Peritos da Universidade de Coimbra arrasam a atuação da Proteção Civil
1 / 4
Um novo relatório sobre os incêndios de Pedrógão Grande tece duras críticas a todo o sistema de Proteção Civil.As conclusões dos peritos são duras: "A grande dimensão da tragédia colocou em evidência que o nosso sistema de emergência não está preparado para fazer face a um número tão massivo de pessoas afetadas, feridas ou mortas", lê-se no resumo dos factos apurados.
O documento foi entregue esta segunda-feira ao Ministério da Administração Interna pela equipa de Domingos Xavier Viegas, do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. O documento assume que morreram 65 e não 64 pessoas na tragédia, contabilizando uma morte que o Estado ainda não classificou oficialmente como sendo vítima do fogo.
As conclusões dos peritos são duras: "A grande dimensão da tragédia colocou em evidência que o nosso sistema de emergência não está preparado para fazer face a um número tão massivo de pessoas afetadas, feridas ou mortas", lê-se no resumo dos factos apurados.
O sistema falha na prevenção, falha no combate, e falha na assistência aos feridos: "A prestação de apoio psicológico e socorro médico e hospitalar teve deficiências que importa estudar melhor. A situação do País na prestação de socorro a doentes queimados graves, embora tenha melhorado grandemente nos últimos anos, é ainda insuficiente para acidentes desta escala"Outro dado evidenciado no relatório é que o incêndio terá começado devido ao contato entre uma linha de média tensão e a vegetação envolvente: "
Fogo foi causado por linha elétrica e não por raio
Outro dado evidenciado no relatório é que o incêndio terá começado devido ao contato entre uma linha de média tensão e a vegetação envolvente: "
Os investigadores consideram que a hipótese de o fogo ter sido causado por um raio que caiu na linha - como aponta o relatório dos peritos que entregaram estudo no Parlamento - não é a mais provável: "Inclinamo-nos fortemente para que tenha sido a linha elétrica de média tensão a originar os dois incêndios, em Escalos Fundeiros e em Regadas".
Comando e meios deslocados falharam em toda a linha
Os meios disponíveis e o comandante operacional "não se mostraram suficientes para controlar" o incêndio que começou às 15h00 de 17 de junho em Escalos Fundeiros, Pedrogão Grande, indica o relatório do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais.
O relatório "O complexo de incêndios de Pedrógão Grande e concelhos limítrofes, iniciado a 17 de junho", entregue esta sexta-feira à ministra da Administração Interna, concluiu que morreram neste fogo 65 pessoais, e não 64 como as que foram até agora contabilizadas.
"No ataque inicial ao foco de Escalos Fundeiros, foi desde logo reconhecido o seu potencial para se vir a tornar um grande incêndio, mas os meios disponíveis e o seu comandamento não se mostraram suficientes para controlar o incêndio, que apresentou uma dificuldade de supressão acima da média", refere o documento encomendado pelo Governo.
O relatório, publicado no portal do Governo, adianta que "a ocorrência simultânea de outros incêndios na região e a falta de perceção da sua importância, nos vários escalões de decisão, levou a que não fossem utilizados mais recursos, nomeadamente mais meios aéreos pesados, no seu combate, no período entre as 15h00 e as 18h00".
"Embora o processo de triangulação de meios previstos no SGO [Sistema de Gestão de Operações] tenha funcionado dentro do previsto, a reação ao agravamento da situação foi claramente tardia", sublinha o relatório.
Pânico na fuga
O relatório, que aborda a forma como uma trovoada seca afetou o incêndio, conclui que a falta de meios de socorro junto das casas, a falta de energia elétrica, de água e de comunicações, gerou uma fuga de pessoas que "procuravam ir para locais seguros, mas a grande escala deste fenómeno, tornou os locais seguros muito distantes e o fogo interrompeu o trajeto que essas pessoas seguiam".
"A progressão muito rápida do incêndio colheu várias pessoas de surpresa nas mais variadas direções para que tentaram fugir, lê-se no relatório.
O documento aponta que a falta de limpeza da envolvente das estradas permitiu que muitas pessoas fossem colhidas em plena fuga, pelo fumo e pela radiação do incêndio, pelas chamas da vegetação em redor e mesmo por árvores caídas na própria estrada.
"A quase totalidade das vítimas morreu quando tentava fugir de carro pela estrada e, apenas num troço de 400 metros da EN-236-1, perderam a vida 30 pessoas", sublinha o relatório.
Da análise realizada resultou ainda a conclusão que "apenas quatro das 65 vítimas mortais deste incêndio perderam a vida dentro de casa", em situações que ainda estão em investigação, sendo contudo certo que "todas elas tinham algum problema de mobilidade ou de saúde".
"Verificou-se que para a larga maioria das vítimas e mesmo para outras pessoas que sobreviveram à exposição do fogo enquanto fugiam, a permanência em casa teria sido a opção mais segura", enfatiza o documento.
O relatório nota ainda que o sistema de comunicações por rádio e telefone teve uma falha geral em toda a região, por limitações inerentes aos sistemas, por sobrecarga de utilizadores ou ainda deficiente utilização de alguns dos sistemas.
Outra conclusão importante indica que a prestação de apoio psicológico e socorro médico e hospitalar teve "deficiências que importa estudar melhor", sendo evidente que a situação do país na prestação de socorro a doentes queimados graves é "ainda insuficiente para acidentes desta escala".
Outro aspeto que resulta das conclusões é o facto de que os municípios de Pedrogão Grande e de Castanheira de Pera não dispunham de Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PMDFCI) validados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
"Este facto inibiu estas entidades de receberem financiamento durante os últimos anos para promoverem ações de prevenção, com manifesto prejuízo destas", conclui o relatório, que avança com diversas recomendações, uma delas manifestando reservas quanto "às evacuações compulsivas generalizadas".
O relatório recomenda um "grande cuidado na seleção dos quadros de Comando da estrutura da Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) e dos bombeiros" e defende que o ICNF deverá "ter uma presença maior e uma participação mais efetiva na gestão do problema dos incêndios florestais".
No campo da prestação de socorro médico em catástrofes como esta, o relatório vinca que "há que melhorar muito a organização de um serviço de busca e salvamento, para prestar socorro e apoio sanitário, em todo o território afetado".
Entre outras recomendações está a de que seja criado um Programa Nacional de Gestão de Incêndios Florestais, que envolva e congregue as entidades mais diversas da sociedade civil e do Estado.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.