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Pais acusados na morte da filha

Uma rapariga de 16 anos morreu vítima de um medicamento abortivo. Os pais, o namorado e uma médica do Hospital de Tomar estão a ser julgados pelo crime de aborto agravado. A segunda sessão do julgamento, que decorre à porta fechada a pedido dos arguidos, realizou-se ontem.

12 de junho de 2008 às 21:30

Sara D. faleceu faz hoje três anos na sequência de complicações provocadas pela ingestão de Cytotec, um medicamento usado para a prevenção de úlceras e que tem efeitos abortivos. A médica que prescreveu o fármaco, Maria M., de sessenta anos, está acusada de um crime de aborto agravado. A mesma acusação pende sobre os pais da menor – Maria D., de 46 anos, e José D., de 42 anos – e o namorado, Bruno R., de 22 anos.

O casal soube da gravidez em Junho de 2005 e, como ambos eram demasiado jovens para ter o filho, decidiram que o aborto seria a solução. Por isso falaram com os pais de Sara D. no dia 5 de Junho, que concordaram em ajudar a filha. No dia seguinte, Maria D., na altura funcionária do Hospital de Tomar, decidiu falar com Maria M., ginecologista e obstetra na unidade de Saúde, porque tinha ouvido falar de um medicamento que provocava o aborto. A médica dispôs-se a ajudar na condição de todos os envolvidos estarem de acordo. No final de um encontro em casa dos pais de Sara D. receitou o fármaco e deu instruções à mãe da adolescente, que terá ficado encarregada de administrar o Cytotec.

A 10 de Junho, quando tomava quatro comprimidos de duas em duas horas há dois dias, a adolescente teve uma hemorragia interna. Perante a gravidade da situação,os pais transportaram-na às Urgências do Hospital de Tomar, mas o seu estado clínico não melhorou.

Sara D. foi transferida para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde veio a falecer a 12 de Junho com uma intoxicação provocada pela ingestão do referido medicamento.

GINECOLOGISTA TERÁ GARANTIDO QUE ERA SEGURO

A médica ginecologista Maria M. terá dito aos pais da adolescente que o Cytotec não acarretaria consequências para a sua saúde, porque o atraso no período de Sara D. era de apenas seis dias e não seria muito doloroso. A médica não compreende como a morte pode ter resultado da administração do medicamento, levantando a hipótese de alguma coisa ter corrido mal durante a hospitalização. Maria M. diz que avisou os pais de Sara D. de que a menor não poderia tomar outros medicamentos (por exemplo analgésicos ou anti-inflamatórios), desconfiando que lhe tenham dado algum quando viram a filha muito doente. A ginecologista já tinha administrado o Cytotec noutras situações semelhantes, sem consequências para a saúde das mulheres.

ADOLESCENTE SOFREU INFECÇÃO GENERALIZADA

A adolescente, estudante, e o arguido Bruno R., serralheiro de alumínios, começaram a namorar em finais de 2004 e mantiveram o relacionamento afectivo e sexual durante nove meses até a jovem descobrir que estava grávida. A mãe da adolescente, que se dispôs sempre a ajudá-los, chegou a marcar uma cirurgia para a filha, numa clínica em Aveiro, que nunca se concretizou porque optaram pelo uso do Cytotec. O relatório da autópsia refere que a causa da morte de Sara D. foi uma sepsis, ou seja, uma infecção generalizada provocada por ingestão de elevadas doses da substância abortiva.

DETALHES

PERIGOSO

O Cytotec é um fármaco usado na prevenção de úlceras gástricas e intestinais, que não deve ser tomado por mulheres grávidas porque provoca contracções e hemorragias internas.

DIVÓRVIO

Os pais de Sara D. não conseguiram superar a morte da filha. Divorciaram-se em Fevereiro último, mas já estavam separados desde Maio de 2007. A mãe mudou de emprego e reside em Tomar. O pai vive em Espanha, onde é motorista de longo curso.

 

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