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Novo relatório Sobre Pedrógão Grande diz que foi a linha elétrica a provocar a tragédia

Peritos da Universidade de Coimbra arrasam a atuação da Proteção Civil

16 de outubro de 2017 às 18:52

Um novo relatório sobre os incêndios de Pedrógão Grande tece duras críticas a todo o sistema de Proteção Civil.As conclusões dos peritos são duras: "A grande dimensão da tragédia colocou em evidência que o nosso sistema de emergência não  está preparado para fazer face a um número tão massivo de pessoas afetadas, feridas ou mortas", lê-se no resumo dos factos apurados.

O documento foi entregue esta segunda-feira ao Ministério da Administração Interna pela equipa de Domingos Xavier Viegas, do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. O documento assume que morreram 65 e não 64 pessoas na tragédia, contabilizando uma morte que o Estado ainda não classificou oficialmente como sendo vítima do fogo.

As conclusões dos peritos são duras: "A grande dimensão da tragédia colocou em evidência que o nosso sistema de emergência não  está preparado para fazer face a um número tão massivo de pessoas afetadas, feridas ou mortas", lê-se no resumo dos factos apurados.

O sistema falha na prevenção, falha no combate, e falha na assistência aos feridos: "A prestação de apoio psicológico e socorro médico e hospitalar teve deficiências que importa estudar melhor. A situação do País na prestação de socorro a doentes queimados graves, embora tenha melhorado grandemente nos últimos anos, é ainda insuficiente para acidentes desta escala"Outro dado evidenciado no relatório é que o incêndio terá começado devido ao contato entre uma linha de média tensão e a vegetação envolvente: "

Fogo foi causado por linha elétrica e não por raio

Outro dado evidenciado no relatório é que o incêndio terá começado devido ao contato entre uma linha de média tensão e a vegetação envolvente: "

Os investigadores consideram que a hipótese de o fogo ter sido causado por um raio que caiu na linha - como aponta o relatório dos peritos que entregaram estudo no Parlamento - não é a mais provável:  "Inclinamo-nos fortemente para que tenha sido a linha elétrica de média tensão a originar os dois incêndios, em Escalos Fundeiros e em Regadas".

Comando e meios deslocados falharam em toda a linha

Os meios disponíveis e o comandante operacional "não se mostraram suficientes para controlar" o incêndio que começou às 15h00 de 17 de junho em Escalos Fundeiros, Pedrogão Grande, indica o relatório do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais.

O relatório "O complexo de incêndios de Pedrógão Grande e concelhos limítrofes, iniciado a 17 de junho", entregue esta sexta-feira à ministra da Administração Interna, concluiu que morreram neste fogo 65 pessoais, e não 64 como as que foram até agora contabilizadas.

"No ataque inicial ao foco de Escalos Fundeiros, foi desde logo reconhecido o seu potencial para se vir a tornar um grande incêndio, mas os meios disponíveis e o seu comandamento não se mostraram suficientes para controlar o incêndio, que apresentou uma dificuldade de supressão acima da média", refere o documento encomendado pelo Governo.

O relatório, publicado no portal do Governo, adianta que "a ocorrência simultânea de outros incêndios na região e a falta de perceção da sua importância, nos vários escalões de decisão, levou a que não fossem utilizados mais recursos, nomeadamente mais meios aéreos pesados, no seu combate, no período entre as 15h00 e as 18h00".

"Embora o processo de triangulação de meios previstos no SGO [Sistema de Gestão de Operações] tenha funcionado dentro do previsto, a reação ao agravamento da situação foi claramente tardia", sublinha o relatório.

Pânico na fuga

O relatório, que aborda a forma como uma trovoada seca afetou o incêndio, conclui que a falta de meios de socorro junto das casas, a falta de energia elétrica, de água e de comunicações, gerou uma fuga de pessoas que "procuravam ir para locais seguros, mas a grande escala deste fenómeno, tornou os locais seguros muito distantes e o fogo interrompeu o trajeto que essas pessoas seguiam".

"A progressão muito rápida do incêndio colheu várias pessoas de surpresa nas mais variadas direções para que tentaram fugir, lê-se no relatório.

O documento aponta que a falta de limpeza da envolvente das estradas permitiu que muitas pessoas fossem colhidas em plena fuga, pelo fumo e pela radiação do incêndio, pelas chamas da vegetação em redor e mesmo por árvores caídas na própria estrada.

"A quase totalidade das vítimas morreu quando tentava fugir de carro pela estrada e, apenas num troço de 400 metros da EN-236-1, perderam a vida 30 pessoas", sublinha o relatório.

Da análise realizada resultou ainda a conclusão que "apenas quatro das 65 vítimas mortais deste incêndio perderam a vida dentro de casa", em situações que ainda estão em investigação, sendo contudo certo que "todas elas tinham algum problema de mobilidade ou de saúde".

"Verificou-se que para a larga maioria das vítimas e mesmo para outras pessoas que sobreviveram à exposição do fogo enquanto fugiam, a permanência em casa teria sido a opção mais segura", enfatiza o documento.

O relatório nota ainda que o sistema de comunicações por rádio e telefone teve uma falha geral em toda a região, por limitações inerentes aos sistemas, por sobrecarga de utilizadores ou ainda deficiente utilização de alguns dos sistemas.

Outra conclusão importante indica que a prestação de apoio psicológico e socorro médico e hospitalar teve "deficiências que importa estudar melhor", sendo evidente que a situação do país na prestação de socorro a doentes queimados graves é "ainda insuficiente para acidentes desta escala".

Outro aspeto que resulta das conclusões é o facto de que os municípios de Pedrogão Grande e de Castanheira de Pera não dispunham de Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PMDFCI) validados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

"Este facto inibiu estas entidades de receberem financiamento durante os últimos anos para promoverem ações de prevenção, com manifesto prejuízo destas", conclui o relatório, que avança com diversas recomendações, uma delas manifestando reservas quanto "às evacuações compulsivas generalizadas".

O relatório recomenda um "grande cuidado na seleção dos quadros de Comando da estrutura da Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) e dos bombeiros" e defende que o ICNF deverá "ter uma presença maior e uma participação mais efetiva na gestão do problema dos incêndios florestais".

No campo da prestação de socorro médico em catástrofes como esta, o relatório vinca que "há que melhorar muito a organização de um serviço de busca e salvamento, para prestar socorro e apoio sanitário, em todo o território afetado".

Entre outras recomendações está a de que seja criado um Programa Nacional de Gestão de Incêndios Florestais, que envolva e congregue as entidades mais diversas da sociedade civil e do Estado.

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