Dirigentes revelam que trabalhadores não denunciam as situações por medo de represálias.
Os dirigentes de sindicatos bancários disseram esta quarta-feira, no parlamento, que há um clima de assédio transversal ao setor bancário e que os trabalhadores não denunciam essas situações por medo de represálias.
"É um problema silencioso. O assédio existe, sabemos que existe, mas na maioria não há denúncias. Quando o trabalhador não aguenta mais entra de baixa, porque se fizer queixa está na lista negra", disse o presidente do Mais Sindicato (afeto à UGT), António Fonseca, na audição dos sindicatos do setor bancário na Comissão parlamentar de Trabalho.
Segundo o dirigente sindical, os bancários têm vindo a diminuir significativamente quando o trabalho não diminuiu, apesar do tanto que os bancos falam em digitalização, e, questionado sobre o direito a desligar, afirmou que os bancários sabem que o direito existe, mas que também terão consequências se o exigirem.
"Todos temos direito a desligar, o problema é que ninguém tem o atrevimento de desligar. [As chefias] ligam fora de horas, marcam reuniões fora de horas, formações fora de horas", afirmou.
Para o dirigente sindical é preciso um 'grito do Ipiranga' dos bancários pois estão cada vez mais assoberbados e o setor tem cada vez mais dificuldade em contratar gente devido às condições de trabalho.
O presidente do STEC, Pedro Messias, também disse haver um "grande problema de assédio ao nível da banca, transversal", incluindo no banco público, e adiantou que, mesmo quando o trabalhador faz queixa, o habitual é o processo não dar em nada.
Segundo os dirigentes sindicais esta quarta-feira ouvidos na Comissão parlamentar de Trabalho, os bancários lidam com um trabalho de enorme pressão, referindo que a digitalização não é tão real como se pensa (afirmam haver 'falsa digitalização' e que, mesmo quando clientes fazem operações pela 'app' dos bancos, os pedidos e as execuções de ordens precisam de bancários que deem andamento aos processos).
Afirmam ainda que o setor bancário que serve mal os clientes com fecho de balcões (que afeta especialmente o interior do país, onde por vezes é preciso fazer dezenas de quilómetros só para levantar dinheiro) e redução do horário de atendimento das agências.
Disseram ainda que ser bancário já foi uma profissão reconhecida e bem remunerada mas esta quarta-feira não é, auferindo salários que não se coadunam com a formação e as exigências que lhes são feitas.
Segundo Pedro Brito, do Sindicato Independente da Banca, os bancos há anos que propõem aumentos salariais "sempre abaixo da inflação" e têm vindo a quebrar a ética negocial ao fazer atualizações salariais antes de ser terminada a negociação coletiva. O objetivo, disse, é diminuir a capacidade de reivindicação dos sindicatos aproveitando a pouca mobilização dos trabalhadores do setor.
Os sindicatos afirmaram ainda que a legislação do trabalho que existe não é cumprida, desde logo porque a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) não tem uma fiscalização efetiva.
"Há legislação mas é preciso ser cumprida. Eu era jovem e enfiaram-se dentro de uma casa banho para a ACT não me ver. Quando se é jovem e se quer ter uma promoção para ganhar melhor é-se manietado", recordou António Fonseca, defendendo ainda que a muitas empresas compensa pagar as multas.
"Muitas vezes não pagam as hora extra porque mais vale pagar as coimas do que as horas extra", considerou.
Para Nuno Matos, do Sindicato dos Trabalhadores da Actividade Financeira (Sintaf, afeto à CGTP), os problemas residem também na caducidade das contratações coletivas, permitindo às empresas denunciarem as convenções coletivas (onde estão consagrados direitos dos trabalhadores de um setor específico) ou usarem esta possibilidade para tentar impor piores condições de trabalho.
Esta frente comum de sindicatos da banca (Mais Sindicato, Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal, Sindicato dos Bancários do Centro, Sindicato de Trabalhadores das Empresas do Grupo Caixa Geral de Depósitos, Sindicato dos Trabalhadores da Actividade Financeira e Sindicato Independente da Banca) tem vindo a reunir-se com o poder político para dar conta dos problemas do setor, tendo já havido reuniões com grupos parlamentares de PS, Chega, Iniciativa Liberal e PCP e com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Aguardam reuniões com PSD, BE, Livre e PAN.
No final de 2023, segundo as séries longas do Banco de Portugal, havia 44 mil trabalhadores bancários (face a 63 mil em 1993) e mais 15 mil em regime de 'outsourcing' (trabalhadores externos que prestam serviços para os bancos).
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.