Arguidos apresentaram versões contrárias em que se assumiram como 'vítimas' e impotentes.
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O julgamento de Sandro e Márcia, acusados de homicídio qualificado e de profanação de cadáver de Valentina, morta em maio com nove anos de idade, arrancou esta quarta-feira no Tribunal de Leiria com o casal de costas voltadas. Sandro mudou a versão dos factos e imputa a Márcia toda a culpa do que aconteceu a Valentina.Já Márcia, diz que não conseguiu deter Sandro e que foi ele quem agrediu violentamente Valentina após um telefonema da ama da menina que indicaria alegados abusos por parte de um padrinho.
Versões contraditórias e acusações: O que disseram o pai e a madrasta de Valentina durante o julgamento
Ao longo da sessão desta manhã, as versões de ambos os arguidos não poderiam ser mais contrárias com Sandro a dizer que nada fez porque tinha "respeito" pela mulher, e que era ela que "mandava lá em casa" e, por seu lado, Márcia a dizer que tentou "proteger Valentina", mas que tinha medo das ameaças do então companheiro.
A versão de Sandro Bernardo, contada em tribunal, sobre o que aconteceu no dia da morte de Valentina:Sandro começa por confirmar que confrontou a filha sobre os alegados abusos sexuais. "Dei-lhe umas palmadas", assume acrescentando que também ralhou com a menina e que a colocou de castigo.
Confrontado pelo juiz sobre as lesões no corpo de Valentina, Sandro justifica que só lhe deu umas palmadas no rabo e que depois não lhe bateu mais.
Ao longo de cerca de um hora em que falou na sala de audiência, com questões do juiz, do seu advogado e procuradora, Sandro manteve-se sem emoções a descrever aquilo que diz que aconteceu.
Alega que foi Márcia que levou a filha para a casa de banho e que ouviu gritos. "Ouvi-a aos gritos e a Márcia já estava com a Valentina na água quente", aponta. Diz ainda que foi a companheira a colocá-la na banheira, que ele não esteve envolvido nessa situação e que quando chegou viu a menina já a desfalecer. "Começou a ter espamos, começou a tremer", alega.
"Ela não parava com espamos, agarrei nela e levei-a para apanhar ar, levei-a para debaixo da janela", descreve.
O juiz questiona se Sandro a levou para algum sítio ao que este responde: "Levei-a para a cozinha. Ficou sentada no meu colo".
Na continuação da explicação, Sandro nega que tenha apertado pescoço à filha. O pai de Valentina acusa diretamente Márcia afirmando que o único crime que cometeu foi o de não chamar ajuda.
Juiz confronta-o com as marcas: "Eu não vi [as marcas], mas se estão lá, foi ela [Márcia]", aponta. Juiz questiona se foi Márcia a "bater nas pernas, costas" ao que Sandro diz que sim e que foi na sua presença.
Juiz questiona o porquê de nada ter feito para impedir Márcia. Sandro diz que tentou "mas tinha muito respeito pela Márcia", que era ela quem "mandava lá em casa". "Por muito respeito que tenha pela Márcia, ela estava a maltratar a Valentina, não fez nada?", insistiu o juiz. Sandro diz apenas que protestou. Sobre pancada na cabeça, que provou hemorragia interna, também nega. Diz que quando chegou à casa de banho, já a menina estava a desfalecer. Sobre os estalos que foram dados no rosto de Valentina, Sandro alega que eram para a acordar. Perante a presença do enteado, Sandro Bernardo confirma que o mandou embora, caso contrário ficaria sem as irmãs. Sandro confirma ainda as convulsões e a menina ter ficado inanimada, factos presentes na acusação. Alega ainda que não pensou que a filha fosse morrer, que a deixou no sofá e que Márcia ia ver se ela respirava. Diz que percebeu que filha tinha morrido quando a viu espumar da boca O juiz questiona por que "não fizeram nada para socorrer" Valentina. Sandro diz que Márcia começou a dizer coisas: "Começou a encher-me a cabeça". "Ela disse-lhe o quê?", pergunta o juiz. Sandro responde: "[Márcia disse] O que ia ser das nossas meninas".
"Por muito respeito que tenha pela Márcia, ela estava a maltratar a Valentina, não fez nada?", insistiu o juiz.
Sandro diz apenas que protestou. Sobre pancada na cabeça, que provou hemorragia interna, também nega. Diz que quando chegou à casa de banho, já a menina estava a desfalecer.
Sobre os estalos que foram dados no rosto de Valentina, Sandro alega que eram para a acordar.
Perante a presença do enteado, Sandro Bernardo confirma que o mandou embora, caso contrário ficaria sem as irmãs.
Sandro confirma ainda as convulsões e a menina ter ficado inanimada, factos presentes na acusação.
Alega ainda que não pensou que a filha fosse morrer, que a deixou no sofá e que Márcia ia ver se ela respirava. Diz que percebeu que filha tinha morrido quando a viu espumar da boca
O juiz questiona por que "não fizeram nada para socorrer" Valentina. Sandro diz que Márcia começou a dizer coisas: "Começou a encher-me a cabeça".
