Bispo investiga fraude de milhões na Cáritas
Padre com formação em direito canónico foi nomeado instrutor de processo.
O bispo de Vila Real, D. Amândio Tomás, instaurou um processo canónico ao padre Ernesto Lúcio, que é suspeito de ter desviado uma verba próxima dos 1,5 milhões de euros da Cáritas Diocesana. A abertura do processo estaria já em preparação, mas só ontem, após a notícia do CM, avançou em termos formais. A acusação de paternidade é tratada de outra forma: essa tem, por parte das dioceses, procedimento disciplinar específico.
Quanto ao processo canónico, decorrerá em Vila Real, sendo a decisão competência exclusiva do bispo. Ao que o CM apurou, D. Amândio nomeou como instrutor um padre com formação em direito canónico, que terá por missão a averiguação da veracidade das acusações.
Trata-se de um processo paralelo ao que decorre no Ministério Público e terá como objeto as suspeitas de desvio de dinheiros.
O sacerdote já se tinha despedido das paróquias no Dia de Todos os Santos, dias depois de ter solicitado ao bispo um ano de licença sabática. Admitiu aos paroquianos ter feito "umas asneiras", mas negou ao CM as acusações de desvio de fundos da Cáritas. O seu advogado admitiu depois que as acusações têm origem em "guerras políticas".
Ernesto Lúcio vai ser ouvido no processo agora instaurado, que pode culminar com a sua expulsão do sacerdócio.
Retirou tudo da igreja antes de sairO padre Ernesto Lúcio pediu o afastamento da igreja e da Cáritas, que coordenou durante dez anos, e já retirou daquele espaço tudo o que lhe pertence. Aos paroquianos, garantiu que voltaria. Só precisava de assentar ideias, tinha pedido ao bispo um ano para descansar.
"Normalmente quem me conhece, estima-me e quem não me conhece, fica confuso, talvez por conseguir levar a cabo tantos projetos", disse numa entrevista ao ‘Notícias de Vila Real’.
Mãe é juíza e filhas têm 14 e 16 anos O padre Lúcio assumiu a paternidade das filhas, com 14 e 16 anos. A mãe das menores é juíza no Porto. O advogado, ao CM, garantiu que o padre não cometeu qualquer ilegalidade.
"Gostar de mulheres não é crime. A Igreja deve dar um passo em frente e deixar os padres casarem."
PORMENORES
Enriquecimento ilícito
O processo-crime que corre no Ministério Público de Vila Real é de suspeitas de enriquecimento ilícito. O padre tinha sido alvo de processos já arquivados.
Muitas empresas
O padre Lúcio é sócio-gerente de várias empresas. Pelo menos um lar, uma sociedade imobiliária, uma empresa de químicos e até uma empresa de minério.
População chocada
Os moradores de Vila Real mostravam-se ontem chocados com as suspeitas de desvio de fundos que atingem o padre.
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