page view

Menina morre na pista

Uma menina de seis anos morreu anteontem à noite numa pista de carrinhos de choque, nas Festas da Senhora de Lassalette, em Oliveira de Azeméis. Terá sido vítima de electrocussão – o que só a autópsia poderá determinar. Fonte próxima da família garante que os pais irão até às últimas consequências para apurar responsabilidades.

14 de agosto de 2007 às 00:00

Micaela Alexandra Pereira Mendes, filha de uma doméstica e de um encarregado de obras em Espanha, deu entrada no Hospital de S. Miguel em paragem cardiorrespiratória, pelas 23h57. Dois minutos depois, o médico assinava o óbito. Fonte hospitalar disse ao CM que a criança tinha uma queimadura no braço e no calcanhar, o que indicia que a corrente eléctrica lhe percorreu o corpo “de baixo para cima”.

A vítima e uma prima de nove anos compraram as fichas na bilheteira, sem qualquer problema, apesar de a diversão estar classificada para ‘maiores de 12 anos’.

“Não tiveram problemas a comprar as fichas e nem os dois homens que estavam ali a vigiar lhes disseram nada”, disse ao CM a irmã da vítima, Tânia Sousa, de 16 anos.

Quando terminou a volta, cerca das 23h45, Micaela saiu – mas perdeu o chinelo e calcou o piso da pista com o pé descalço. Nessa altura, recebeu uma descarga eléctrica. “A minha irmã saiu do carro, pousou o pé na pista, caiu para o estrado junto da bilheteira e perdeu os sentidos”, recorda Tânia Sousa, acrescentando que se “juntou logo muita gente, mas a pista continuou a funcionar”.

Vitorino Barata, amigo da família, agarrou logo na menina e levou-a para uma zona mais calma. Um enfermeiro prestou os primeiros socorros à criança, até à chegada dos bombeiros. Pouco depois, chegava a GNR e mandava encerrar a pista.

O dono, José Fernandes, recusa culpas. “Se assim foi, nunca mais serei ninguém na vida”, disse o empresário, garantindo que em 30 anos de actividade nunca teve um acidente semelhante. Rejeita também responsabilidades por a menor andar nos carrinhos: “É para adultos, mas os pais andam com eles lá e não vamos ser nós que os vamos tirar.”

FISCALIZAÇÃO NÃO É OBRIGATÓRIA

“Entreguei os documentos na Câmara, paguei mil euros, deram-me a licença e nem sequer fizeram uma inspecção à pista”, diz, indignado, o empresário José Fernandes. A Câmara de Oliveira de Azeméis lamenta o trágico acidente, “porque se trata de uma morte e, sobretudo, por a vítima ser uma criança”, mas recusa-se a tecer quaisquer comentários sobre as circunstâncias da tragédia. Paulo Oliveira, assessor do presidente Ápio Assunção, confirmou que “não houve vistoria aos divertimentos da festa, como nunca houve em qualquer outra festa do concelho”. A legislação em vigor dá a opção às câmaras municipais de vistoriarem, ou não, os “recintos itinerantes e improvisados”. Segundo a lei, aprovada em Dezembro de 2002, o pedido de licenciamento “deve ser acompanhado de fotocópias autenticadas, respectivos seguros de responsabilidade civil e de acidentes pessoais, bem como do certificado de inspecção”. Diz ainda que “sempre que a entidade licenciadora entenda necessária a realização de vistoria”, ela deve ser feita por entidades acreditadas pelo Sistema Português de Qualidade. Nesta pista de carrinhos de choque, segundo fonte da autarquia, todos os documentos “estavam em conformidade”.

FALHA NA EMERGÊNCIA

Os bombeiros de Oliveira de Azeméis estavam a fazer prevenção ao lançamento de foguetes a cerca de 800 metros do local. Sem um corredor de emergência, tiveram de circular por entre a multidão.

SEM VIDA

Apesar das manobras de reanimação efectuadas por um enfermeiro e uma socorrista do INEM, Micaela Mendes já entrou cadáver no Hospital de S. Miguel, Oliveira de Azeméis.

FUNERAL HOJE

O funeral de Micaela Alexandra, residente em Santiago de Riba, realiza-se, hoje, pelas 16h00, na Igreja Matriz de Oliveira de Azeméis, rumando depois para o cemitério local.

- 25 é o número de carrinhos que, por norma, circula nas pistas maiores de carrinhos de choque. Por vezes, na ânsia do lucro, há quem lá ponha 30, ficando o espaço de circulação muito reduzido.

- 250 é o número de empresas de diversão, segundo dados não oficiais. Fonte da Inspecção-Geral das Actividades Económicas disse-o ao CM.Choque À TARDE

No dia anterior, um casal de jovens já se tinha queixado ao proprietário de um choque numa coluna e ele terá dito “vocês é que estão em choque”.

PISTA FECHADA

A pista só encerrou depois de a GNR chegar ao local. O proprietário acatou a ordem e comprometeu-se a não colocar mais em funcionamento.

QUEREM CULPADOS

Um amigo da família que tem acompanhado todo o processo disse que os pais vão até às últimas consequências no apuramento de responsabilidades.

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

o que achou desta notícia?

concordam consigo

Logo CM

Newsletter - Exclusivos

As suas notícias acompanhadas ao detalhe.

Mais Lidas

Ouça a Correio da Manhã Rádio nas frequências - Lisboa 90.4 // Porto 94.8