"Ninguém do Governo entrou em contacto comigo": família de grávida que morreu no Amadora-Sintra desespera
Cunhada de Umo Cani só pensa em “recuperar os corpos para fazer o funeral na Guiné-Bissau”. Marido indignado com ministra da Saúde por “falar sem ter provas”. Presidente da ULS Amadora-Sintra demite-se.
“Ninguém do Governo português entrou em contacto comigo. Se a ministra ligasse nem sei o que lhe dizia, estou de cabeça quente”, afirmou esta segunda-feira ao CM Aissatu Seid, cunhada de Umo Cani, a grávida guineense de 36 anos que morreu sexta-feira no Hospital Amadora-Sintra dois dias depois de ali ter tido uma consulta em que acusou hipertensão (14-9) e sido mandada para casa, tendo a sua bebé morrido no sábado. “Agora só estou a pensar em recuperar os corpos para fazer o funeral na Guiné-Bissau. A bebé ainda tem de ser autopsiada”.
Braima Seid, marido de Umo Cani, não escondeu esta segunda-feira a revolta com as declarações da ministra da Saúde no parlamento, sexta-feira, a garantir que a gravidez não tinha sido acompanhada e que a mulher chegara recentemente a Portugal. “A ministra fala em nome de um país. Para falar tem de ter provas. Não é falar e depois voltar atrás e pedir desculpa. Como é possível dizer que uma mulher com este nível de gravidez não teve consultas?”, afirmou à CNN Portugal, garantindo que a mulher chegara a Portugal em outubro de 2024, foi à Guiné-Bissau de férias e voltou em Julho a Lisboa. A ministra acabou esta segunda-feira por não pedir desculpas nem demitir-se, depois de o presidente da Unidade Local de Saúde Amadora-Sintra, Carlos Sá, ter assumido ele a responsabilidade pelas informações incorretas que a governante divulgou no parlamento e apresentado a demissão, prontamente aceite por Ana Paula Martins.
Carlos Sá afirmou que só “em momento posterior” tomou conhecimento da informação correta. Os partidos voltaram a pedir a demissão da ministra. André Ventura (Chega) questionou quantas mais pessoas “têm de morrer sem atendimento para que a ministra perceba que é responsável pelo estado em que o país está?”. Também a IL pediu a saída da ministra, enquanto o PCP responsabilizou o primeiro-ministro Luís Montenegro.
Marta Temido: “Demissão não ajuda”
A ex-ministra da Saúde Marta Temido, que se demitiu em 2022 após o caso da morte de uma grávida, ilibou esta segunda-feira Ana Paula Martins. “Não me parece que [a demissão da ministra] ajude em nada. Olhando para trás, se não me tivesse demitido talvez tivesse feito mais coisas”, disse, embora tenha criticado a atual política de saúde.
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