Madeira queimada tem "inúmeros fatores" de desvalorização

Associação das Indústrias de Madeira assinalou que Portugal continua a ter necessidade de importar, em média, cerca de 30% da madeira.

06 de setembro de 2025 às 09:26
Combate a incêndios Foto: Ricardo Ponte
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A madeira queimada pelos incêndios tem "inúmeros fatores" de desvalorização, como o aspeto, a perda de valor e a qualidade, e a sua utilização constitui apenas o aproveitamento de algo "parcialmente destruído", considerou a associação das indústrias de madeira.

"A madeira queimada tem inúmeros fatores de desvalorização", provocando, desde logo, uma "situação agreste" para quem a trabalha, afirmou o presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP), Vítor Poças, em declarações à Lusa.

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No caso do pinheiro, a casca ardida perde valor, tendo em conta que é um produto muito exportado para os Países Baixos, onde é utilizada na produção de orquídeas.

Outro fator de desvalorização prende-se com a qualidade da madeira, que se não for automaticamente cortada e consumida vai estar mais sujeita a pragas e doenças.

O próprio aspeto da madeira acaba por ser influenciado, uma vez que quando é queimada fica com um tom mais azulado, para além de alterar as suas propriedades físicas e de impossibilitar a retirada de resina.

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"Os primeiros grandes prejudicados pelos incêndios são os proprietários e depois a indústria, porque a madeira que recebe tem uma muito pior qualidade", referiu.

Acresce o facto de que nem toda a madeira ardida pode ser utilizada, tendo em conta que, normalmente, as árvores com menos de 10 centímetros de diâmetro são totalmente destruídas pelos fogos, mas têm de ser cortadas para que ocorra uma regeneração natural.

Vítor Poças esclareceu também que muitas vezes é dito que em determinada zona ardeu mato, mas que, na realidade, se trata de floresta com árvores pequenas, ou seja, com cinco ou menos anos.

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Por outro lado, a AIMMP assinalou que Portugal continua a ter necessidade de importar, em média, cerca de 30% da madeira, nomeadamente madeira ferrada ou em toros.

Por sua vez, as empresas portuguesas exportadoras ficam numa situação de "muito maior dependência" e de dificuldade de competitividade face ao estrangeiro.

Algumas acabam por encerrar e outras vão aguentando, "mas sobreviver não é a mesma coisa que crescer", apontou.

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O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou em 21 de agosto, em conferência de imprensa, em Viseu, onde decorreu o Conselho de Ministros extraordinário, um "novo instrumento legislativo" a adotar, a partir de agora, em circunstâncias similares às que o país viveu nas últimas semanas devido aos incêndios.

Entre as 45 medidas aprovadas está um apoio financeiro para a "rentabilização do potencial produtivo agrícola e um apoio excecional aos agricultores para a compensação dos prejuízos, mesmo através de despesas não documentadas", até ao máximo de 10.000 euros, bem como um plano para a floresta, a executar até 2050.

Para a AIMMP, o ideal era "não ter apoios, nem incêndios", sobretudo porque estes mitigam, mas não resolvem o problema.

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Apesar de agradecer estas ajudas, apela à morte dos incêndios "pela raiz", visando que estes constituem um crime de "lesa-pátria", que está a destruir a floresta nacional.

Vítor Poças defende o reforço da vigilância e da segurança na floresta, a criação e melhoria de acessos, a agregação de parcelas pelas empresas, cooperativas ou associações para criar unidades rentáveis, que permitam reter o talento.

Por outro lado, reclama mais equipamentos que permitam aumentar a produtividade de quem trabalha na floresta e o reforço do investimento na Polícia Judiciária.

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A isto soma-se um ajustamento da moldura penal, de modo a que os juízes possam ter maior facilidade na aplicação de penas.

Criada em 1957, a AIMMP representa todas as indústrias de base floresta, exceto a celulose, papel e cortiça.

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