentei, tentei, mas não deu", lamenta.
Nesse momento, apercebeu-se que o fogo já andava nas suas calças e camisa, disse à Lusa Fernando, apontando para as botas que traz calçadas, nas quais se nota um buraco à frente, comido pelo fogo.
Sozinho, ainda pediu ajuda, mas ninguém apareceu.
"Bem gritei a pedir ajuda, mas quem é que me acudia? Ninguém me ouviu, que isto aqui é só gente de 70 anos para cima", diz.
Com lume na roupa, decidiu que "morrer para morrer, que morressem os tratores".
Tirou a roupa, largou as botas e seguiu a correr 300 metros, de cuecas e descalço, por um caminho de terra batida, entre campos agrícolas sem mato e por onde as chamas ainda não tinham passado, para chegar à sua casa.
Lá chegado, tomou um banho, que sentia o corpo a arder do calor, e voltou ao combate, desta feita para garantir que as chamas não chegavam à sua habitação.
Escapou completamente ileso, sem queimaduras, Já os cães ficaram "meio chamuscados, mas também sobreviveram", tendo o último regressado na terça-feira ao barracão afetado pelas chamas.
Apenas na noite de terça-feira para hoje conseguiu dormir "umas horitas", diz.
Entretanto, já andou pelas courelas que tem espalhadas pela zona, onde tinha mais de 100 mil eucaliptos que também arderam.
"Andamos todos doentes. Perdi tudo", desabafa Fernando, enquanto contabiliza três tratores ardidos, mais dois reboques, uma gadanheira, um camião e um enrolador de feno.
Se há dois anos o fogo passou perto de Roda, "agora levou o resto", observa, referindo que a aldeia, apesar de ter muitas casas, pouca gente tem a morar nelas.
"Daqui a 30 anos já não há cá ninguém. Isto aqui é para acabar", desabafa.
Enquanto fala com a agência Lusa, pergunta várias vezes, desalentado: "O que é que eu vou fazer agora?".
De seguida, responde: "É aguentar".
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