Fecho de fronteiras que acompanhou o estado de emergência fez "reduzir significativamente" a utilização de Portugal como país de trânsito.
O tráfico de seres humanos diminuiu em 2020, devido às medidas de conteção da covid-19, mas já há indícios de que está a "voltar à realidade" pré-pandemia, segundo o procurador da República Miguel Ângelo do Carmo.
"Até final do ano, vamos voltar à realidade antes da pandemia", estimou o procurador, orador no debate sobre tráfico de seres humanos promovido hoje pela Assembleia da República.
A previsão decorre dos dados já disponíveis para o primeiro semestre de 2021. Até 30 de junho, adiantou, foram abertos 65 processos por tráfico e 132 por auxílio à imigração ilegal, números que já ultrapassam o total de registos de 2020 (196, "uma diminuição" face a 2019).
O "regresso progressivo à normalidade" pré-pandemia, "conjugado com o desemprego" resultante da crise associada, "faz antever uma retoma por parte das organizações criminosas a este tipo de atividade", corroborou Pedro Soares Santos.
Também orador no debate, o inspetor da Polícia Judiciária sublinhou a necessidade de "dotar as polícias de meios, especialmente humanos".
O estado de emergência "parece ter conduzido à redução de certos tipos de crimes", mas "as organizações criminosas adaptam-se às novas circunstâncias", destacou, referindo o potencial das "novas tecnologias encriptadas".
A secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, que encerrou o debate, sublinhou também que "as redes se adaptaram rapidamente", passando para o espaço digital e adotando ferramentas online, servindo-se da tecnologia "para ampliar" o crime, o que coloca "desafios às autoridades".
O fecho de fronteiras que acompanhou o estado de emergência fez "reduzir significativamente" a utilização de Portugal como país de trânsito para o tráfico e a exploração, constatou Rui Osório, inspetor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, também orador no debate.
Porém, acrescentou, "o setor primário continuou a lucrar e não diminuiu produção", não tendo havido uma redução de mão de obra no trabalho agrícola, que, sendo "uma atividade muito regulada", é terreno de "violação constante dos direitos laborais, com ordenados abaixo do razoável" e esquemas de "'dumping' económico e social".
"Também os exploradores que se dedicavam à angariação em Portugal viram a sua atividade reduzida e tiveram de se virar para atividades laborais convencionais", descreveu, realçando que a pandemia "exacerbou as vulnerabilidades" da comunidade imigrante em Portugal.
Também a participar no debate, Fernanda Campos, inspetora-geral da Autoridade para as Condições no Trabalho, reconheceu que os trabalhadores imigrantes têm "dificuldade em saber como mover-se para conseguir apoio".
Em 2020, a ACT identificou 276 homens e 174 mulheres em situação de tráfico ou exploração laboral em Portugal, sobretudo na agricultura e na construção civil.
Realçando que a ACT tem "uma posição muito privilegiada para detetar indícios de exploração", a inspetora disse que "todos os inspetores" têm recebido formação sobre estes crimes.
Em Portugal, o tráfico para fins de exploração laboral é o mais sinalizado, com o setor agrícola a liderar a tabela. Traçando um retrato das vítimas em Portugal, Rita Penedo, do Observatório do Tráfico de Seres Humanos, explicou que são maioritariamente homens e adultos.
"Portugal manteve-se principalmente como país de destino de tráfico e exploração laboral", disse, acrescentando que "as sinalizações de trânsito diminuíram e o tráfico de menores também", relacionando ambas com o fecho de fronteiras.
Destacando a "invisibilidade forte" das vítimas de tráfico, Rita Penedo alertou para "o risco de não deteção das vítimas ser exponenciado em momentos como o atual.
"As vítimas, grande parte das vezes, não sabem que são vítimas, porque nos países de origem já são maltratadas", assinalou o procurador Miguel Ângelo do Carmo, realçando que é preciso garantir que os organismos responsáveis são capazes de as identificar e "continuar a trabalhar" para conseguir atingir os traficantes "onde lhes dói mais", que é no lucro.
"Se houve quem não confinasse foram os traficantes e os exploradores", fazendo das "vítimas ainda mais vulneráveis", assinalou Sandra Benfica, do projeto ACT, do Movimento Democrático de Mulheres, reconhecendo que, em contexto de pandemia, "a linha da frente ficou mais difícil, fazendo piorar as respostas".
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.