"Ela disse-lhe o quê?", pergunta o juiz. Sandro responde: "[Márcia disse] O que ia ser das nossas meninas".
Confirma que ambos combinaram ir às autoridades participar desaparecimento e que disse, posteriormente, onde estava o cadáver da filha porque "já tinha a cabeça com muita pressão".
Sandro diz que se limitou a assistir ao crime, que nunca pensou que a filha pudesse morrer e questionado sobre o porquê de ter escondido o corpo, Sandro diz: "Na altura não pensei".
Alega que foi ele quem escolheu o local para esconder o corpo, mas não consegue explicar o porquê daquele local.
Sandro diz que Márcia não se opôs que levasse Valentina para cozinha e que não viu ninguém a agredi-la com um chinelo.
O arguido afirma que a ideia de simular o desaparecimento de Valentina foi de Márcia, mas os pormenores dados à GNR foram dados pelo próprio.
O pai de Valentina afirma ainda que ele e Márcia dormiram em quartos separados. Que ele e o menino de 13 anos [filho de Márcia] dormiam num quarto e Márcia e as meninas noutro quatro e que estava a dormir quando tudo começou e que Márcia já estava na casa de banho.
A versão de Márcia, contada em tribunal, sobre o que aconteceu no dia da morte de Valentina:Após as declarações de Sandro, que imputam toda a culpa a Márcia, foi a vez da madrasta de Valentina ter a palavra. Disse que queria "dizer a verdade".
"Foi no dia do telefonema da ama quando se desenrolou tudo", começa por explicar fazendo referência aos alegados abusos. Márcia explica que Sandro a confrontou a menina e terá começado a agredi-la.
"Disse-lhe para ele [Sandro] parar porque ela era pequena", explica. "Ela contou-nos a história do padrinho a mim e ao pai, o Sandro bateu-lhe e eu tentei impedir", continua.
Márcia diz que o então companheiro afirmou que "a filha era dele e que ela [Valentina] não fazia ali o que fazia em casa da mãe".
"Bateu-lhe com muita força, quando eu tentei impedir ele empurrava-me e dizia-me que a filha era dele", explica.
Tudo aconteceu no dia 6 de maio, explica a arguida, enquanto "estava a fazer o leite da menina e o Sandro já estava acordado".
"Tínhamos combinado ela ir fazer os trabalhos de casa, ele começou a discutir com ela, disse que ela mentia e que só tinha esperteza para fazer o que não devia", descreve Márcia
"Bateu-lhe nas pernas, rabo, em vários locais... tentei proteger a Valentina", conta emocionada.
Já na casa de banho, Márcia afirma que "tentava tirar-lhe o chuveiro da mão" mas que Sandro a empurrava. "A menina estava com medo", acrescenta.
A arguida diz que ouviu Valentina a gritar "pára, pára" e a "via a tremer". Diz que desligou o chuveiro e que Sandro nem "estava a ver que a menina estava assim".
"Disse-lhe para ele tirar a menina [da banheira], comecei a bater-lhe na carinha para ver se ela respondia" afirma. "Ela tinha os olhos abertos, mas não respondia, até lhe pus o dedo na boca porque tinha medo", continua.
Márcia afirma que disse a Sandro para pedirem ajuda, mas que este disse "para esperar e ver o que ia acontecer".
"Pedi ao meu filho para ir buscar açúcar para ver se menina reagia, mas ela não reagiu", continua.
"Disse-lhe para ele a colocar no sofá para ver se ela ficava bem", acrescenta insistindo que lhe disse "várias vezes" para se pedir ajuda mas que Sandro negou.
Márcia recusa ter apertado o pescoço a Valentina e que quem deu murros na cabeça da criança foi Sandro e que "por vezes fazia isso". "Ficava fora de si e perdia o controlo", acrescenta.
O juiz insiste na questão do pedido de ajuda e afirma que, se tinha telemóvel, por que não ligou ao 112.
A mulher diz que Sandro a ameaçou e teve medo que este fizesse mal aos filhos.
A arguida garante estar a dizer a verdade. "O Sandro diz que foi a senhora e a senhora que foi ele... sabe que às vezes isto tem o efeito contrário", alerta o juiz.
Juiz insiste: "O Sandro prendeu-lhe as mãos?". Márcia diz que não.
"Os senhores almoçaram calmamente... ela no sofá tapada com cobertor...", continua o juiz interrompido por Márcia que diz: "Eu não almocei".
"Podia ter pedido ao seu filho para chamar ajuda...", aponta o magistrado. Márcia justifica com as ameaças de Sandro e alega que estava "com medo dele".
Márcia continua: "Perguntei-lhe o que íamos fazer porque a menina - já morta - não podia ficar ali assim. Ele disse que a única solução era colocar a menina em algum lado".
A arguida diz ter concordado com a "solução" de Sandro mas que lhe disse "que não era solução". "Ele só me mandava calar, tínhamos uma vizinha que era bombeira mas ele não me deixou...", acrescenta.
"Dizia que ia ser preso, fiz tudo o que ele me mandou fazer", conclui.
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