Portugal entre países com pouco investimento no combate à desinformação
Países devem adotar novas ferramentas para melhorar as capacidades de deteção e monitorização da disseminação da desinformação.
Os países da região euro-atlântica, como Portugal, têm recursos insuficientes para combater desinformação e investem menos do que os agentes ameaçadores no espaço de informação, revela esta quinta-feira um relatório da organização internacional Hybrid COE.
"Embora existam muitas boas medidas de combate à desinformação em vigor em toda a região euro-atlântica, os dados mostram que muitos profissionais nos países da União Europeia (UE) e da Nato acreditam que todas as linhas do seu trabalho de combate à desinformação têm recursos insuficientes", lê-se no relatório.
O documento sugere que parece haver uma falta de mecanismos estabelecidos para a cooperação entre as autoridades e o setor não-governamental, ao mesmo tempo que "muitos países estão a implementar ferramentas para aumentar a sensibilização para a desinformação, mas estão a fazer menos para limitar ou punir atores".
O relatório explica que a associação entre os setores governamentais e não-governamentais sobre o combate da desinformação deve aumentar, uma vez que "nenhum dos setores tem uma visão completa da situação".
"Se os agentes de ameaças híbridas continuarem a gastar mais do que os países democráticos no espaço da informação, a disseminação de desinformação continuará e provavelmente aumentará", afirmam os autores do relatório.
"Os Estados euro-atlânticos também devem procurar mais formas de impor custos aos agressores da informação, utilizando uma variedade de ferramentas, incluindo sanções, remoções, denúncias públicas, rotulagem da desinformação e uso de legislação".
Além disso, estes países devem adotar novas ferramentas para melhorar as capacidades de deteção e monitorização da disseminação da desinformação, salientando que o uso de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) ainda é bastante incomum nesta matéria.
No questionário realizado aos 36 Estados participantes, entre os quais Portugal, 83% dos inquiridos concordam que a desinformação foi identificada como uma ameaça significativa à segurança de cada país.
Em simultâneo, 70% dos inquiridos concordam que existe uma coordenação sistematizada entre entidades governamentais para combater a desinformação.
Do que diz respeito aos principais agentes de desinformação, a Rússia aparece como a resposta mais frequente, seguida pela China, atores domésticos que disseminam desinformação estrangeira e atores domésticos que disseminam outros tipos de desinformação.
"A situação evoluiu desde os primeiros anos da renovação das campanhas de desinformação contínuas do Kremlin após 2013-14 e a subsequente reação das autoridades europeias, mas os desafios permanecem, o maior relacionado com a falta de recursos", refere a informação divulgada.
Cerca de 40% dos participantes percebem a falta de recursos, "algo particularmente preocupante num ambiente em que a Rússia tem gasto mais do que o ocidente no domínio da informação há pelo menos uma década".
A Hybrid COE é uma organização internacional autónoma que combate ameaças híbridas, que coopera estreitamente com a UE e a Nato.
No espaço da UE o seu trabalho de combate à desinformação decorre desde 2015, com a campanha EUvsDisinfo e em 2021 introduziu abordagens mais elaboradas, como as regras do FIMI (Manipulação e Interferência de Informação Estrangeira).
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