"Onde se lê Manuel Vicente na acusação, devia ler-de Carlos Silva", disse esta terça-feira o ex-magistrado do DCIAP. Orlando Figueira nega que tenha sido subornado pelo vice-presidente de Angola para arquivar inquéritos. "Até parece que é o todo poderoso e tem uma varinha de condão", referiu na sessão que decorre esta segunda-feira.
Figueira explica a sua visão sobre o raciocínio da acusação. "Se o Ministério Público metia o Carlos Silva em vez do Manuel Vicente deixava de haver crime de corrupção. Mas foi com ele que eu contratei o emprego... E não se percebe como é que, ele estando em Angola, tem uma varinha de condão, e consegue tratar de tudo... O Ministério Público inventou uma tese. Ainda bem que não se lembraram de dizer que foi o Trump que me contratou"
Relações entre Portugal e Angola em risco
"Estão a toldar-se as relações entre Portugal e Angola e ele [Manuel Vicente] não tem nada a ver com isto", disse o arguido na segunda sessão de julgamento da Operação Fizz, na qual continua a tentar rebater ponto por ponto a acusação.
Orlando Figueira voltou a insistir que quem aprovou o empréstimo de 130 mil euros que lhe foi concedido pelo BPA foi a gestora Graça Proença de Carvalho, tendo sido assinado por André Navarro, CEO (presidente executivo) do BPA e que, em seu entender, "deveriam ter sido constituídos arguidos".
"Não creio em bruxos, nem em teorias da conspiração, mas...", lançou.
Juiz lembra que acusação considera empréstimos como "atos mascarados"
O juiz presidente interveio para dizer que, segundo a acusação, os empréstimos contraídos por Orlando Figueira são atos mascarados de suborno pelo arquivamento de inquéritos-crime que envolvem o ex-vice-presidente de Angola.
O arguido refutou dizendo que "os arquivamentos foram despachados em consciência por um magistrado impoluto, com rigor técnico e lisura" e que se fosse hoje "voltaria a fazer tudo igual", e explicando que a retirada do processo de documentos sobre rendimentos de Manuel Vicente foi para "proteção da reserva da vida privada e sigilo fiscal", decisão avalizada pela antiga diretora do DCIAP, Cândida de Almeida.
"Bastaria a assinatura de Cândida Almeida para conferir um cunho de credibilidade a qualquer documento", disse, aludindo ao seu despacho de arquivamento relativo a Manuel Vicente, também ex-presidente da Sonangol.
Durante a sessão da manhã, o juiz Alfredo Costa confrontou Orlando Figueira com as "coincidências" entre as datas do despacho de arquivamento e as entradas de dinheiro nas contas do arguido, tendo o ex-procurador reiterado que uma coisa não teve a ver com a outra