"Gradualmente, as comissões diocesanas estão a conseguir transparecer para a comunidade uma imagem de autonomia", refere Rita Agulhas.
A coordenadora do Grupo VITA considera que a Igreja Católica portuguesa ainda tem um caminho a percorrer para recuperar a confiança da sociedade, na sequência dos abusos sexuais que ocorreram ao longo de décadas e revelados em 2023.
Rute Agulhas sublinhou, em declarações à Lusa, a evolução da Igreja na forma de lidar com a problemática dos abusos sexuais desde que integrou em 2019 a comissão diocesana de Lisboa. Agora à frente do Grupo VITA e do acompanhamento das vítimas de abusos sexuais em contexto eclesiástico, a psicóloga reconheceu, porém, tratar-se de "um processo lento" para a Igreja e suas estruturas, que disse funcionarem ainda a diferentes velocidades nesta matéria.
"Aos dias de hoje, continuo a achar que ainda há aqui um caminho a percorrer na transmissão desta confiança para a sociedade", indicou a coordenadora do grupo, salientando o trabalho em rede com diversas entidades da Igreja e, sobretudo, a atividade junto das comissões diocesanas para que consigam ganhar a confiança das vítimas.
"Gradualmente, as comissões diocesanas estão a conseguir transparecer para a comunidade uma imagem de autonomia. O facto de já não terem na sua composição elementos do clero, como tinham numa fase inicial, também foi um passo importante, que ajuda aqui a fazer um pouco esta distinção entre Igreja e depois as comissões em concreto, porque nas comissões estão profissionais como nós: médicos, psicólogos, psiquiatras, juízes, ex-inspetores da PJ", continuou.
Segundo a coordenadora, a maioria das pessoas que procuram o grupo VITA sinalizam ainda a sua desconfiança na Igreja.
"Se a Igreja era vista como uma entidade pouco confiável, com políticas e práticas de encobrimento, as comissões diocesanas seriam um espelho também dessa mesma estrutura", afirmou, destacando que agora já são as estruturas da Igreja a procurar a ajuda do grupo.
A psicóloga adiantou igualmente que o grupo VITA recebeu até quinta-feira 79 pedidos de ajuda por parte de vítimas de crimes sexuais enquanto menores ou adultos vulneráveis na esfera da Igreja Católica.
"Temos 79 pedidos de ajuda. Tínhamos 71 na segunda-feira, quando fizemos o comunicado, neste momento temos 79. O número de processos de acompanhamento mantém-se, porque estes oito processos recebidos desde o início da semana estão ainda em fase de agendamento para atendimento", esclareceu.
Os dados refletem um crescimento mais acentuado desde o relatório intercalar de atividade apresentado em dezembro, quando existiam pedidos de ajuda de 64 vítimas, mas sobretudo desde segunda-feira, perante o iminente cumprimento de um ano desde a divulgação do relatório da Comissão Independente sobre os abusos na Igreja e o anúncio da apresentação de uma proposta de indemnização às vítimas.
"Houve três 'booms' de pedidos de ajuda: logo no início, em maio, quando abrimos a linha telefónica; depois, voltou a subir em agosto, quando tivemos a Jornada Mundial da Juventude e o Papa Francisco; e agora, esta semana, com o anúncio público também de que a Conferência Episcopal Portuguesa nos tinha pedido uma proposta sobre como é que podiam ser pensados os processos de reparação financeira", observou.
Criado em abril de 2023, o Grupo VITA pode ser contactado através da linha de atendimento telefónico (915090000) ou do formulário para sinalizações no 'site' www.grupovita.pt.
O Grupo VITA surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que ao longo de quase um ano validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.
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