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Skins foram a Coruche

Um grupo de cinco cabeças-rapadas oriundos da Grande Lisboa esteve na sexta-feira à noite no centro de Coruche. “Foram explorar o terreno”, disse ao Correio da Manhã fonte policial.

22 de maio de 2005 às 00:00

A GNR já suspeitava que ‘skinheads’ estavam prontos a marcharem sobre aquela vila ribatejana (como o CM ontem noticiou) com o objectivo de agredirem as famílias ciganas que, nos últimos dias, se têm envolvido em confrontos com a população local.

Eram cerca das 20h00 quando os cinco cabeças-rapadas trajados com gabardinas pretas foram detectados no interior de um café, no centro de Coruche. Uma patrulha da GNR local deslocou-se ao café e identificou os cinco homens.

“Provavelmente, estavam na esplanada à espera que os ânimos se exaltassem entre os habitantes e a comunidade cigana [tal como acontecera na véspera] para actuarem”, disse a mesma fonte.

Conforme o Correio da Manhã noticiou ontem, os Núcleos de Investigação Criminal da GNR obtiveram informações de que os confrontos entre a população de Coruche e a comunidade cigana local – com mais de 500 indivíduos – despertara a atenção de um grupo de ‘skins’, elementos considerados extremamente racistas e perigosos, espalhados por toda a Grande Lisboa.

Os cabeças-rapadas começaram a movimentar-se a partir da tarde de sexta-feira – precisamente com o objectivo de irem em ‘socorro’ dos habitantes da vila, que se têm queixado da violência, distúrbios e roubos de que são frequentemente alvos por parte das famílias ciganas.

Os últimos episódios desta tensão levaram, na quarta-feira, à destruição parcial de um café quando o dono se recusou a servir uma cerveja a um indivíduo cigano e, no dia seguinte, voltaram a haver agressões durante uma manifestação popular.

A possibilidade de um confronto racial em Coruche mantém o Comando-Geral da GNR em alerta máximo: todo o Grupo Territorial de Santarém está de prevenção, com o apoio de duas equipas do Batalhão de Operações Especiais (BOP) do Regimento de Infantaria e da Brigada de Trânsito, responsável pelo controlo de todos os acessos a Coruche.

Em alerta está também um outro pelotão do BOP, aquartelado em Lisboa. Recorde-se que Coruche fica a cerca de 45 minutos da capital.

"SE OS APANHAM, PUXAM O GATILHO"

Em Monforte, distrito de Portalegre, a população está revoltada com a onda de assaltos praticada nos últimos três meses por “três ou quatro toxicodependentes residentes na vila”.

O povo já se organizou para acabar com este clima de insegurança. Armado de caçadeiras, um grupo de populares saiu mesmo à rua, na quarta-feira à noite, para apanhar os suspeitos e nem sequer se importou com os apelos à calma por parte da GNR.

“Ainda viram um a saltar o muro de uma casa. Se os apanham puxam logo o gatilho das espingardas”, disse ao nosso jornal José Santos, uma das cerca de duas dezenas de vítimas dos assaltos. “Não faço parte desse grupo, mas também tenho uma caçadeira. Se voltarem de novo à minha casa, e se vir alguém, dou-lhe um tiro”, garante José Santos.

Enquanto via o desafio de futebol entre Benfica e Sporting, José Santos ficou sem diversas jóias em ouro e dinheiro no valor de quatro mil euros.

“Não estava ninguém em casa e levaram fios, anéis e pulseiras e o dinheiro da carteira. É uma vida a trabalhar para nada”, diz.

A ‘quadrilha’ assaltou desde Fevereiro mais de uma dezena de moradias, vários estabelecimentos comercias e edifícios públicos. Em dois assaltos à Câmara Municipal, levaram um cofre com 80 euros, moedas da máquina do café, 12 chaves e dois computadores portáteis. “Furtam artigos que são fáceis de trocar por droga”, diz fonte da GNR. O policiamento foi reforçado nas ruas da vila.

'BATEDORES'

A GNR acredita que os cinco ‘skinheads’ que se deslocaram a Coruche tinham como missão ‘bater o terreno’ – aferir a possibilidade de uma incursão à vila com mais ‘reforços’.

PROTAGONISMO

Fonte da GNR, contactada pelo CM, está convicta de que os cabeças-rapadas esperavam a presença das câmaras de televisão, tal como acontecera na véspera, para ‘angariarem’ protagonismo para o movimento de extrema-direita. Ao mesmo tempo que não descartariam uma intervenção física caso as famílias ciganas aparecessem.

COOPERANTES

Ao que o CM apurou, os cinco indivíduos que a GNR identificou acabaram por cooperar sem causar quaisquer distúrbios. Entraram em duas viaturas e deixaram a vila.

MOVIMENTO

Os Núcleos de Investigação Criminal da GNR recolheram indícios de que o local da reunião dos cabeças-rapadas será – ou já terá sido – na zona de Alvalade, em Lisboa. O movimento pode partir daí e marchar até Coruche.

ESPERADOS

A GNR já contava com a presença dos ‘skinheads’ em Coruche. “Trata-se de um grupo muito organizado e com funções perfeitamente atribuídas”, diz fonte policial.

BAIRRO DA 'DESGRAÇA'

A comunidade cigana de Coruche é considerada uma das maiores do País. Divididas entre os bairros da ‘Desgraça’ e da ‘Azervadinha’, nas imediações da vila, as famílias ciganas representam dois por cento do total da população – mais de 500 indivíduos. A maior parte não tem trabalho e são uma preocupação para a autarquia.

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