Para a cidade de cerca de 600 mil habitantes, é um desafio acolher tantos visitantes.
É a primeira vez que Glasgow recebe um evento da dimensão da 26.ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), mas os residentes da cidade têm sentimentos mistos sobre o evento.
"Claro que é uma honra que se realize aqui, mas é sobretudo uma grande chatice", confessou à agência Lusa Eric, um estudante de teatro de 22 anos, enquanto esperava esta manhã pelo autocarro.
Por causa das medidas de segurança e de controlo de trânsito, as aulas foram transferidas para um edifício diferente da escola mais longe, o que implica uma viagem mais demorada.
"Pessoalmente, penso que duas pessoas numa sala são capazes de tomar mais decisões do que 100. Em vez de falarem tanto, cada país individualmente precisa de tomar mais ações", afirma.
Pelo menos 35 mil pessoas estão inscritas para participar na conferência, a maioria representantes dos 197 países signatários do Acordo de Paris, mas também observadores e jornalistas.
Para a cidade de cerca de 600 mil habitantes, é um desafio acolher tantos visitantes.
Os quartos de hotel esgotaram meses antes do evento, forçando muitos participantes a alojar-se em Edimburgo, a cerca de 75 quilómetros ou 45 minutos no comboio, ou noutras localidades distantes de Glasgow.
Para compensar, dois navios de cruzeiro navegaram da Europa de Leste até ao rio Clyde para funcionarem como dormitórios improvisados.
Vendo uma oportunidade, muitos residentes alugaram as suas próprias casas em plataformas de alojamento local, cobrando centenas de libras por noite.
Alguns cafés e restaurantes também reforçaram o pessoal e as provisões, antecipando mais procura.
Mas o impulso à economia local é acompanhado por uma perturbação à rotina, com muitas estradas encerradas em redor do Scottish Event Campus, centro de exposições na margem do rio onde se realizam os trabalhos.
A via rápida Clydeside Expressway e uma das saídas da autoestrada M8 que liga Glasgow a Edimburgo, onde circulam diariamente milhares de carros, foram fechadas, resultando em desvios de vários quilómetros.
Por se encontrarem nas proximidades do evento, algumas escolas também foram aconselhadas a encerrar esta segunda e na terça-feira, durante a cimeira de mais de 100 chefes de Estado e de Governo.
É visível a grande presença policial, reforçada com agentes de outras partes do Reino Unido por causa da presença de líderes mundiais como o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e membros da família real britânica.
A sede da companhia de energia Scottish Power estava esta segunda-feira particularmente bem guardada e com placas de madeira em algumas portas e janelas, antecipando potenciais protestos.
Originária do Canadá mas a viver em Glasgow há 10 anos, Erin Lux não é normalmente uma ativista, mas planeia juntar-se a uma amiga do grupo Extinction Rebellion em manifestações.
Sensível à questão ambientalista, reconhece a importância de a COP26 ser presencial "porque por videoconferência não se decide nada", porém não esconde a frustração com a disrupção que o evento trouxe, nomeadamente o corte de ciclovias.
Considera também uma "afronta" que o horário de funcionamento do Metro tenha sido prolongado até às 22:00 nos dois domingos que coincidem com a conferência, quando normalmente fecha às 18:00.
"Andamos há anos a pedi-lo em petições. Afinal é possível e espero que tornem este horário permanente, porque promove o uso de transportes públicos', argumenta a historiadora.
No domingo, as chegadas dos delegados à conferência foram afetadas por atrasos e cancelamentos nos comboios com origem em Londres devido a danos nas linhas causados pelo mau tempo.
Como se a confusão criada pela COP26 não fosse suficiente, Glasgow está também ameaçada por greves dos trabalhadores da recolha do lixo e por protestos de ativistas ambientalistas.
Chegados esta manhã de Dorset, 650 quilómetros a sul, de onde caminharam Jonathan Herbert e Hilary Bond consideram importante colocar pressão sobre os políticos para tomarem as decisões necessárias.
A ativista sueca Greta Thunberg deverá liderar um grande protesto de milhares de jovens para um grande protesto da Greve Climática estudantil na sexta-feira.
A principal manifestação está prevista para sábado, 06 de novembro, designado como Dia Mundial pela Justiça Climática, uma marcha pela cidade de Glasgow na qual se esperam mais de 100.000 pessoas.
São também esperadas outras ações de desobediência civil, como ocupações de estradas e espaços públicos à semelhança das que tem acontecido em Londres nas últimas semanas.
"Já não nos resta muito tempo e estando todos no mesmo sítio pode fazer diferença e enviar uma mensagem forte", explica Bond, uma eclesiástica que se vai juntar a outros membros da Igreja Anglicana concentrados em Glasgow.
Procurando ilustrar a urgência do momento, Herbert repete as palavras do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que esta segunda-feira disse faltar "um minuto para a meia-noite" para evitar uma catástrofe climática.
"Mas eu sou sincero", diferencia.
Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre alterações climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
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