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TORRES DE SIZA VIEIRA BARALHAM PLANO MUNICIPAL

A construção de três torres com mais de cem metros em Alcântara, um projecto do arquitecto Siza Vieira apresentado anteontem em Lisboa e bem recebido pela autarquia, constitui uma violação às regras do Plano Director Municipal (PDM), defendeu ontem, em declarações ao Correio da Manhã Margarida Magalhães, vereadora socialista da Câmara .

01 de novembro de 2003 às 00:00

O actual presidente da autarquia, Santana Lopes, considerou, anteontem, na sessão de apresentação, que o projecto das torres é “um acto de cultura”. E o arquitecto Siza Vieira, autor do projecto, disse estar preparado para tudo: “Se não houver polémica, então o projecto é irrelevante”.

Polémico já começa a ser, devido às regras impostas pelo PDM, mas não original. A ideia até já foi apresentada ao anterior executivo camarário, quando há cerca de quatro anos o Grupo SIL, dono do terreno de 4,5 hectares na Avenida da Índia, abordou a então vereadora do Urbanismo, Margarida Magalhães. “Falaram-me na possibilidade de ali construírem umas torres e um jardim no resto do terreno. Mas eu disse-lhes que essa possibilidade não se enquadrava na zona, onde, em vez de um grande jardim, preferia ter ruas e cidade”, lembrou. “Agora, a ideia volta desenhada por Siza Vieira”, frisa ao CM, considerando que o arquitecto escolhido é garante de qualidade, mas isso não viabiliza o projecto que, face às regras do PDM em vigor, não pode ser licenciado, ou seja, construído.

O PDM prevê para aquela zona edifícios com 25 metros de altura máxima (oito andares), pelo que a aprovação do projecto obrigará à alteração do PDM ou à elaboração de um Plano de Pormenor, facto já referido na apresentação da maqueta pela vereadora do Licenciamento Urbanístico, Eduarda Napoleão.

Vereadora na oposição, eleita pelo PS, Margarida Magalhães lembra que a zona de Alcântara foi estudada pelo anterior executivo, que pretendia reabilitá-la com construções “arrojadas”, mas cuja altura não excedesse a existente. “É que Lisboa, na ocasião, não queria prédios em altura. Agora há que saber se já quer”, refere, defendendo que a revisão do PDM, em curso, seja precedida de amplo debate público. Contactada pelo nosso jornal, uma fonte do executivo afirmou nada ter a adiantar.

O projecto prevê a construção de três torres, uma cilíndrica, outra rectangular e a terceira piramidal com o topo cortado, com 35 andares, cada, e 105 metros de altura. Duas serão de habitação e a terceira de serviços. Para Siza Vieira, edificar as torres permite criar uma zona verde mais ampla, pois o terreno será ocupado, sobretudo, em altura. Assim, estão previstos 3,3 hectares de espaços públicos ajardinados e uma passagem pedonal, por cima da linha férrea, até às Docas, com esplanadas e lojas. O projecto contempla ainda seis edifícios significativamente mais baixos, entre os 12 e os 15 metros, ou seja, com quatro andares. Mas caso as torres não sejam aprovadas, então estes prédios, para habitação e serviços, subirão aos oito pisos. Mas, neste caso, “a zona ficará fortemente condensada com prédios de oito andares”, alertou o arquitecto. Siza considerou ainda que o impacto da altura das torres na zona é reduzido pela Ponte 25 de Abril.

O projecto apresentado está orçado em cerca de 180 milhões de euros e caso seja aprovado demorará 36 meses a ser edificado.

PERFIL

Ainda não tinha concluído o curso de Arquitectura (1949/55), na Escola Superior de Beças Artes do Porto, quando meteu mãos à obra e projectou a cozinha da casa de sua avó, em Matosinhos, cidade onde nasceu em 1933. Siza Vieira, Álvaro Joaquim de Melo Siza Vieira recebeu, em 1992, o Prémio Pritzker, considerado o Nobel da Arquitectura, pelo conjunto da sua obra, já, então, vasta, entre projectos, estudos e construções: 122 em Portugal; dez na Alemanha; um em Macau; sete em Itália; seis na Holanda; 11 em Espanha e um na Áustria. Conhecido dos lisboetas pelo Plano de Reconversão do Chiado, de que é responsável, Siza é autor ainda do Estudo Urbanístico e Plano de Viabilização para a Praça de Espanha – não executado –, Pavilhão de Portugal na Expo’98 e Estação de Metro Baixa/Chiado, entre outros. Professor desde sempre, Siza Vieira retirou-se recentemente da carreira universitária ao atingir os 70 anos.

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