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Direção de escola demite-se após virem a público denúncias de alegados abusos por professores

Um dos principais visados é o ator António Capelo, que deu aulas na ACE - Escola de Artes até 2022.

11 de setembro de 2025 às 21:53

A direção da ACE -- Escola de Artes, no Porto, demitiu-se esta quinta-feira, após terem vindo a público, na última semana, testemunhos a dar conta de alegados casos de abusos por parte de professores daquela instituição ao longo de vários anos.

"A Direção da ACE -- Escola de Artes informa que, na sequência das recentes manifestações e do debate gerado em torno da nossa instituição, decidiu apresentar a sua demissão", lê-se num comunicado partilhado pelas 17:30 de esta quinta-feira nas páginas oficiais daquela escola nas redes sociais.

A direção da escola, que leciona cursos profissionais artísticos do 10.º ao 12.º ano, refere que tomou a decisão por considerar que "o presente momento exige serenidade, estabilidade e a proteção da missão e dos valores que ACE -- Escola de Artes representa".

Na semana passada começaram a ser divulgadas em páginas nas redes sociais -- nomeadamente Mais um casting e Não tenhas medo -- testemunhos de alunos e ex-alunos da ACE a darem conta de um clima de intimidação, abusos e humilhação dentro da escola e de abordagens impróprias de professores.

Um dos principais visados é o ator António Capelo, que deu aulas na ACE até 2022.

A juntar aos testemunhos partilhados nas redes sociais, surgiu um outro, tornado público pelo Bloco de Esquerda (BE).

Num comunicado divulgado na terça-feira, o partido dá conta que recebeu na semana passada, "por parte de uma pessoa, eleita local do Bloco e antigo aluno do ator António Capelo, o relato presencial de atos muito graves cometidos por este professor de teatro".

Segundo o BE, este relato, de factos alegadamente ocorridos há mais de dez anos, "é consistente com outros, citados publicamente nos últimos dias".

Contactado pela Lusa, António Capelo disse estar a ser vítima de uma "cabala", com acusações falsas, e assegura que vai lutar na justiça pela sua honra e pela verdade.

"Rejeito categoricamente qualquer tipo de ação que leve a um ato sexual com alunos. Rejeito categoricamente", declarou António Capelo à Lusa, assumindo que leu alguns dos depoimentos que vieram a público e dizendo que "alguns são um bocadinho tontos" e muitos não são de alunos seus.

"Há muita gente a falar contra mim que eu não conheço de lado nenhum", disse.

O ator, de 69 anos, atualmente a trabalhar numa telenovela em exibição na TVI, confessou que nunca se sentiu tão "injustiçado na vida", reiterando que são falsas as acusações anónimas que estão a ser publicadas nas redes sociais e contou ter apresentado uma queixa-crime no Ministério Público contra "uma página anónima no Instagram gerida por uma ex-aluna da escola ACE de Famalicão", porque diz ser "absolutamente contra este universo e este mundo que anda a julgar nas redes sociais anonimamente as pessoas", com coisas "absolutamente indescritíveis".

António Capelo assumiu à Lusa que, ao longo dos anos, convidou alunos para sua casa para "irem buscar livros" e "jantarem, porque precisavam de comer". O ator contou também que chegou a convidar alunos para viverem em sua casa, "porque não tinham onde viver".

"Alojei durante dois meses um aluno que era do Algarve, que teve um acidente no Porto, teve de ser operado a uma perna e ficou em minha casa. Tratei dele como se fosse meu filho e agora sou acusado de levar meninos para casa", afirmou o ator.

Fonte oficial da ACE Escola de Artes confirmou esta quinta-feira à Lusa que aquela instituição criou em 06 de janeiro deste ano um Canal de Denúncia, "na sequência de uma reformulação do regulamento interno da escola", não tendo até esta quinta-feira recebido nenhuma queixa através dele.

Além disso, Pedro Aparício, da direção da ACE, esclareceu que António Capelo não é professor da escola desde 2022. "Está reformado e ocupou um cargo de diretor, não executivo e não remunerado, da cooperativa ACE, até 05 de setembro passado", referiu.

Questionado pela Lusa sobre a sua demissão do cargo de diretor não executivo da ACE, António Capelo explicou que decidiu fazê-lo quando "os boatos começaram", para proteger a imagem da escola.

O ator receia agora pela sua continuidade em projetos nos quais está atualmente envolvido. António Capelo contou que na sexta-feira tinha um recital marcado na Igreja de Cedofeita (Porto) e que já foi adiado, por comum acordo das partes.

"Isto é medonho. Medonho. As pessoas que fazem isto nunca pensam no que está daquele lado", lamenta o ator, criticando o comunicado do BE, que classificou como "execrável" e do qual o partido se devia "envergonhar profundamente".

A Lusa contactou a PSP, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e a Polícia Judiciária sobre as acusações contra António Capelo, mas até ao momento não obteve respostas.

A Procuradoria-Geral da República disse à Lusa não ter nenhuma denúncia relativa ao ator.

A ACE, fundada em 1990 no Porto, com um polo em Vila Nova de Famalicão, tem 64 trabalhadores efetivos atualmente e afirma-se com "um projeto educativo de referência na formação e criação no domínio das artes do espetáculo".

Em julho, a ACE anunciou que um professor do polo de Famalicão, sobre o qual surgiram notícias de denúncias de assédio por parte de alunas e ex-alunas, "por decisão da direção, cessou o seu vínculo com a escola em abril de 2025".

O Observador ouviu alunas de várias escolas de ensino artístico, incluindo a ACE, que relataram "contactos 'persistentes' e 'desconfortáveis' por parte deste docente, incluindo enquanto eram menores de idade".

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